domingo, 24 de julho de 2011

BECAUSE WE ARE BEST FRIENDS: AMY WINEHOUSE E A DOR DA SOLIDÃO



Ela encerrou sua passagem por aqui com seus apenas 27 anos. Todo o glamour do sucesso, do impacto de suas musicas com letras fortes e seu estilo próprio que a fizeram destacar no rock internacional, não foi suficiente para deter seu maior dilema: o vício pelas drogas e pela bebida.

Mas não foram as drogas e as bebidas que a levaram. Estes foram apenas instrumentos para amenizar seu real mentor: a solidão. Todos que se entregam de corpo e alma a algum vício, seja lá qual for, assim os fazem porque no fundo, bem no fundo, se sentem sozinhos, mesmo que estejam rodeados de pessoas.

Você leitor pode ter até outras interpretações e pontos de partida para ler esse triste fim de uma história de vida. Eu fico com este. Amy sofreu da solidão, mesmo tendo família, um namorado e uma legião de fãs. Uma solidão que só ela podia sentir e lutar contra.

Hoje ouvindo suas musicas, parei mais pela melodia, na canção “Best Friends”. Fico pensando se ela não possuía um (a) único (a) best friends. Fico pensando em como a solidão dói e é cruel com as pessoas. Quando não se tem amigos de verdade ao lado tudo fica realmente mais difícil.


É a sensação de ser só você consigo mesmo no mundo que causa essa solidão. Não importa se estiver junto com tantas outras pessoas, se a festa é boa, se a comida e o ambiente são agradáveis, se a bebida é gelada, se os cigarros diversos estão garantidos. Também não importa se os sorrisos expostos nos rostos são verdadeiros ou se servem apenas para esconder outros iguais sentimentos de solidão em outros corpos. Não há utilidade saber se os sentimentos que as pessoas falam nutrir por ti é verdadeiro, já que em muitos casos, a prática demonstra o contrário. Já não importa se você é lembrado sempre e somente em momentos em que você tem ou é a pessoa útil para um determinado fim que beneficie o outro.

A dor da solidão é agonizante. Ela petrifica o coração e extermina os demais sentimentos. Ela ofusca o brilho da alegria da vida. Ela desqualifica a sensação de conquista que motiva a busca por construir uma bela história de vida. Ela faz com que tudo se transforme em vaidade, em ganhos irrisórios. Ela faz com que o medo do encontro com o fim se torne em expectativa, em horizonte próximo.

A dor da solidão é proveniente da falta de amor pelo próximo. As pessoas podem até gostar, de fato, umas das outras. O que não sabem, ou se preguiçam em fazê-lo, é demonstrar esse sentimento. É o abraço obstruído pelos braços cruzados. É o beijo relegado a um aperto de mãos. É um sorriso e um afago substituído pela acidez, muitas vezes, de uma língua felina que destrói a construção de novos contatos e o fortalecimento da sensação de ser especial para um alguém.

A dor da solidão faz com que a pessoa trilhe por dois caminhos: o fim de sua própria história por suas próprias mãos ou a entrega à instrumentos que produzirão o mesmo efeito em pouco tempo. O estado de dependência das bebidas e das drogas é no fundo o mesmo desejo de quem se vai corajosamente por meios próprios. É a desistência de continuar tentando sentir o amor de alguém por si. É cansar de esperar pelo abraço sem obstruções, pelo belo beijo afetuoso, pelo sorriso que transmita afago e sinceridade.

A dor da solidão faz com que se fique apenas o que foi construído e registrado: a voz de Amy, seu estilo de cantar, suas ações movidas pela dependência. Fica também o aprendizado para que se amem mais as pessoas, e de fato.

A dor da solidão ensina que estender a mão, enquanto o “best friend” é uma atitude que pode evitar dores maiores, irrevogáveis. Fica a certeza de que ninguém é feliz sozinho. Que pessoas precisam de pessoas, mas sinceras e de fato, amigas. Que as pessoas que amamos podem se sentir sozinhas mesmo tendo por perto muitos seres humanos como nós.

A solidão é algo tão intersubjetivo que extrapola a qualquer possibilidade de interações sociais. Fica o aprendizado que vícios são mecanismos de fuga. Eu hoje prefiro acreditar, na fuga da dor da solidão.


“Cause we are best friends right, right, right, right?  Because we are best friends right? Because we are best friends right?”

3 comentários:

  1. Belo texto. Vc ganhou uma fã incondicional. Admiro pessoas que praticam o acolhimento em seu sentido mais amplo.
    Já virei sua seguidora.

    ResponderExcluir
  2. Lindo texto, Ed... Sensível, tocante...

    Conheço muito pouco sobre Amy. Até me pediram pra escrever algo sobre ela, mas não tenho a mesma propriedade que você...

    Abraços fraternos e parabéns pelo excelente artigo!

    Alexandre Feitosa

    ResponderExcluir
  3. Sou fã de Amy, seu texto mto me agradou pela clareza, objetividade e experiência. E que a dor da solidão não nos alcance jamais. Um grande abraço!!!

    ResponderExcluir