“Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como, lamentavelmente, é o teu”.
A polêmica do mês está estampada em todos os meios de comunicação, sobretudo os virtuais. A máxima acima foi proferida pelo deputado federal do Partido Progressista, pelo Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro.
Bolsonaro é uma figura excêntrica. Saudosista dos tempos da ditadura faz uso das conquistas da democracia para expor máximas esdrúxulas que ratificam seus paradigmas discriminatórios e estigmatizantes.
Para os desatentos aos fatos, explico. No programa de televisão “CQC” da ultima segunda-feira, o nobre deputado ao participar de um quadro chamado “O povo quer saber” respondeu a seguinte pergunta feita pela cantora Preta Gil: “se seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?”
Na tentativa de amenizar sua resposta racista só fez piorar a situação. Disse ter entendido que a cantora teria perguntado o que faria se seu filho se apaixonasse por um gay. Pronto!
O filho da ditadura, nos tempos da democracia, faz uso de sua imunidade parlamentar para disparar porradas para todos os lados, atacando, sobretudo, os segmentos minoritários. Defende que a maioria deve ser conservadora, protegida das ações “minoritárias” de movimentos como os “gays”.
Sobre o racismo, como bom saudoso da época dos militares remete, mesmo que inconscientemente, ao patriarcalismo brasileiro do clássico “Casa Grande e Senzala” ao afirmar que em seu gabinete há muitos servidores afrodescendentes, e que, pelo visto, estão lá sem a necessidade de cotas. São seus “empregados” e não “escravos”.
Bolsonaro é a representação do pensamento arcaico e reacionário. Seu discurso emanado de preconceito racial, homobofia, etnocentrismo social, é realmente próprio de quem acredita na intolerância ao próximo que prega. Faz uso da liberdade de pensamento e de sua imunidade parlamentar – que necessita ser repensada – para se pôr (e levar consigo seus semelhantes) num patamar ideológico de superioridade aos demais, uma vez que estes, na concepção daqueles, são minoritários.
Pelo posicionamento dele penso que se ele for entrevistado novamente e for perguntado pela Marina Silva, poderá se posicionar pela extinção dos indígenas. Se for um deficiente o entrevistador, irá sugerir a exterminação dos “incompletos”, afinal em época de guerra a força física era, por ela mesma, a única e essencial para se fazer matanças. O que falar então da diversidade religiosa? Deixa pra lá... corre-se o risco de voltarmos ao racismo!
O pior de tudo neste caso é que, infelizmente, a figura de Bolsonaro é a representação social de muitos brasileiros. Preocupo-me em ver os comentários de internautas em alguns sites que se posicionam favoráveis a essa atitude. Muitos se vêem representados por ele – e talvez isso justifique ocupar o atual cargo – e juntos reforçam a intolerância, o desprezo, o ódio por meio de um discurso velado contra pessoas negras (afinal racismo já é crime tipificado, mesmo que de pouca aplicabilidade - como creio que será neste caso) e outro abertamente para contra todas as formas existentes dentro da diversidade sexual humana.
Em tempos de ditadura, caso Bolsonaro não responda pelo menos pelo crime de racismo, ficarão (ainda mais) claras algumas coisas: que a ditadura ainda não acabou - hoje ela não é mais de militares, mas sim de parlamentares imunes para massacrar os que discordam de seus estigmas, e que a democracia precisa repensar a liberdade de expressão de pensamento e seus efeitos – uma vez que muitos Bolsonaros estão soltos por aí.
Quanto à homofobia exagerada, na minha concepção, é necessário que Bolsonaro se auto-avalie. Homossexualidade não surgiu de 1985 para cá! Deixo para que os psicólogos contribuam com o caso.
Na realidade, o caso Bolsonaro é a oportunidade para se pensar a respeito da liberdade de expressão do pensamento e de nossos paradigmas, conceitos e preconceitos, mas, sobretudo, em nossos discursos e práticas para com os outros, muitas vezes próximos, que divergem de nós, sejam na cor ou na condição sexual.
À Bolsonaro, uma ode à dura e finita, ditadura militar!
Obs: Exatamente hoje - 31 de março - faz 47 anos que ocorreu o golpe militar. Para os militares, uma data saudosista. Para os que assim como eu são filhos da democracia é um estímulo para que outras conquistas, outros olhares e práticas políticas e sociais aconteçam, sobretudo, para que os resquícios da ditadura não se emirjam mais.
Espero que daqui a algum tempo eu possa falar: “um ode à aplicabilidade da lei que penalizou esse ato racista de Bolsonaro”.
Isso é democracia: falar o que pensa e arcar com as conseqüências, a não ser que se trate de um parlamentar/militar imune.
-> Fotografias editadas do Portal UOL
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Ei, ed! Beleza?
ResponderExcluirMuito bom texto, eu não assisti ao programa só vi os vídeos pelo youtube. E é incrível: mais chocante do que ver o deputado falando isso, é ver pessoas, inclusive algumas "esclarecidas" defendê-lo. É de deixar qualquer um boquiaberto. É um perigo quando preconceito e racismo tentam se esconder por trás da desculpa da "liberdade de expressão". É preciso lembrar que a mesma democracia que dá a liberdade de expressão também faz com que os sujeitos sejam obrigados a responder por suas palavras. Espero que isso sirva para deputados também.
Abraço!