quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A ARTE DO DESAPEGO


Desapegar-se: verbo infinitivo. Significa afastar-se de alguém ou algo, com o objetivo de manter o vínculo, mas com certa distância e cautela. Na verdade trata-se da busca da liberdade, da felicidade consciente.

Sempre chega a hora de desapegar-se do que já não é imprescindível; do que por algum momento foi importante, mas que, omissiva ou comissivamente, deixou de sê-lo; das forças do passado que não nos libertamos; do que já decidiu por ir embora e tentamos prendê-lo de alguma forma, seja pelas ações ou pelo pensamento de posse.

O desapego existe porque temos apenas posse, não propriedade. Quem tem posse não tem o controle, a convicção, a certeza de que nada se alterará. Quem tem propriedade tem a posse ou a concede à alguma outra pessoa, mas mantém o controle.

Isso vale apenas para objetos, com o ambiente. Pessoas não possuem propriedade umas sobre as outras. Possuímos, num determinado tempo, a posse dos sentimentos: afeto, amor, respeito, compreensão. A propriedade é de quem se permite ser objeto de desejo pelo outro.

O desapego é a arte de manter o vínculo, mesmo que a distância entre os seres, quando a posse desses sentimentos se altera, bem como seu contexto, a partir da decisão de quem possui, de fato, a propriedade.

Existem pessoas que insistem em querer continuar vivendo determinadas situações mesmo quando não consideram ser o melhor para si mesmas, outras permanecem nelas porque acham que ainda podem conseguir algum resultado satisfatório, mesmo quando a situação já chegou a ser insuportável. Ou ainda mesmo, se prendem pelo receio da carência, pelo temor de se sentir só, pelo sentimento de incapacidade, pela dependência na relação com o outro, pelo comodismo apesar do incômodo ou por conformismo ao se achar pequeno demais para a vida.

É com o desapego que nos conhecemos profundamente. E essa é a grandeza desse ato. O desapego nos traz novamente para nós mesmos, para nossa essência. O que era acrescido já não existe e voltamos para a esfera de início, da não experimentação do que se tornou prescindível e, portanto, desprezível.

O desapego é desafiador, é a possibilidade de crescer, de mudanças. É também a abertura para novas experiências e para novos e diferentes meios de felicidade. É o recomeçar, tendo a certeza de que o fim será diferente porque o desapego alterou o outro, o complemento, que se foi.

Desapegar é uma arte que envolve o mundo fático, o das idéias, dos sentimentos e o das crenças. É o corte. Desapegar é ensinamento para quem se desapegou sobre o amor próprio. Só se desapegam de ambientes e de pessoas aqueles que optaram pelo amor próprio.

É na verdade a luta entre o ‘eu’ e o ‘outro’ onde não se cabe empate. A arte de desapegar é a vontade concreta de dar uma nova chance a si mesmo para se viver nova experiência, sem esquecer dos aprendizados adquiridos com o que ou quem se desapegou.

É a busca pela felicidade, pela evolução, pelo progresso, deixando apenas o respeito pelo  o que se desapegou. Desapegar-se é saber que tudo passa, mas que não estamos mais presos a ninguém.



COMO CITAR ESTE ARTIGO:


NOVAES, Edmarcius Carvalho. "A Arte do Desapego". Disponível em http://www.edmarciuscarvalho.blogspot.com em 11 de agosto de 2010.


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