quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

PARA LER MICHEL FOUCAULT – PARTE 1


Esta resenha é um estudo pessoal da obra “Para Ler Michel Foucault”, de Crisoston Terto Vilas Boas, (Imprensa Universitária da UFOP:1993).

Ela se justifica pelo interesse acerca do autor analisado por Vilas Boas. Para tanto, utilizo-me da 2ª edição da obra do pesquisador, datada de 2002, em sua forma eletrônica.

Foucault é um dos filósofos da vida social contemporânea mais em voga, notadamente no meio acadêmico, por trabalhar a questão do discurso enquanto detentor de poder nas relações sociais, bem como temáticas polêmicas, sobretudo no campo da sexualidade.

Desta forma, antes mesmo de estudar as próprias obras foucaultinas, por meio de pesquisas deparei-me com esta obra que ora resenho, a qual me dedico a análise, por entender que a mesma irá apresentar-me a possibilidade de realizar uma análise macro a respeito de Michel Foucault e seus argumentos, o que muito contribuirá quando da leitura do acervo foucaultino.

A publicação do estudo da obra de Vilas Boas será disponibilizada neste espaço, em três partes: a primeira abaixo de caratér introdutório, a segunda que trabalhará a arqueologia, e a terceira com a genealogia.


PARA LER MICHEL FOUCAULT - PARTE 1





INTRODUÇÃO:



Para Pierre Bordieu, sociólogo francês, a análise da competência de um discurso se dá por meio de sua ação social, esta entendida como razão de ser e de sua eficácia além de aspectos lingüísticos e correção. A decodificação do discurso é o desvelamento dos horizontes estruturados politicamente construídos num contexto histórico, e a enunciação do discurso propõe o poder como objeto de desejo do discursor. (pág. 9)


Michel Foucault foi uma personalidade intelectual imprescindível para o entendimento da vida social contemporânea. Viveu 58 anos, tendo nascido no ano de 1926 e morrido em 1984. Propôs-se a analisar o caráter compulsivo da relação entre o discurso e poder, visando mostrar que o discurso deseja ser, ele mesmo, o portador do poder. (pág. 10)


A reflexão desta temática pode ser dividida em dois momentos, apresentados em suas obras:


1º momento: Arqueologia (1961 a 1969):


Procura estudar “as ciências do homem”, ou seja, todas as ciências onde o homem é o objeto de estudo. Interessa-se pelo devir histórico, indaga sobre o que torna possível o discurso sobre o que é cientifico ou não, como em uma determinada época é possível afirmar o falso contrariando o verdadeiro, o patológico contrariando o normal, e, o errado contrariando o certo. Em suma, propõe-se articular o ‘discurso da verdade’, analisando questões como: quem diz, como se diz, e, que instituição o diz. (pag. 12)


Suas obras significativas deste período são:
1961 – História da loucura na idade clássica;
1963 – O nascimento da clínica;
1966 – As palavras e as coisas;
1969 – A arqueologia do saber.


2º momento: Genealogia (1970 a 1984):


Essa fase apresenta as “polêmicas e combates” de Foucault. Visa à articulação do discurso enquanto saber, poder e verdade. O discurso tido como verdadeiro, para Foucault, é portador de poder. Desta forma, “o poder não possui uma identidade própria, unitária e transcendente, mas está distribuído em toda a estrutura social e é sempre produzido, socialmente produzido”. (pag. 13).


Suas obras significativas deste período são:
1971 – A ordem do discurso;
1975 – Vigiar e punir;
1976 – História da sexualidade 1: a vontade de saber;
1978 – Herculine Barbin/Diário de um hermafrodita;
1982 – A desordem das famílias;
1984 – História da sexualidade 2: o uso dos prazeres;
1984 – História da sexualidade 3: o cuidado de si.


A obra de Vilas Boas analisa ambos os momentos, sendo que se detêm na Arqueologia às obras: ‘História da loucura na idade clássica’, ‘As palavras e as coisas’ e ‘A arqueologia do saber’, e na Genealogia às obras ‘Vigiar e Punir’, ‘ História da Sexualidade 1: a vontade de saber’. (pag. 15)


Na primeira, ‘Historia da loucura na idade clássica’, Foucault procura analisar a que nível se dá a articulação do ‘discurso da verdade’, desvendando aquilo que torna possível esse próprio discurso, isto é, a episteme (forma que permite o acesso ao conhecimento num dado momento histórico). (pag. 14).


Foucault entende que a episteme é portadora de uma verdade, enquanto produto histórico, relacionando tal verdade com o poder e as instituições. Apresenta que as instituições têm sido qualificadas para determinar que tipo de discurso é verdadeiro ou falso, e que o discurso tido por verdadeiro é articulado por determinadas instâncias de poder e é, a um só tempo, portador de poder. (pag. 14)


Desta forma, Foucault objetiva explicar o modo como se produz a chamada verdade, bem como esta utiliza como recurso a história, propiciando a compreensão dos mecanismos de validação dos discursos da verdade, principalmente os discursos da ciência que tomam a história como ‘norma’ da verdade, ajudando, destarte, a desmontar os argumentos que legitimam as relações entre o poder e a produção da verdade. (pag. 14 e 15).


Tal poder que a verdade detém e a utilização da história como recurso, para Foucault não são elementos de uma vontade de reprimir, como se observa em suas obras do segundo momento – a genealogia – por considerar a existência de algo mais importante do que essa ‘hipótese repressiva’. (pag. 15)

 
Obs: Acesse a segunda parte dos estudos, sobre a Arqueologia.


COMO CITAR ESTE ARTIGO:
NOVAES, Edmarcius Carvalho. "Para ler Michel Foucault - Parte 1". Disponível em http://www.edmarciuscarvalho.blogspot.com em 11 de fevereiro de 2010.

Um comentário:

  1. "quem diz, como se diz, e, que instituição o diz".
    É fundamental esse principio de análise.

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