terça-feira, 20 de agosto de 2013

FILOSOFIA DA LINGUAGEM I – O ANTIPSICOLOGISMO DA LÓGICA EM KANT E JOHN STUART MILL



A Filosofia da Linguagem serve para contextualizar um problema. Para introduzir a Filosofia da Linguagem, essa e as próximas postagens, terão como discussão a crítica do psicologismo na lógica, a partir da Filosofia Moderna. A lógica não é psicologia porque a lógica é uma ciência e não como psicologia.

Kant define lógica não como ciência que estuda o pensamento, como uma psicologia portanto, mas é uma ciência a priori, universal, necessária, que estuda a forma do pensamento em geral, é uma ciência normativa e não se ocupa do fato do pensamento, mas como deveria ser a forma do pensamento em geral. 

Já John Stuart Mill defende que a lógica tem uma parte descritiva e outra prescritiva, normativa. A parte descritiva é uma parte psicologista e a prescritiva é uma ciência logica que se baseia na parte descritiva. Tendo, portanto, um tanto de psicologismo, e se separa do psicologismo com essa outra parte. Essas abordagens contextualizam o tema da disciplina.
A Filosofia Contemporânea da linguagem desenvolve-se com base em uma crítica ao psicologismo, o que está ligado à renovação da lógica e à superação da filosofia moderna da representação mental dos objetos do mundo exterior.

O ponto central da crítica ao psicologismo da lógica está em superar exatamente a separação absoluta entre o interno e o externo, definindo de forma precisa a diferença entre o subjetivo e o objetivo, entre ser e ser representado, sem que, com isso, sustente-se um primado do mundo subjetivo interno relativo ao conhecimento.

É o abandono da tese cartesiana de que o sujeito tem acesso fenomenológico privilegiado aos dados de sua consciência, e de que somente ele o tem. É a refutação da tese de que tudo a que podemos ter acesso cognitivo reduz-se a conteúdos mentais subjetivos e internos.

Por psicologismos (pois não existe somente um psicologismo), entende-se como a redução da filosofia, especialmente da lógica, à psicologia, isto é, ao estudo da vida psíquica subjetiva e de suas manifestações. Essa redução é em termos de dependência, onde a lógica depende de alguma medida da psicologia.

O psicologismo defende que, de alguma forma, há a preeminência da psicologia como estudo descritivo dos atos mentais subjetivos, sobre a lógica, que seria o estudo normativo dos mesmos atos. Alem disso defende a possibilidade, ou mesmo a necessidade da redução das regras do pensamento necessário a regras psicológicas de funcionamento da mente.

Essa disciplina estará, portanto, essa superação do modelo epistemológico da filosofia moderna, da lógica como estudo de atos mentais fundamentais do sujeito cognoscente. Para tanto, serão investidos inicialmente os filósofos Kant e John Stuart Mill, e posteriormente, de forma mais aprofundada, os filósofos Peirce, Frege, Russell e Wittgenstein.




A concepção de lógica para Kant como uma recusa do psicologismo


O filósofo escocês define a lógica enquanto “uma ciência racional não segundo a mera forma, mas segundo a matéria”, ou seja, trata-se de “uma ciência a priori das leis necessárias do pensamento”. Isso significa que a lógica se ocupa do uso correto do intelecto e da razão, não em objetos particulares, mas em geral. Para tanto, não se utiliza de critérios subjetivos, empíricos, psicológicos – e não se preocupa sobre como o intelecto pensa. Pelo contrário, a Lógica visa, objetivamente, entender sobre como o intelecto deve pensar.

Em razão disto, tem-se que a definição kantiana reflete uma recusa ao psicologismo, pois não tem por escopo o exame de como o pensamento é ou como ele acontece, de forma subjetiva e contingente. A análise é tão afastadado psicologismo e das ciências empíricas, que, para se determinar como o intelecto deve ser em todos os seus usos, Kant propõe como critérios a necessidade e a universalidade. Assim, a lógica é vista como uma teoria normativa, prescritiva, que é utilizada para se avaliar em geral, o uso do intelecto e da razão, segundo uma correção formal para que não se tenha generalizações a posteriori, próprias de psicologismos empiristas e descritivistas. 



A lógica, descritiva e normativa, em John Stuart Mill e o psicologismo


O filósofo inglês John Stuart Mill avança ao combate do psicologismo empirista. Em sua obra “Sistema de Lógica Dedutiva e Indutiva” (1843), o autor une elementos descritivos e normativos ao conceber lógica numa perspectiva behaviorista, ao apontar que a totalidade do comportamento humano, e não apenas da ciência, encontra-se sob a autoridade da lógica.

Nesse sentido, define a lógica enquanto “a ciência que trata das operações do entendimento humano na busca da verdade”, restringindo tais operações ao campo das inferências, e não às verdades conhecidas intuitivamente. Isso demonstra o utilitarismo da lógica, ou seja, a compreensão da lógica enquanto instrumental para favorecer o conhecimento, e ao mesmo tempo, aumentar o controle que se tem sobre o conhecimento.

Portanto, para Mill, é preciso que a lógica realize, em primeiro momento, sua parte descritiva - enquanto base, descrevendo o ato de pensar-, para que a partir daí sua parte normativa aconteça, determinando como pensar melhor, já que enquanto normatividade pode-se saber como pensar com mais vigor e cuidado, pela lógica.


BIBLIOGRAFIA:


KANT, Immanuel. Logik – ein Handbuch zu Vorlesung. 1799-1800. Tradução: Manual dos Cursos de Lógica Geral. Tradução, apresentação e guia de leitura de Fausto Castilho: Uberlândia; Campinas: EDUFU; IFCH-UNICAMP, 1998.


MILL, John S. Sistema de Lógica Dedutiva e Indutiva: Exposição dos princípios da prova e dos métodos de investigação científica. Trad: João Marcos Coelho. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979.


RODRIGUES, Cassiano Terra. Filosofia da Linguagem I: Guia de Estudos. Lavras: UFLA, 2013, p. 34-48.


OBSERVAÇÃO: 

Este texto é um resumo que produzi com o material de aula de disciplina “FILOSOFIA DA LINGUAGEM I” da Graduação em Licenciatura para Filosofia da UFLA – Universidade Federal de Lavras EaD Campus Governador Valadares, produzido em 18/08/2013.

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