segunda-feira, 30 de agosto de 2010

É PRECISO ENCARAR A VIDA COMO ELA APARECE



"Estive nas cinco partes do mundo e fico muito feliz pelo meu trabalho porque consegui o que jamais imaginava. Eu fiz tudo, mas queria mesmo dar uma voltinha para ver todas essas coisas bonitas que não pude ver" (Dorina Nowill, em 11/10/2009)

O Brasil perdeu na data de ontem uma de suas mais importantes mulheres: Dorina Nowill. Aos 91 anos de idade, com um histórico exemplar de contribuição para as políticas de inclusão de pessoas com deficiência, sendo mais de 60 anos dedicados à inclusão da pessoa cega ou com baixa visão, por meio de uma Fundação que leva seu nome, que juntamente com o Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro, foi a pioneira na produção de livros em Braille, com distribuição gratuita dessas obras para deficientes visuais e no desenvolvimento de técnicas mais modernas para que o cego consiga ler - como livros falados e vozes sintetizadas no computador.

Cega desde os 17 anos de idade, quando Dorina teve hemorragia em uma das retinas e os médicos não conseguiram diagnosticar o problema, acabou perdendo primeiro a visão de um olho e em quatro meses ficou totalmente cega. Foi a primeira aluna cega a matricular-se numa escola regular em São Paulo. Na época, deficientes visuais praticamente não tinham acesso à cultura e à informação por causa da falta de livros adaptados. Em 1945 conseguiu convencer a Escola Caetano de Campos, onde cursava o magistério, a implantar o primeiro curso de especialização de professores para o ensino de cegos. Após diplomar-se, viajou para os Estados Unidos com uma bolsa de estudos paga pelo governo americano para freqüentar um curso de especialização na área de deficiência visual, na Universidade de Columbia.
Quando regressou ao Brasil, concentrou esforços na fundação da primeira imprensa Braille de grande porte do País. Hoje, a editora é uma das principais fontes de renda da fundação e produz 80% dos livros do Ministério da Educação para deficientes visuais e encomendas especiais de cardápios para restaurantes, instruções de segurança de companhias aéreas, best-sellers, etc.

Dorina dedicou-se também à regulamentação da educação para cegos. Na Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, foi responsável pela criação do Departamento de Educação Especial para Cegos. Em 1961, graças a seu empenho, o direito à educação ao cego virou lei.

Entre 1961 a 1973, Dorina dirigiu o primeiro órgão nacional de educação de cegos no Brasil, criado pelo Ministério da Educação, Cultura e Desportos. Realizou programas e projetos que implantaram serviços para cegos em diversos Estados, além de eventos e campanhas para a prevenção da cegueira.
Em 1979, a professora foi eleita presidente do Conselho Mundial dos Cegos. Em 1981, Ano Internacional da Pessoa Deficiente, ela falou na Assembléia Geral das Nações Unidas como representante brasileira. Dorina também trabalhou intensamente para a criação da União Latino Americana de Cegos e foi diversas vezes premiada por seu trabalho.
Em 1989, o Congresso Nacional ratificou a Convenção 1599 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata da reabilitação, treinamento e profissionalização de cegos. Esse foi mais um desdobramento do trabalho que Dorina havia começado 18 anos antes, com o primeiro centro de reabilitação para cegos, criado por sua fundação.
O trecho inicialmente citado faz parte de uma entrevista concedido ao Portal G1, em outubro de 2009 onde relata como encarou sua experiência em ser cega: "É preciso encarar a vida como ela aparece. Não se pode disputar com a vida".

Em razão disto, Nowill se destacou na história mundial da inclusão da pessoa cega e com baixa visão, ao lutar pela inclusão destes, sem discriminação em razão de suas situações de fato. A sua atuação passou pela defesa da necessidade de disseminar o uso do sistema Braille e da necessidade de uma educação que reconhecesse essa diferenciação, fazendo, portanto, uso de equipamentos de ajuda técnica necessários específicos para tal segmento.
Entra agora para o quadro das mulheres guerreiras que deixaram seus nomes registrados na colaboração pelo reconhecimento da diferença e do respeito e amor ao próximo. Deixa seu exemplo de superação e de viver a vida de forma feliz, independentemente da forma que esta se apresentou, seja pela sua história de vida particular, casando-se, sendo esposa, mãe, avó e bivasó, ou como atriz social na construção da melhoria de vida de pessoas cegas e com baixa visão, de todo o Brasil e do mundo.
Quem não conhece sua história, pode compreender o tamanho dessa perda para as políticas de inclusão da pessoa com deficiência, sobretudo, cega e com baixa visão, acessando o site da Fundação Dorina Nowill: www.fundacaodorina.org.br.
Se Dorina Nowill não conseguiu seu desejo de poder dar uma volta em todo o mundo para ver todas as coisas bonitas, hoje é o complemento desta frase acima descrita, na mesma entrevista: “Mas conheci muita gente formidável, pessoas extraordinárias durante a minha vida”.

Dorina Nowill: pessoa extraordinária, formidável! É um prazer ter conhecido seu trabalho!

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