segunda-feira, 19 de maio de 2014

FILOSOFIA DA CIÊNCIA: KARL POPPER E O FALSIFICACIONISMO

O presente texto é uma produção realizada a partir de um fichamento das atividades propostas na disciplina “Filosofia da Ciência” do Curso de Licenciatura em Filosofia, que realizo pela Universidade Federal de Lavras, em 19 de maio de 2014.



O indutivismo característico das ciências modernas e a crítica de Popper: a proposição de um novo critério de demarcação

“A Introdução do livro “A estrutura das revoluções científicas”, de Thomas Kuhn apresenta em linhas gerais o projeto a ser desenvolvido ao longo do livro. Para isso, o ponto de partida é deixar claro contra uma concepção tradicional da ciência herdada da revolução científica do Séc. XVII: o indutivismo como traço fundamental do pensamento científico. 

O indutivismo parte a observação como requisito primário para se construir uma teoria cientifica, necessitando de encontrar outras ocorrências que possam confirmar as hipóteses elaboradas. A teoria é sempre antecedida pela observação. A teoria se dá, portanto, a partir das observações do mundo. A partir disto, por meio das hipóteses, têm-se as generalizações, surgidas a partir da experimentação, que se tornam universalizadas, e, portanto, validas em todos os casos onde ocorrem tais hipóteses. 

Uma das criticas principais sobre tal concepção é justamente a impossível existir observações que sejam puras, uma vez que qualquer investigador sempre se influenciará por diversos instrumentos que venham utilizar, por suas próprias experiências, bem como pelas teorias que já teve contato. Além disto, critica-se que muitos dos objetos nos quais se promove generalizações não podem ser observados. 

O filosofo austríaco Popper criticava o indutivismo com seus critérios de verificação na observação para se afirmar algo como cientifico. Propõe o filosofo outro critério, a falsificabilidade, onde se tem que uma teoria pode ser cientifica a partir do momento em que ela pode ser falsificada. Para tanto, apresenta diversos níveis de falsificabilidade, a partir do nível de conhecimento do mundo por meio da observação do conteúdo empírico. Pelo filósofo, as teorias podem ser falsificadas, onde a partir da dedução das previsões empíricas pelos pressupostos é possível realizar a comparação com o que é observado, podendo também testar por meio de experimentos. 



A relação entre os diferentes níveis de universalidade e o falseamento de uma teoria:

As análises sobre teorias apresentadas por Popper no capítulo III de “A lógica da pesquisa científica” apresentam elementos estruturais de uma teoria científica, como as diferenças entre tipos de universalidades, entre nomes universais e singulares. Esses elementos sustentam a analise de Popper dos diferentes níveis de universalidade de uma teoria.

Karl Popper é um filósofo da ciência austríaco, considerado como um dos mais influentes do século XX por tematizar a ciência. É conhecido pela defesa do falsificacionismo enquanto critério de demarcação entre ciência e não ciência. 

Em sua obra “A lógica da pesquisa científica”, no capítulo III, Popper expõe sistemas teóricas, pelos quais se torna possível auxiliar o processo de captação, racionalização e de domínio, do que se pode conhecer do mundo. 

Partindo da causalidade, explicação, e da dedução das predicações, bem como das premissas da dedução, o filósofo aponta para enunciados universais e singulares para ressaltar uma regra simples que determina que não se abandone a investigação de leis universais e de sistemas teóricos coerentes. Ainda, se propõe a explicar casualmente eventos de todos os tipos possíveis. 

Em sequência, Popper analisa os enunciados universais e os singulares, destacando que há diferença entre os enunciados e as universalidades que estes podem ter, seja de ordem estrita ou numérica. De igual forma, apresenta as diferenças entre os conceitos universais e os singulares, sendo que suas condições se caracterizam como estritamente universais e existenciais.

Na concepção do filósofo, a universalidade não é una. Na realidade, possui uma variedade de níveis, de graus, razão pela qual é possível relacionar esses graus de variedade com a possibilidade da falsidade. Popper propõe que haja uma relação entre os níveis de universalidade e o falseamento de alguma hipótese, e que dessa relação, pode-se existir uma nova hipótese. Explica-se: para ele, os enunciados que apresentam a universalidade de maior nível são os axiomas. Se estes existem, é possível a existência de enunciados com menores níveis, deduzíveis a partir dos axiomas. 


O convencionalismo e as críticas de Popper a ele:

“A formulação popperiana da falseabilidade é construída em parte como resposta aos problemas apresentados pelo convencionalismo. 

O filosofo austríaco Popper criticava o indutivismo com seus critérios de verificação na observação para se afirmar algo como cientifico. Propõe o filosofo outro critério, a falsificabilidade, onde se tem que uma teoria pode ser cientifica a partir do momento em que ela pode ser falsificada. Para tanto, apresenta diversos níveis de falsificabilidade, a partir do nível de conhecimento do mundo por meio da observação do conteúdo empírico. Pelo filósofo, as teorias podem ser falsificadas, onde a partir da dedução das previsões empíricas pelos pressupostos é possível realizar a comparação com o que é observado, podendo também testar por meio de experimentos. 

Popper afirmou: “Eu vejo o convencionalismo como um sistema auto-suficiente e defensável. Não é de supor tenham êxito as tentativas de nele apontar incoerências. Contudo, e apesar disso, considero-o um sistema inaceitável”(p. 87). 

Noutras palavras, o filósofo afirmou que o convencionalismo é uma teoria autossuficiente e, portanto, ineficiente e insuficiente para os homens, a princípio. Isso se dá porque ao não se submeter ao critério de falseabilidade, não consegue avançar, encontrar a realidade. Não produzem o saber, ao contrário, propõe falsas certezas que dão espaços para autoritarismos. A concepção popperiana recusa o convencionalismo e suas práticas que pretendem deixar as teorias menos refutáveis. 

Popper pretendia justamente o contrario, uma vez que na concepção popperiana, 

“... uma lei científica altamente provável, quase vazia de falseadores potenciais (i.e., “sem enunciados básicos com os quais [a teoria] é incompatível”), é uma lei da qual, inevitavelmente, extrair-se-ão poucas inferências observáveis ou, em outras palavras, que pouco contribuirá para nos aproximar mais da verdade inatingível. Enfim, entre maquiar a distância que nos separa da realidade e investigar para descobrir o tamanho desse fosso, Popper recomenda a segunda alternativa, os convencionalistas, a primeira” (FAVERSANI, 1998, p.533)

Assim, o critério da falsificabilidade popperiana enquanto método pode ser visto como convencionalista, porem diferentes dos conversadores ao entender que os enunciados decididos por meio do consenso se apresentam de forma singular, básica, e não de forma universal. De igual forma, tal critério também se difere do falsificacionismo dogmático ao apontar que a verdade das afirmações não podem se comprovar por fatos, mas sim por meio do consenso, em alguns casos.


Popper e o problema das convenções de enunciados em ciência: sua maneira de se relaciona com a garantia de uma objetividade da base empírica.

Karl Popper, em sua obra “A lógica da pesquisa científica”, demonstrava que a validade das inferências não poderia se basear em raciocínios indutivos, nem a ciência em metodologias indutivas, uma vez que a externalidade do mundo não é suficiente para confirmar qualquer teoria que apresente enunciados universais. Tal resposta encontra-se no método hipotético-dedutivo, onde as teorias – enquanto sistemas com premissas que possuem enunciados universais, bem como condições iniciais e hipóteses auxiliares – produzem a dedução de predições, sendo estas últimas passiveis de testes empíricos. Caso sejam positivas, a teoria passa a ser momentaneamente verdadeira, até que um próximo teste o desfaça. Caso negativo, tal teoria é falsa e, portanto, refutável.

Na concepção popperiana, o mundo externo apesar de não poder dizer se as teorias científicas são verdadeiras, pode apontar se elas estão erradas. Não diz que estão corretas porque não há formas de verificação definitivas. Assim, passa a ser no erro que a realidade é alcançada. Quando se depura os erros que se chega à verdade. Não há como saber se a teoria está certa definitivamente, mas há como saber se está errada. 

Nesse contexto, a ciência é dita como o que se tem enquanto convenção. Não se trata de uma descrição naturalista, onde se diz como esta se dá a partir da realidade. Para o convencionalismo popperiano uma teoria é cientifica se apresenta predições testáveis intersubjetivamente por meio de dedução de premissas que compõem tal teoria. 

Apesar de ser possível encontrar a verdade da realidade, por meio da refutação das premissas, depurando os erros, tal refutação não é definitiva para Popper, uma vez que seu caráter é hipotético, bem como suas evidencias encontradas empíricas, baseando-se em teorias que somente podem ser refutadas, mas não verificadas. A refutação é, portanto, uma escolha de aceitação da evidencia empírica produzida por instrumentais desenvolvidos a partir de teorias, as quais a verdade será sempre indeterminável.


BIBLIOGRAFIA:

Faversani, F. Popper, Ciência e História Antiga. In: Síntese Nova Fase, Belo Horizonte, v. 25. N. 83, 1998, p. 527-550.

Popper, K. A Lógica da pesquisa científica. Capítulos IV. São Paulo: Cultrix, 1975.

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