A crítica de D. Hume à linguagem da metafísica:
A verdade, aparentemente, sempre esteve fundada, na perspectiva do paradigma filosófico platônico-cartesiano, com um elemento ideal suprassensível (ou inteligível habitado por Ideias eternas), capaz de fornecer embasamento ao mundo empírico e suas mudanças continuadas. A investigação humeana, de caráter empirista, questiona e propõe-se a dissolver tal posicionamento, ao desconfiar da razão e da linguagem, não procurando a verdade em algo exterior ao próprio mundo.
Em sua crítica, Hume parece querer asseverar o fracasso da linguagem metafísica e sua incapacidade de produzir discursos que seriam a última palavra acerca dos fenômenos do mundo, e, portanto, como a verdade e forma de conhecimento que possa discursar sobre realidades para além daquelas fornecidas pela experiência.
O filósofo escocês se baseia na experiência para criticar a metafísica com suas ideias complexas e vazias, pois concebe que tais ideias consistem somente em composições de termos simples, oriundos da experiência. Todas as ideias advêm de impressões e de cópias de impressões, não existindo nada que seja oriundo de um mundo suprassensível, havendo assim uma inadequação entre linguagem e mundo.
Em sua crítica à metafísica, o cético Hume afirma que o ser possui somente impressões sensíveis – e suas respectivas cópias. Para ele, a imaginação são cópias das impressões sensíveis, seja por meio de sensações externas (dos cinco sentidos) ou de sentimentos (impressões internas). Isso significa que se pode afirmar que existe uma distância ontológica entre um mundo sensível e um inteligível, considerando que os pensamentos são reproduções das impressões sensíveis do ser humano.
Todo e qualquer pensamento, pretenso como verdade, deriva da experiência, se fundamenta em elementos oriundos da percepção empírica. Nas palavras de Barboza (2011, p. 19), "o pensamento complexo é composto de pensamentos simples, que por sua vez fundam-se sobre sensações e sentimentos".
É nesse sentido que a investigação humeana é uma contraposição ao discurso metafísico, pois afirma ser a experiência o guia e critério de validades para as afirmações. De igual forma, é por isso que se pode afirmar a existência de uma concordância entre o ceticismo de Hume e a afirmação de Bacon ora analisada – sem se preocupar com as posições e teses levantadas por este último.
Bacon, ao defender uma razão instrumental, faz a alusão ao quadro para afirmar que a ideia da imagem é recorrente na Filosofia. O quadro, enquanto aquilo que reflete e apresenta algo é um simulacro, uma vez que enamorar-se de uma imagem seria erro no que tange ao seu estatuto, já que o quadro apenas representa aquilo que foi projetado, ou seja, a coisa real, se perdendo a coisa real de vista. De igual forma seria a busca pela verdade por meio de objetos que absolutamente não podem ser experienciados, ou que se busque num falacioso “mundo do além”, como propõe o paradigma filosófico platônico-cartesiano ao discursar sobre questões de fato concernentes aos objetos do mundo.
Os princípios de associação de ideias:
Hume realiza uma
critica a qualquer possibilidade de metafísica como estilo de discurso que
favoreça o suprassensível e seus objetos em detrimento da experiência. Não
concebe, portanto, que a verdade seria suprassensível e que seria apreendido
pelo mero pensar e pela linguagem pura, sem embasamento empírico. Na
investigação humeana o ser humano possui limites em seu entendimento, “pois não
podemos conhecer para além do que nos é dado”. (BARBOZA, 2011, p. 22).
Nesse sentido, as ideias, os discursos,
as palavras e frases decorrem da associação de ideias, que se processam segundo
certas normas. O mesmo vale para a imaginação e para a memoria, responsáveis
pela capacidade de retomar e reinvocar as impressões e sensação. Não existe
possibilidade de acontecer encadeamentos argumentativos de forma aleatória, uma
vez existir uma maneira correta de se conectar as impressões e as memorias.
Para o filosofo escocês não se pode
distinguir os níveis de verdade entre discursos, nem diferenciar o discurso verdadeiro
da mera retórica, uma vez que tais instâncias variam apenas em grau de
assentimento, já que as mesmas se valem de ideias e pensamentos que surgem da
impressão.
Isto ponto, tem-se que as conexões
das ideias para Hume é uma critica a qualquer estilo de metafisica e de
discursos sobre o suprassensível. São considerados como os três princípios de
conexão das ideias a semelhança, a contiguidade, e a
causa e efeito.
A semelhança diz respeito à possibilidade de se procurar o
original a partir de uma cópia. A contiguidade refere-se à
circunstância ou estado daquilo que se é próximo, adjacente. E a causa
e efeito, remete-se a causalidade entre um evento A (considerado causa)
e um segundo evento B (considerado o efeito), onde o segundo evento seja uma
consequência do primeiro. Tais princípios se relacionam com a linguagem na
medida em que as ideias, por meio de conexões (em seus diferentes tipos) foram
discursos, ou seja, associam as ideias, o que explica o pensamento e suas
externalização pela linguagem.
BIBLIOGRAFIA:
BARBOSA, Jair. Hume: Linguagem e Experiência. In:
Filosofia da Linguagem II. Florianópolis: Filosofia/EAD/UFSC, 2011.
HUME, David. Tratado da natureza humana. Tradução de
Déborah Danowski. São Paulo: Ed. Unesp, 2004.
OBSERVAÇÃO:
Este texto é um resumo que produzi com o material de aula de disciplina "FILOSOFIA DA LINGUAGEM II" da Graduação em Licenciatura para Filosofia da UFLA - Universidade Federal de Lavras EaD Campus Governador Valadares, produzido em 19/11/2013.
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