quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

PUBLICAÇÃO NO 1° SEMINÁRIO DE PESQUISA EM ARTE, DESIGN E COMUNICAÇÃO DA UNIVALE



Nos dias 29 e 30 de novembro de 2010 participei do 1° Seminário de Pesquisa em Arte, Design e Comunicação da UNIVALE - Universidade Vale do Rio Doce, onde foram propiciadas discussões ricas em torno de temas que refletem a efervescência da Comunicação na contemporaneidade, em um mundo globalizado, onde as novas tecnologias alteram o cotidiano das pessoas, para alunos da instituição e participantes.


Na oportunidade apresentei um trabalho científico, na categoria de painel, com o título baseado num texto produzido que publiquei neste blog no mês de outubro. O caderno de resumo do seminário já está disponível, neste link e meu material encontra-se na página 45. Abaixo transcrevo-o. Foi uma rica oportunidade de aprender mais sobre pesquisas e produções científicas, os avanços na área artística, do design e da comunicação.


Aspectos legais da acessibilidade comunicativa para pessoas com deficiência

EDMARCIUS CARVALHO NOVAES
Coordenadoria de Apoio e Assistência à Pessoa com Deficiência (CAAD)
edmarcius@hotmail.com



Palavras-chave: legislação, acessibilidade, comunicação, pessoas com deficiência

Área de Conhecimento: Linguística Aplicada - 8.01.06.00-5 



Introdução: Os meios de comunicação representam o direito à informação e entretenimento. Para as pessoas com deficiência faz-se necessário o uso de recursos de acessibilidade comunicativa para utilizá-los. Um vasto campo de textos legais legitima o direito à inexistência de qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa. Objetivo: Valorizar a acessibilidade comunicativa para pessoas com deficiência, destacando a existência de textos legais que regulamentam as formas pelas quais os recursos de acessibilidade comunicativa podem se materializar. Método: Identificação dos textos legais que garantem a existência de recursos de acessibilidade comunicativa para pessoas com deficiência, através de pesquisas jurídicas. Ao final desta etapa, foi diagnosticado o público a quem estes recursos se destinam e analisados suas modalidades, regulamentação, prazos e responsabilidades para cumprimento. Resultado: Foram identificados os seguintes textos legais: a) Lei n° 10. 098, de 19 de dezembro de 2000, que define acessibilidade comunicativa; b) Decreto n° 5.269, de 02 de dezembro de 2004, que estabelece as ações; c) Norma Brasileira ABNT NBR 15290, de 31 de outubro de 2005, que tipifica e regulamenta os recursos; d) Portaria n° 310 do Ministério das Comunicações, de 27 de junho de 2006, que estabelece prazos e responsabilidades. Conclusão: A falta de acessibilidade comunicativa, sobretudo nos canais de comunicação, não se deve, na realidade, a ausência de previsão legal. Ao contrário, o que falta é a execução do que já está posto no Direito. Para tanto, é de suma importância que os atores sociais envolvidos com o segmento das pessoas com deficiência assumam uma postura mais firme, com vistas ao cumprimento por parte dos detentores de concessão pública de serviços radiodifusão de sons e imagens.


COMO CITAR ESTE MATERIAL:


NOVAES, Edmarcius Carvalho. Aspectos Legais da Acessibilidade Comunicativa para pessoas com deficiência. 
Caderno de resumos do 1º Seminário de Pesquisa em Arte, Design e Comunicação, 29 e 30 de novembro de 2010 / projeto e coordenação geral: Rosilene Conceição Maciel.  – Governador Valadares : Ed. Univale, 2010. 45 p. Disponível em: <http://www.univale.br/central_arquivos/arquivos/caderno_sadc.pdf>

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

REFLEXÕES LINGUÍSTICAS E JURÍDICAS SOBRE A ÁUDIO-DESCRIÇÃO


Segundo a AENOR – Asociación Españhola de Normalización y Certificación (2005), a Áudio-Descrição pode ser definida como “serviço de apoio a comunicação que consiste no conjunto de técnicas e habilidades aplicadas, com o objetivo de compensar a carência da capitação da parte visual contida em qualquer tipo de mensagem, fornecendo uma informação sonora adequada que a traduza ou explique, de maneira que o possível receptor com capacidade visual diminuída perceba tal mensagem como um todo harmônico e da forma mais parecida o possível de como seria para uma pessoa que enxerga a compreenderia”.

Considerando a intensa quantidade de imagens que permeia os diferentes tipos de territórios, sejam físicos como os livros, ou mesmo virtuais, em suportes textuais como blogs, a análise da AD: Áudio-Descrição pode se dar em algumas perspectivas, sobretudo, lingüística e juridicamente.

Linguisticamente, a discussão sobre a Áudio-Descrição tem caminhado para que seja compreendida enquanto gênero textual. Tal entendimento se dá em razão do fenômeno lingüístico que a compreende enquanto conteúdo e função social. Portanto, como uma técnica de tradução e um recurso assistivo em resposta ao respeito de direitos de pessoas com deficiência visual. É vista como uma necessidade sociocomunicativa, uma forma textual específica, porém não estanque, que se situa num propósito comunicativo que visa construir uma sociedade inclusivista.

Assim, enquanto sua tipologia textual apresenta um formato próprio, com o uso de adjetivos, verbos no presente do indicativo, em voz ativa, sem expressão da impressão do áudio-descritor sobre sentimentos das personagens envolvidas, sua característica de gênero se constrói quando da sua realização pelo áudio-descritor, pois determina uma necessidade sociocomunicativa em contextos diversos como o da cultura, educação e lazer, visando à acessibilidade comunicativa de pessoas cegas ou com baixa visão nestes territórios.

A Áudio-Descrição difere-se do texto descritivo, uma vez que aquele pressupõe objetividade, ética, omissão de impressões pessoais e habilidades lingüísticas na realização de se descrever o que se vê. Já este é permeado de subjetividade enunciativa, resultante de um ato de escolha que resulta na explicitação de certos aspectos daquilo que se descreve.

É, segundo LIMA (2010), compreendida por “uma narração adicional que comunica vestimentas, linguagem corporal, e piadas visuais numa apresentação visual”, ou seja, é uma descrição objetiva que ajuda ouvintes a entender importantes elementos visuais.

Podem ser classificadas enquanto modalidades, dependendo da existência ou não de um roteiro, em:
a) AD pré-gravada, comumente usada em filmes de DVD;
b) AD ao vivo, em teatro e dança;
c) AD simultânea, em produto audiovisual que não preparação prévia, como telejornais.

Juridicamente, a Áudio-Descrição é um serviço ou tecnologia assistiva, uma modalidade de tradução áudio-visual, garantida pelo direito constitucional que equiparação de oportunidades e inclusão das pessoas com deficiência, no caso, cegas ou com baixa visão. A Lei Federal n° 10.098 de 19 de dezembro de 2000, ao estabelecer normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, apresenta como uma das categorias de barreiras à acessibilidade, as barreiras comunicativas, compreendida como qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa”. (Art. 2°, II, d).

Já o Decreto Legislativo n° 186, de 09 de julho de 2008, que aprova o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em 30 de março de 2007, reconhece o direito à acessibilidade à informações, comunicações e outros serviços, inclusive serviços eletrônicos e serviços de emergência. (Art. 9°, 1. b).

Outra regulamentação a respeito de Acessibilidade Comunicativa é a ABNT NBR 15290, de 31 de outubro de 2005, que dispõe sobre a Acessibilidade em comunicação na televisão, elaborada pelo Comitê Brasileiro de Acessibilidade (ABNT/CB-40). Por fim, regulamentando a acessibilidade comunicativa televisiva, o Ministério das Comunicações, em 27 de junho de 2008, expediu a Portaria n° 310, que aprova a Norma Complementar n° 01/2006: Recursos de acessibilidade, para pessoas com deficiência, na programação veiculada nos serviços de radiodifusão de sons e imagens e de retransmissão de televisão.

Assim, pode-se concluir que a Áudio-Descrição é um gênero textual, com diretrizes técnicas para sua produção, com fundamento na filosofia inclusivista, alicerçado juridicamente no direito à informação, por meio de tecnologia assistiva que visa a acessibilidade comunicativa, tornando acessível o conteúdo imagético que compõe os diversos contextos sociais.

Nas palavras de LIMA (2009), “trata-se de uma descrição regrada, adequada, a construir entendimento, onde antes não existia, ou era impreciso; uma descrição plena de sentidos e que mantém os atributos de ambos os elementos, do áudio e da descrição, com qualidade e independência (...), a ponte entre a imagem não vista e a imagem construída na mente de quem ouve a descrição”.


BIBLIOGRAFIA:

AENOR – Asociación Española de Normalización y Certificación. UNE – Norma Española. Audescripción para personas com discapacidad visual – requisitos para La audiodescripción y elaboración de audioguías. Madrid-España. AENOR, 2005.

Fabiana Tavares dos Santos Silva; Viviane de Bona; Andreza da Nóbrega Arruda Silva; Isis Carvalho; Elisangela Viana da Silva. Reflexões sobre o Pilar da Áudio-Descrição: "Descreva o que você vê". Revista Brasileira de Tradução Visual. Disponível em:
HTTP://www.rbtv.associadosdainclusao.com.br/index.php/.

LIMA, F.J.; VIEIRA, P. A. M. O Traço de União da Áudio-descrição: Versos e controvérsias. Vol. 1. Revista Brasileira de Tradução Visual (RBTV) 2009. Disponível em HTTP://www.rbtv.associadosdainclusao.com.br/index.php/.


NOVAES, Edmarcius Carvalho. Aspectos Legais da Acessibilidade Comunicativa para pessoas com deficiência. In: I Seminário de Pesquisa em Artes Design e Comunicação 2010. Caderno de Resumos: Arte, Design e Comunicação na contemporaneidade, Editora UNIVALE. Governador Valadares, 2010.


COMO CITAR ESTE ARTIGO:

NOVAES, Edmarcius Carvalho. EFLEXÕES LINGUÍSTICAS E JURÍDICAS SOBRE A ÁUDIO-DESCRIÇÃO. Disponível em www.edmarciuscarvalho.blogspot.com em 29 de dezembro de 2010.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

QUE PELA SUA GRAÇA



SENHOR,

Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha tempo para aprender, sem sofrer.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha a oportunidade de valorizar, sem sentir a dor.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha crescimento enquanto sua criatura, sem desfalecer.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha consciência de que não há nada melhor que seu amor.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha nítida experimentação do seu perdão.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha a libertação da vida de pecados.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha novos caminhos firmes para seguir, mas conscientemente.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha em meus lábios agradecimentos contínuos para Ti.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha em mim o engrandecimento de Seu Nome.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha uma nova vida guiada de acordo com Sua vontade.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha vitória conquistada sobre o vale da morte.


Que pela sua GRAÇA,
Eu tenha vida, vivida sempre graciosamente.

Clamo Senhor,
Que pela sua GRAÇA,
Faça-me reviver.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

HEIN?? POR MARTHA MEDEIROS

 

Crônica polêmica escrita por Martha Medeiros, no Jornal Zero Hora de 10 de julho de 2010.

“Quando meu pai ouve uma asneira muito grande, mas muito grande, ele costuma dizer: “É preferível ouvir isso do que ser surdo“, relativizando a ignorância alheia: há coisas piores na vida.

A surdez nunca me comoveu profundamente. Sempre imaginei que a deficiência auditiva seria a mais tolerável, mesmo sabendo que esse ranking é um disparate, não existe a melhor e a pior deficiência, ainda que, em segredo, todos já tenham pensado um dia: entre ser cego ou surdo, surdo toda vida.

O surdo tem recursos. Aparelhos auditivos, leitura labial, linguagem de sinais. Ele só não socializa se não quiser. E se não quiser, tem o álibi perfeito. “Desculpe, não estou escutando nada“.

Acabei de ler um livro que é o que costumo esperar de um bom livro: inteligente, divertido, humano, terno e bem escrito. Chama-se Surdo Mundo, do talentoso David Lodge, autor inglês. O título é um trocadilho deplorável, como todo trocadilho, mas não se pode querer tudo.

É a história de um professor de linguística aposentado que está perdendo a capacidade de ouvir. Ele, um aficionado pelas palavras, já não as escuta com precisão. Sua mulher está cada dia mais irritadiça por ter que repetir as frases toda hora. Seu velho pai já está meio surdo também, e além disso, caduco, o que torna as conversas entre eles totalmente nonsense. Uma aluna bonitona e sem escrúpulos entra na jogada e torna a confusão ainda maior. Mas essa confusão tem mesmo a ver com a surdez que ele sofre, ou com a surdez que ele deseja?

Estamos nos tornando surdos por gosto. As fofocas propagadas diariamente no local de trabalho, as queixas mil vezes repetidas na sala de jantar, as grosserias disparadas pelas janelas dos carros em meio ao trânsito, as angústias de sempre reprisadas nos divãs, as confissões íntimas que acabam por se banalizar: quem está a fim de ouvir quem hoje?”

Não por acaso, a personagem maluquete do livro está fazendo uma pesquisa sobre bilhetes de suicidas, pessoas que chegam ao extremo de se matar, por quê? Simplificando o que não é simples, poderíamos dizer que elas não estão sendo escutadas com a paciência e devoção que precisam. Um dia cansam de falar sozinhas.

Estamos todos muito barulhentos, virulentos, verborrágicos, ansiosos. Há muita comunicação, mas pouco conteúdo. A surdez pode ser uma deficiência física, mas pode também ser uma deficiência provocada, voluntária: cansei, não quero escutar mais nada.”.



QUERO SUA OPINIÃO:

MARTHA MEDEIROS foi feliz ou infeliz nessa crônica?

Comenta aí em baixo. Em breve, posto minha opinião!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA PROFISSÃO MESTRE

Comentei na penúltima postagem que foi publicado no mês de novembro um artigo que produzi sobre Educação de Surdos, na Revista Profissão Mestre. A Revista Profissão Mestre é uma produção mensal considerada como referência no segmento educacional, no mercado há 12 anos. Possui em seu Conselho Editoral grandes nomes da educação brasileira: Celso Antunes, Cristovam Buarque, Gabriel Chalita, Hamilton Werneck e Tania Zagury.

Quero contribuir para a divulgação deste material disponibilizando aqui este artigo. Na oportunidade quero agradecer à Editora Chefe da Revista, a jornalista Mariana Branco, pelo convite e parabenizá-la pelo trabalho desenvolvido. Se você ainda não conhece a publicação, acesse
www.profissaomestre.com.br e confira. Vale a pena! Uma ótima dica para educadores e educadoras.

Espero que vocês internautas gostem do artigo e deixem seus comentários a respeito. Amplexos!

EDUCAÇÃO DE SURDOS:
SOCIEDADE NECESSITA REPENSAR CONCEITOS E PRÁTICAS INCLUSIVAS DESSES ESTUDANTES NA ESCOLA REGULAR


A sociedade brasileira se despertou nas últimas décadas para os direitos de quarta geração, mais conhecidos como direitos das minorias, ou seja, das pessoas idosas, negras, homoafetivas e com deficiência, com destaque para as pessoas surdas e/ou deficientes auditivas.

Cabe, neste contexto, a análise de duas temáticas muito em voga. A primeira é sobre a melhor terminologia a ser utilizada para se referir a esse segmento. A outra diz respeito sobre o processo de inclusão de pessoas surdas em escolares regulares, numa perspectiva legal, porém também pragmática.


O termo “surdo-mudo” é totalmente incorreto. Os surdos que não emitem sons não possuem, necessariamente, nenhuma deficiência em relação à voz e aos instrumentos necessários para tal. A não utilização de sons se dá porque não ouvem. O surdo, quando oralizado, pode se comunicar por meio da fala, o que demandará acompanhamento fonoaudiológico prolongado. A “pessoa surda” – termo correto – que não é oralizada comunica-se, em regra, somente por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras) que, por ser uma língua visual-motora, não faz uso, portanto, de sons. Já a “pessoa com deficiência auditiva” é aquela que não tem surdez profunda, sua limitação sensorial é parcial, e que, em razão disso, sua identidade se dá como ouvinte, fazendo uso, portanto, de uma língua oralizada.

Em relação ao processo educacional, percebe-se a existência de dois posicionamentos nítidos: a integração (popularmente conhecida como inclusão) e a individualização (que reconhece a diferença linguística existente).

A legislação brasileira vem trabalhando a inclusão dessas pessoas em escolares regulares, com a justificativa na necessidade da socialização com o diferente. Nesse contexto, o papel da escola é de socializar, defrontar num mesmo território uma gama de diferenças, na perspectiva de trocas de experiências, e não essencialmente o processo de aprendizagem comum que a pessoa, no caso, surda, tem direito.

A crítica é que esse processo de inclusão de pessoas com deficiência é feita de maneira uniforme, não levando em consideração as especificidades de cada grupo. Há a rejeição do reconhecimento de uma diferença linguística e de formação em razão da língua, de uma identidade própria, específica da comunidade surda. A criança surda, quando colocada num território de escola regular, não consegue vivenciar de verdade a real interação, nem pode tomar decisões, pois ela é vista como exceção por seus colegas ouvintes.

Já a individualização, pelo contrário, entende que o processo educacional que reconhece a diferenciação linguística da pessoa surda em detrimento de todos os demais componentes do segmento com deficiência, que fazem uso da língua pátria, desenvolve-se na perspectiva de um processo educacional específico, que visa à aprendizagem e o fortalecimento da aquisição da Língua Brasileira de Sinais como a primeira língua, e da Língua Portuguesa como segunda língua.

Isso justificaria a existência ou permanência das instituições escolares específicas ou classes exclusivas para pessoas surdas. Para defensores desta linha, é muito claro que a realização da socialização também ocorre, uma vez que, neste território, o professor deixa de ser quem manda, e, portanto, há democracia. Há também a participação, por incorporar os pais dos alunos. É cooperativa, por ser um trabalho de todos, e também comunitária, por ser a comunidade dos surdos. É principalmente ativa, porque, ao tomarem decisões, fazem e aprendem, produzindo.

A inclusão de pessoas com deficiência em escolas regulares pode ser feita, desde que possível e, principalmente, desejado por tais pessoas. No entanto, como defende o posicionamento da individualização, esse processo deve ser diferenciado e cuidadoso, respeitando as diferenças específicas de cada deficiência e a possibilidade de aprendizagem de cada aprendiz. O aprendiz surdo só será educado essencialmente se sua língua materna, a Libras, for reconhecida de fato, respeitada e valorizada. Trata-se de uma diferenciação sociolinguística e não meramente física.

Edmarcius Carvalho Novaes, autor do livro SURDOS: Educação, Direito e Cidadania (WAK Editora) e gerente da Coordenadoria de Apoio e Assistência à Pessoa com Deficiência da Secretaria Municipal de Assistência Social da Prefeitura Municipal de Governador Valadares (MG). E-mail: edmarcius@hotmail.com


Como citar este artigo:

NOVAES, Edmarcius Carvalho. Educação de Surdos: Sociedade necessita repensar conceitos e práticas inclusivas desses estudantes na escola regulares. Revista Profissão Mestre, Ano 12, n°134, p. 13, 2010.

sábado, 4 de dezembro de 2010

NÃO QUERO TE TOLERAR


Tolerar. Esse é o verbo. Saramago disse que “tolerar a existência do outro e permitir que ele seja diferente ainda é muito pouco. Quando se tolera, apenas se concede, e essa não é uma relação de igualdade, mas de superioridade de um sobre o outro”.

Sabe, ele tem razão!

Quantas vezes não temos que tolerar o outro. Suas histórias, seu modo de falar, seu comportamento, suas escolhas e decisões. A tolerância é a eliminação da paridade. Não há troca na tolerância. É uma definição de posicionamentos. No momento em que me predisponho a tolerar o outro, para este quero demonstrar que o aceito como é, porém, para mim, mesmo que de forma inconsciente, quero ter a comprovação da minha superioridade, porque mesmo o outro sendo o que se apresenta, posso vê-lo como inferior a mim, e em razão disto, o aceito.

O ideal seria que não houvesse tolerância, e sim, consciência de igualdade. Afinal, no contar dos ovos, somos todos iguais. Cada um com suas diferenças, porém, no que se refere à análises mais abstratas, somos todos iguais.

Todos têm desejos de ser feliz. Todos têm defeitos e limitações. Todos são felizes em alguns aspectos e infelizes, no mínimo, em um outro aspecto. Todos têm seus pecados-capital.

Se as pessoas tivessem consciência de suas igualdades com o próximo com quem se encontram, muita coisa seria diferente. As pessoas tratariam melhor o próximo. Haveria a preocupação de fato - e não mero discurso - de realizar um exercício de alteridade. Se colocar no lugar do outro para receber o tratamento que lhe é dado seria prática comum!

A partir disto, as amizades seriam verdadeiras e não meras conveniências, onde estas - as amizades - resistem até quando há a busca pelo o que se deseja, e depois disto, resta-se a solidão sentida porque foi deixava para trás a história construída, os momentos vividos e os sentimentos aflorados.

Mas infelizmente as pessoas são muitos egoístas. Vivem para realizar seus desejos, quase sempre momentâneos. Visam o que lhes importam. E nessa lógica, o outro é um mero objeto. E como tal, descartável por falta de utilização ou por não se desejá-lo mais.


Fico pensando nas pessoas que já passaram pela minha vida. Inúmeras.

Umas poucas foram sinceras: gostavam de mim – talvez ainda nutram alguma espécie positiva de sentimento a meu respeito – porém não me iludiram prometendo os céus. Destas, tenho uma saudade positiva. A sinceridade foi o melhor de tudo.

Outras vieram estampadas no rosto seu propósito de serem momentâneas, e eu – com o egoísmo que também tenho – soube, quando me foi conveniente, aproveitar os sentimentos momentâneos destas pessoas.

Agora, outras tantas me fizeram sofrer, porque com o tempo pude perceber que houve um tipo qualquer de tolerância para comigo, pois enquanto fui útil de alguma forma, me declararam amizade eterna, amor infinito e gozo constante. Com o tempo, com a alteridade nunca desenvolvida em relação a mim, pude perceber que a prática da tolerância foi descartada – em alguns casos por não obterem seus objetivos comigo e outras por terem tido êxitos, eliminando-me a posterior.

Pensando nesse binômio ‘tolerância’ versus ‘o outro’ começo a me indagar: Será que por muito tempo não tenho sido tolerante demais me deixando ser mero outro para as pessoas, e aceitando que estas se aproximem de mim, com mil possíveis finalidades, e ferindo-me, passivamente, para após terem obtido êxito, me abandonar? Por que algumas promessas de amizades eternas, de amores infinitos não foram cumpridas?

Também pode ser que seja o contrário: ter que me tolerar pode ser um exercício árduo. Tenho consciência de que sou diferente do que habitualmente se encontra por aí. Não estou com isso fazendo juízo de valor, até porque na igualdade de todos os seres humanos está a diferença de gostos e pode ser que, mesmo que eu não tenha consciência disso, muitas pessoas gostem de mim.

Entretanto, sei também dos meus defeitos, como confiar e amar de forma excessiva nas pessoas que gosto, quando estas cruzam o meu caminho. Será que essa atitude excessiva pode se tornar um fardo para estas pessoas? Se for, isto justifica minhas decepções. Na arte de tolerar, talvez se afastar de mim seja a forma de me dizer que preciso aprender a confiar e amar menos no outro, e de dizer a si próprias que são superiores a este ser (no caso, eu), por não acreditarem e se entregarem ao amor e a confiança que lhe ofereço, tanto quanto eu, reciprocidamente!

Na verdade, na verdade, o que desejo é que as pessoas sejam sinceras comigo. Não quero que me tolerem. Espero das pessoas com as quais eu convivo que me amem ou me odeiem, se assim preferirem. Ninguém é obrigado a me amar, muito menos a me tolerar. Respeitar sendo sinceras e não tolerantes comigo, já está de bom tamanho.

Quanto ao meu amor e confiança dispensada aos outros com os quais encontro, confesso que preciso trabalhar isto melhor. Talvez assim eu sofra menos, porque, infelizmente, e de forma geral, a prática de me tolerar é exercida pela maior parte das pessoas do que a de se colocarem numa posição de igualdade. Caso fosse esta, as coisas seriam diferentes, porque quando somos iguais a sinceridade existe, e com ela, as reais intenções nos relacionamentos a serem estabelecidos são destacadas, o amor e a confiança são fins desejados e não meios utilizados para se obter o que desejam.

Não quero mais ter que tolerar ninguém. Que na minha sinceridade, nos meus próximos relacionamentos, a prática da consciência da igualdade, por meio da alteridade, me leve a amar e confiar nas pessoas, porque saberei que estas também nutrem o mesmo para comigo e não uma mera tolerância.

Não nos toleremos mais. Amemo-nos, de fato, uns aos outros! Ou então, sejamos, no mínimo, sinceros.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

VEM CHEGANDO O FIM

Vem chegando o final do ano e é hora de começar a contabilizar nossas ações e atividades durante o ano findado. E em 2010, em especial, foram muitas. No ano em que ocorreu a Copa do Mundo com a derrota da Seleção Brasileira, e as eleições, com o resultado histórico com a vitória da primeira presidente do Brasil, tive particularmente o ano mais agitado da minha vida.

No campo dos estudos comecei duas pós graduações: uma em Direito Público e outra em Língua Brasileira de Sinais e um MBA em Administração Pública e Gestão de Cidades, que só irei encerrá-los no meio de 2011. A intenção é após concluí-los, partir para o mestrado.

Além disto participei de três cursos de extensão: um em Politicas Públicas, Elaboração, Monitoreamento e Avaliação de Projetos Sociais pela UNIVALE; outro em Aspectos Gerais da Dependência Química pela Secretaria Municipal de Assistência Social; e por fim, outro sobre Aperfeiçoamento dos Gestores do SUAS pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social do Governo de Minas Gerais.

Na área da publicação, meu livro
SURDOS: EDUCAÇÃO, DIREITO E CIDADANIA pela WAK Editora, finalmente saiu do forno, hoje disponível para compra no link acima. Em anais de congressos publiquei dois artigos no VI Seminário Internacional Sociedade Inclusiva da PUC Minas: o primeiro sobre a "A Ação Afirmativa como Instrumento de Justiça Social para efetivação do Direito ao Trabalho para Pessoas com Deficiência na Administração Pública", e outro sobre "Relatório de Pesquisa sobre o Programa de Transporte Coletivo Público Gratuito para Pessoas com Deficiencia, em Governador Valadares, no ano de 2009." no VI Seminário Internacional Sociedade Inclusiva da PUC Minas.

Nos dias 29 e 30 de novembro participei do I Seminário de Pesquisa em Artes Design e Comunicação da UNIVALE, apresentando o trabalho, na modalidade de pôster sobre "Aspectos Legais da Acessibilidade Comunicativa para pessoas com deficiência". A ação surgiu após escrever uma postagem neste blog sobre o assunto.

Foi publicado na internet também um artigo que escrevi em 2008 para a edição anterior do mesmo evento. Na época pesquisei sobre o
"Direito à Saúde: O Etnocentrismo Clínico em relação à Saúde Surda".

Ainda foi publicado um artigo na edição de novembro da Revista Profissão Mestre - revista nacionalmente conceituadíssima, no segmento educacional - com o título: "EDUCAÇÃO DE SURDOS: Sociedade necessita repensar conceitos e práticas inclusivas desses estudantes na escola regular". Em breve vou publicar aqui algo especificamente a respeito.

Já no trabalho este ano foi gratificante. Muitas atividades, porém todas satisfatórias. Pude contribuir mais um ano na gerência da Coordenadoria de Apoio e Assistência à Pessoa com Deficiência - CAAD, orgão público municipal vinculado à Secretaria Municipal de Assistência Social de Governador Valadares, responsável pela articulação das políticas públicas para as pessoas com deficiência, que hoje operacionaliza quatro ações:

a) concessão do benefício social PASSE LIVRE no transporte coletivo municipal;
b) encaminhamento para o mercado de trabalho;
c) recebimento de denúncias de maus tratos e violação de direitos e encaminhamento para os órgãos do SUAS; e
d) ações de conscientização de direitos para pessoas com deficiência e sociedade civil, que neste ano se deu através de duas edições do Seminário Deficiência em Debate.

Uma das ações importantes realizadas neste ano foi o levantamento sobre o perfil social das pessoas com deficiência de Governador Valadares usuárias do maior benefício social concedido pela Política Municipal de Assistência Social, que originou o trabalho
"Relatório de Pesquisa sobre o Programa de Transporte Coletivo Público Gratuito para Pessoas com Deficiencia, em Governador Valadares, no ano de 2009 publicado no evento da PUC Minas. É a primeira pesquisa científica feita a respeito no município de forma oficial.

Ainda no vínculo com a SMAS pude contribuir neste ano com o Conselho Municipal de Assistência Social - CMAS, com o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência - CMPD e com o Conselho Municipal de Transito e Transporte - CMTT.

No primeiro a oportunidade de fortalecer o conhecimento a respeito da Política do Sistema Único de Assistência Social - SUAS e os espaços de controle social através de representantes do governo e da sociedade civil, que de forma paritária fiscalizam as políticas de assistência social e indicam caminhos para a Administração, bem como tive a oportunidade de contribuir com a Comissão de Legislação que faço parte. No segundo - CMPD - a oportunidade de começar a desenvolver as ações sob a responsabilidade do Conselho, após estruturá-lo no ano de 2009, Já no terceiro - CMTT, apesar de poucas reuniões ocorridas, pude compreender como é elaborado o Plano Diretor do Município de Governador Valadares que encontra-se em fase de aprovação legislativa.

E por fim, após três anos longe da docência, pude neste segundo semestre participar de um projeto de capacitação profissional de atendimento ao público, lecionando a disciplina de "Comunicação em Língua Brasileira de Sinais", para uma seleta e especial turma dos Correios, por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial de Governador Valadares. Experiência enriquecedora em todos os aspectos, sobretudo na oportunidade de continuar estudando e aprendendo Libras na prática de contribuir na formação das pessoas por meio do ensino.

2010 também contabiliza bons momentos, com boas viagens à Diamantina, Vila Velha e Belo Horizonte, onde pude rever pessoas queridas, conhecer outras novas e também pude me despedir da minha tia com que morei em 2008 que veio a faleceu.

Quero encerrar esta postagem com a publicação do levantamento de acessos a este meu blog. Neste ano ele tomou uma conotação mais profissional, acadêmica. Tenho meio que utilizado-o como instrumento de registro de minhas produções e de contribuição na divulgação do modesto conhecimento adquirido, por entender que socializando informações todos aprendem. Talvez isto justifique o acesso de internautas de várias partes do mundo, o que sinceramente não esperava. Aliás, peço, sobretudo aos internautas de outros países que acessarem meu blog e que gostarem do que lêem aqui, se possível, que me envie e-mail (
edmarcius@hotmail.com) ou deixe seus comentários nas postagens que acessarem e acharem interessantes.

A plataforma do blog disponibilizou nos últimos seis meses o serviço de Estatísticas, sobretudo do número de acessos por mês, os países de onde esses acessos surgiram, e o ranking das postagens mais acessadas. Vamos aos resultados:




ACESSOS SEMESTRAIS
Período: 01 de Maio a 30 de Novembro de 2010
Total de acessos: 2.570


01) Estatística por Público



Ranking por países:

BRASIL - 87,9%
EUA - 6,6%
PORTUGAL - 3,7%
HOLANDA - 0,5%
RUSSIA - 0,3%
CINGAPURA - 0,3%
CANADÁ - 0,2%
ESLOVÊNIA - 0,2%
CHINA - 0,1%
MOÇAMBIQUE - 0,1%

Os números exatados de acessos em cada país estão disponíveis na figura acima.

02) Estatística por postagens:

Pelo que pude concluir do ranking de acessos por postagens é que o tema da surdez predomina nos acessos ao blog. A temática da pessoa surda, da profissão de Tradutor-Intérprete e dos instrumentos legais e educacionais para as pessoas com deficiência formam a primeira referência do blog. O segundo tema é a questão da sexualidade, sobretudo acerca da abordagem filosófica - Foucault - e a análise da homossexualidade, feita neste blog, a partir da análise de um estudo sobre a percepção da sociedade brasileira sobre Cidadania, Direitos Humanos e Homossexualidade.

Então é isso. Acho que ainda voltarei por aqui antes de começar 2011. Mas se isso não ocorrer é porque o ano de 2010 ainda não acabou e os preparativos para as minhas tão merecidas férias estão começando, de fato. Agradeço a todos que passaram por aqui. Que 2011 também seja um ano produtivo para mim e para todos, com a graça de Deus!

sábado, 27 de novembro de 2010

REFLEXÕES ACERCA DOS PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO


De origem grega “parádeigma”, a palavra PARADIGMA literalmente significa “modelo”. Trata-se de uma representação de um padrão a ser seguido. É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma teoria, um conhecimento que origina o estudo de um campo científico, uma realização cientifica com métodos e valores que são concebidos como modelo; uma referencia inicial com base de modelo para estudos e pesquisas.

Assim, pode-se entender como um modelo mental que é adotado como sendo verdadeiro e representativo de um fato ou conjunto de acontecimentos, esquecendo-se que o ser humano ao formar seus paradigmas a partir de suas experiências, tende a generalizar as coisas a partir de poucas observações.

Segundo Thomas Kuhn “são paradigmáticas as realizações científicas que geram modelos que, por período mais ou menos longo e de modo mais ou menos explicito, orientam o desenvolvimento posterior das pesquisas exclusivamente na busca da solução para os problemas por ela suscitados”.


PRESSUPOSTOS:

A realidade é uma construção sócio-histórica e cultural tecida pelos conflitos de interesses que movem a sociedade. Assim, o conhecimento é ma leitura histórica e política sobre a realidade em um processo permanente de mudanças.

O saber escolar com seus valores, crenças, hábitos, é fruto da tensão de grupos sociais que constituem a sociedade e do nível de autonomia profissional do professor de didatizar os conhecimentos do senso comum e os conhecimentos científicos. Assim, a ação de educar sempre está a serviço consciente ou inconsciente de projetos societais, por isso entender que a educação é um espaço em disputa constante.

Uma educação escolar que visa emancipação é aquela procura construir a identidade cidadã dos alunos para que seja fortalecida a democracia participativa, cabendo ao professor construir situações didáticas provocadoras de aprendizagens que sejam significativas, que construam a subjetividade cidadã, com currículos contextualizados, integrados e globalizados, fruto de uma autonomia didático-científico do docente.


RELAÇÃO EDUCADOR E EDUCANDO:

É necessário que o educador não tenha o velho medo de errar. Quem tem medo de errar é porque não tem coragem de experimentar uma prática nova, ficando estagnado ao velho paradigma, onde se torna o “senhor dos conteúdos”, eliminando a prática de troca de saberes. É necessário que o educador esteja preparado para dizer “não sei”, tendo uma postura desarmada e aberta. Ele será referencial para o aluno, pois o professor também deve se fascinar pela pesquisa e pelo novo, construindo relações afetivas mais verdadeiras.


ALICERCES PEDAGÓGICOS:

a) Pedagogia do encantamento: construir humanidade e envolvimento profissional.
b) Educabilidade: diversidade de percursos na aprendizagem e na ensinagem.
c) Pesquisa como principio de trabalho.
d) Escola como local de aprendizagens, de multiplicidade cultural, de tensão e aberta a mudanças.
e) Trabalho em equipe como estratégia de construção e de socialização das ações educativas na escola.
f) Realidade social enquanto espaço de pesquisa e de significações dos saberes.
g) Projeto político-pedagógico como elemento que articula a prática pedagógica.
h) Compromisso social com projeto societal filiado.
i) Prática inovadora inventiva, sendo inovadora e comprometida.


A ESCOLA ENCARNADA:

Premissas básicas para uma escola sedutora, aprendizagens significativas e currículos globalizados:

a) organização do tempo e do espaço pedagógico que considere e atenda a diversidade de sujeitos e de aprendizagens.
b) organização e implementação de material e de estratégias de ensinagens que não sejam indiferentes às diferenças.
c) um plano de acompanhamento avaliativo contínuo e sistemático de trabalho pedagógico.
d) referencia para a organização do trabalho pedagógico não é a idade e nem a série, e sim o nível sociocognitivo dos aprendentes (tempo e percurso de aprendizagens e o contexto social).
e) planejamento e plano de ensinagem contextualizados, integradores de saberes e competências.

Palavras chaves: flexível; prática cultural e exercício político; vivência identitária; contextualizado, temporário, conflitivo e precário; currículo enquanto pontos de interseções dos campos dos saberes científicos e do senso comum; integrador; sistemático e caótico; problematizador, dialógico; assimétrico e contraditório.


PARADIGMAS EDUCACIONAIS DE PAULO FREIRE:

A Educação deve-se atentar para os seguintes paradigmas:

a) Valorização da cultura.
b) Homem é um ser histórico e, portanto, inacabado.
c) Educar para a conscientização.
d) Ler a palavra para ler o mundo, compreendendo sua condição de oprimido.
e) Binômio: educador-educando, educando-educador.
f) Relações afetivas, democráticas e ombreadas.
g) Coerência.

Para Paulo Freire, há três momentos claros de aprendizagem:
a) O educando se inteira daquilo que o aluno conhece para trazer a cultura dele para a sala de aula.
b) Exploração de questões relativas ao tema em discussão.
c) Problematização: ações para superar impasses da prática.

São etapas do processo de alfabetização, segundo Paulo Freire:
a) Codificação – circulo da cultura (onde os educandos respondem às questões provocadas pelo coordenador, aprofundando suas leituras do mundo: Quê? Para quê? Como? Por quê? Por quem? Para quem? Contra quê? Contra quem? A favor de quem? A favor de quê?).
b) Decodificação e descodificação.
c) Análise e síntese.
d) Fixação da leitura.
e) Problematização

A epistemologia de Paulo Freire se opõe ao paradigma positivista que entende o conhecimento como neutro, livre de valor e objetivos. Paulo Freire entende que o conhecimento e continuamente criado e recriado, assim como as pessoas refletem e agem no mundo. O conhecimento não é fixo e sim um processo dinâmico, produzido coletivamente, buscando dar sentido ao mundo. Não existe separado do como e porquê é usado, no interesse de quem.

Para Freire o conhecimento propõe-se a fazer com que as pessoas se humanizem, superando a desumanização através da resolução da contradição fundamental da nossa época: aquela entre a dominação e a libertação, conhecida como a teoria da relação entre o oprimido e o opressor. A liberdade se dá por meio do diálogo crítico, libertador que leva a reflexão e ação.


FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA EM PESQUISAS, PROJETOS DE EXTENSÃO E FORMAÇÃO:

Ocorre a partir do respeito à identidade cultural do outro.

Paulo Freire:

“A minha convicção é a de que a gente têm de partir mesmo da compreensão de como o ser humano com quem a gente trabalha compreende. Não posso chegar a área indígena e pretender que os indígenas que estão lá compreendam o mundo como eu o compreendo, com a experiência que tenho, não dá. Perguntaram-me qual era minha experiência acadêmica, de ajuda, de compreender a compreensão dele. Não vale a minha experiência acadêmica, minha sabedoria ‘pifa’ no momento em que não sou capaz de compreender a sabedoria do outro. (...) Mas respeitar a cultura do outro não significa manter o outro na ignorância sem necessidade, mas fazê-lo superar sua ignorância não significa ultrapassar os sistemas de interesses sociais e econômicos de sua cultura. É como se houvesse gente inteligente no outro planeta, noutro lugar, noutro universo, e viesse aqui, agora, e dissessem a mim que eu devo pensar da forma absolutamente contrária àquilo que penso, pois lá já se pensa diferente. Não posso me submeter a uma coisa dessas.” (2003, p.129,131)


POSSIBILIDADES DE AÇÕES PEDAGÓGICAS EFETIVAS:

a) Colocação de problemas e não apenas resolução de problemas.
b) Análise de situações problema.
c) Explorar a não-neutralidade da Educação.


O VELHO PARADIGMA DA EDUCAÇÃO:

Cabe ao professor lecionar, onde este só lê a matéria do dia. As aulas são expositivas, em que o conteúdo é quase “lido” para os alunos. O aluno é um receptor passivo, que ouve as explicações do professor (que sabe muito mais do que ele) e vai tateando em busca daquilo que acredita que o professor deve desejar que ele aprenda, diga, pense ou escreva.  A sala de aula é um ambiente de escuta e recepção, sem a possibilidade de conversas. A experiência é passada do professor para o aluno, e somente isso. O aluno aprende e estuda por obrigação. Os conteúdos curriculares são fixos, numa estrutura rígida que não prevê brechas nem modificações.

A tecnologia é desvinculada do contexto, sendo uma ameaça de substituição do homem. Os recursos são manipulados pelo professor, que prepara anteriormente o que se pode apresentar ou não. A escola é uma ilha que só comunica-se com as famílias quando necessário e não se abre a comunidade onde se está inserida.


O NOVO PARADIGMA DE EDUCAÇÃO:

O professor é o orientador do estudo. Ele orienta o processo de aprendizagem e, ao invés de pesquisar pelo aluno, ele o estimula a querer saber mais, desperta a curiosidade sobre as questões das diversas disciplinas. O aluno é o agente da aprendizagem, tornando-se um estudioso autônomo, capaz de buscar por si mesmo os conhecimentos, formar seus próprios conceitos e opiniões, responsável pelo próprio conhecimento.

A sala de aula é um ambiente de cooperação e construção em que, embora se conheçam as individualidades, ninguém fica isolado e todos desejam partilhar o conhecimento. Há a troca de experiência entre aluno/aluno e professor/aluno. O aluno aprende e estuda por motivação. Existe prazer na busca dos novos conhecimentos. Aprender é crescer. Os conteúdos curriculares atendem a uma estrutura flexível e aberta, em que cada aluno pode traçar os próprios caminhos.

A tecnologia está dentro do contexto, como meio, instrumento incorporado. O professor a utiliza como estimulo à aprendizagem. É utilizado por professores e alunos. A escola é um espaço aberto e conectado com o mundo. Os alunos têm contato com a comunidade, partilham experiências com colegas de outras escolas, fazem uso da internet.


TECNOLOGIA E OS PRESSUPOSTOS DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – EAD:

O aluno é o centro do processo educativo. Possibilita a ampliação da oferta de cursos e ações de democratização, socialização, endereçabilidade e acessibilidade. Desmitifica o senso comum, promove o compromisso com o aluno. Promove a aceitação do desafio tecnológico e de aprendizagem, com a formatação de ambientes de aprendizagem diferenciados.

Possui como pressupostos:
a) construção socioindividual do processo de aprendizagem.
b) formação e qualificação permanente.
c) ênfase no aluno como sujeito real desse processo.

O uso da tecnologia faz com que os espaços de saber não estejam mais centrados na sala de aula presencial. Ensinar e aprender exigem muito mais flexibilidade, espaço temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação.

Segundo Bordenave (1987), “a idéia de que a educação só é possível quando o professor e o aluno acham-se fisicamente no mesmo lugar vem do tempo em que a palavra, o gesto e o desenho eram os únicos meios de comunicação disponíveis”.

A tecnologia, neste contexto, segundo Mata (1995), deve ser entendida “como processo lógico de planejamento, de elaboração de currículos, métodos, procedimentos e meios que conduzam a aprendizagem”.

Andrade (1193) considera como novas tecnologias “todas as técnicas de modo original na solução de problemas, sejam elas invenções ou comportamentos, recentes ou não”.


CONCEPÇÕES DE APRENDIZAGEM:

a) Aprendizagem Tradicional: O conhecimento é um objeto. É algo que pode ser transmitido do professor para o aluno.

b) Aprendizagem Construtivista: É uma construção humana de significados que procura fazer sentido do seu mundo.

c) Aprendizagem Autônoma: O processo de ensino é centrado no aluno. As experiências são aproveitadas como recurso. O professor deve assumir-se como mais um recurso ao aluno. O aluno é considerado como ser autônomo, gestor do seu processo de aprendizagem.


GLOBALIZAÇÃO:

Segundo Giddens (1987) não é apenas um fenômeno econômico. É um sistema de transformação do espaço e do tempo. A interconexão global intensificada gera mudanças das relações tempo/espaço que têm conseqüências nos modos de operar a sociedade.


EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO CONTINUADA:

Segundo Nóvoa, “os programas educacionais fornecem a ocasião de aprender saberes e técnicas, de partilhar experiências e preocupações, mas a formação não é o resultado previsível de uma ação educativa. A formação é infinitamente mais global e complexa: constrói-se ao longo de toda uma trajetória de vida e passa-se por fases e etapas que é ilusório pretender ‘queimar’.”


BASES TEÓRICAS DA CAPACITAÇÃO DAS PESSOAS:

 A educação das pessoas deve passar por:

a) antropologia.
b) filosofia.
c) política.
d) economia e administração.
e) A influencia das TIC.
f) Psicologia e Desenvolvimento Humano.



PARADIGMAS HISTÓRICO-SOCIAIS:

Moraes (1997) apresenta um paralelo de várias correntes de pensamento no contexto histórico-social a partir dos séculos XVII, XVIII e XIX:

a) Paradigma Tradicional: Revolução Cientifica, Iluminismo, Revolução Industrial.
b) Paradigma Industrial: Luta competitiva pela própria existência. Fez com que a educação supervalorizasse algumas disciplinas, trazendo a idéia de que os fenômenos complexos necessitam ser divididos em partes para serem compreendidos.
c) Movimento da Escola Nova: No século XX, a escola percebe a importância do aluno no processo, devendo o ensino dar-se pela ação e não pela instrução.

Com a ruptura do paradigma visa-se “construir um modelo educacional capaz de gerar novos ambientes de aprendizagens em que o ser humano fosse compreendido em sua multidimensionalidade, como um ser indiviso em sua totalidade, com seus diferentes estilo de aprendizagem e suas distintas formas de resolver problemas”. (Moraes, 1997,p. 17)


SOLUÇÃO DE PROBLEMAS:

É um dos recursos mais acessíveis para levar os alunos a aprender a aprender. Supõe dotar os alunos da capacidade de aprender a aprender, de questionar e ir buscar respostas, de construir autonomia. Cria o habito e a atitude de enfrentar a aprendizagem como um problema para o qual deve ser encontrada uma resposta, bem como ensina a propor problemas para si mesmo e a resolvê-los. Prepara mais adequadamente para desenvolver habilidades e estratégias eficientes para buscar respostas para os problemas do cotidiano do processo produtivo-rotineiros ou inusitados.



GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO:

Instalação dos Conselhos de Escola num processo de construção ascendente: Lei 3.776/92.

A Constituição da Republica em seu artigo 206 afirma: “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: VI – a gestão democrática do ensino público, na forma da Lei”.

A LDB/96 em seu artigo 3° dispõe que: “o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: VIII – a gestão democrático do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino”. Já o artigo 14 afirma que os sistemas de ensino definirão as normas de GD, com: “participação dos profissionais da educação na elaboração da proposta pedagógica (inciso I), participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”. Por fim, o Artigo 15 determina que “os sistemas de ensino assegurarão às escolas progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira”.

Dilema entre a democracia real e a democracia formal:

Segundo Chauí (1997, p. 141), “se a tradição do pensamento democrático, democracia significa: a) igualdade, b) soberania popular, c) preenchimento de exigências constitucionais, d) reconhecimento do direito da maioria, e) liberdade, torna-se obvia a fragilidade democrática no capitalismo”.

A gestão democrática dá importância a uma descoberta ser original. Assim, a gestão democrática seria um novo modo de administrar a realidade em si mesmo, democrática, que se traduz pela comunicação, pelo envolvimento coletivo e pelo diálogo.

A gestão democrática preocupa-se com a realidade escolar. Até os anos 80 o empresariado exigia do Estado apenas trabalhadores alfabetizados. Hoje exige-se com novos conteúdos e métodos de ensino: conhecimento, valores e habilidade que vão alem da memorização e dos conhecimentos tradicionalmente transmitidos pela escola ou do simples adestramento para a profissão.

Como construir a gestão democrática entre sujeitos e as instâncias de participação?


 

Gestão democrática de qualidade social:


Que educação queremos?  Uma mercadoria ou um direito? Uma educação que promova mudanças, transformações ou que procure a manutenção do existente? Uma educação que promova a emancipação ou a subordinação?



EDUCAÇÃO ESCOLAR E INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

Definição dada por Howard Gardner.


EDUCAÇÃO ESCOLAR: È uma dimensão fundante da cidadania e tal principio é indispensável para participação de todos nos espaços sociais e políticos e para (re)inserção qualificada no mundo profissional do trabalho.

INTELIGÊNCIA ESPACIAL: Capacidade de perceber o mundo visual e espacial de forma precisa, de manipular formas ou objetos mentalmente e, a partir das percepções, criar e compor uma representação visual ou espacial.

INTELIGÊNCIA LOGICO-MATEMÁTICA: Determina a habilidade para raciocínio dedutivo, em sistemas matemáticos, em noções de quantidade, alem da capacidade para solucionar problemas envolvendo números e demais elementos matemáticos.

INTELIGÊNCIA CINESTÉSICA OU CORPORAL-CINESTÉSICA: Refere a habilidade para resolver problemas ou criar produtos através do uso de parte ou de todo o corpo.

INTELIGÊNCIA INTERPESSOAL: Habilidade para entender e responder adequadamente a temperamentos, motivações e desejos de outras pessoas.

INTELIGÊNCIA LINGUISTICA: Habilidade para lidar criativamente com as palavras nos diferentes níveis de linguagem (semântica, sintaxe).

INTELIGÊNCIA MUSICAL: Habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma discriminação de sons, habilidade para perceber sensibilidade para ritmos, timbre, e habilidade para reproduzir musica.

INTELIGÊNCIA INTRAPESSOAL: Competência de uma pessoa para conhecer-se e estar bem consigo mesma, administrando seus sentimentos e emoções a favor de seus projetos^

INTELIGÊNCIA NATURALISTA: Habilidade humana de reconhecer objetos da natureza, de distinguir plantas, animais, rochas. Indispensável para a sobrevivência do ambiente natural.


Leonardo Boff, em 2003, afirmou que “há um novo paradigma de cidadania. A escola está tendo uma nova dimensão a partir da crise mundial e da globalização. É preciso que se cuide da formação da pessoa, tornando-a capaz de ser varias coisas, e não apenas que se formem profissionais”.



EDUCAÇÃO DE ADULTOS: RESPONSABILIDADE SOCIAL E APRENDIZAGEM TRANSFORMATIVA

É necessária uma aprendizagem tranformativa, onde a educação de adultos tenha como pressupostos:

a) o auto-direcionamento na aprendizagem;
b) a aprendizagem experiência;
c) a aprendizagem contextual.

A educação e formação de adultos entendida numa perspectiva de responsabilidade social parte do pressuposto de que, por meio da participação, os adultos desenvolvem ou adotam atitudes e valores e fazem julgamentos morais relacionados com os seus papeis enquanto cidadãos. Implica aprender sobre direitos e deveres dos cidadãos e também sobre como cada um pode, através do dialogo, da reflexão e da deliberação, participar na construção da sociedade.

Assim, pelo fato de existir uma potencial capacidade do individuo moldar a percepção da realidade ao seu referencial enquanto pessoal, esta perspectiva destaca a competência do indivíduo, na construção de significados, senso este um paradigma que acentua a capacidade de autonomia do sujeito.


OBSERVAÇÃO: Este texto é um resumo que eu produzi com o material de aula da disciplina Paradigmas da Educação - Núcleo Comum: Educação e Inclusão, da Pós-Graduação em LINGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS da Faculdade Educacional da Lapa / EADCON. 2010. Produzido em 27/11/2010.


COMO CITAR ESTE ARTIGO:
NOVAES, Edmarcius Carvalho. “REFLEXÕES ACERCA DOS PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO". Disponível em: http://edmarciuscarvalho.blogspot.com/2010/11/reflexoes-acerca-dos-paradigmas-da.html em 27 de novembro de 2010.