sábado, 16 de julho de 2011

TIRANDO DÚVIDAS SOBRE LIBRAS – LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS



As perguntas abaixo fazem parte do processo avaliativo do Núcleo Específico da Pós-Graduação em Educação e Inclusão: Libras – Língua Brasileira de Sinais, da Faculdade Educacional da Lapa – PR. As respostas foram elaboradas por mim, Edmarcius Carvalho Novaes, e apresentadas no ano de 2011, obtendo nota máxima em todas. Disponibilizo para a análise de estudantes da área:


Disciplina 01: Fundamentos da Libras

Pergunta: Qual a estrutura dos elementos básicos organizados que compõem a Língua de Sinais?

Resposta:
A Língua de Sinais, conforme o material disponibilizado para a disciplina, possui alguns parâmetros para a formação de palavras e frases, dentro de um determinado contexto, sendo:
a) datilologia: é o alfabeto manual feito a partir do alfabeto da língua oral.
b) soletração rítmica: conhecido como sinal soletrado, sendo expressado com ritmo próprio a partir dos sinais.
c) configuração das mãos: é o modo de utilizar as mãos, para a formação de um ou vários sinais, dando significado à este ou estes.
d) orientação especial: é o movimento, a capacidade de situar-se corretamente na localização do corpo.
e) expressão gestual: é a expressão de pensamentos e/ou sentimentos por meio dos gestos.
f) expressão facial e corporal: a expressão das emoções, para regular a interação e para reforçar a mensagem enviada ao receptor.


Disciplina 02: Cultura Surda

Pergunta: Visto que o termo cultura surda se refere à língua de sinais, assim como às estratégias sociais e aos mecanismos compensatórios que os surdos realizam para agir no mundo e sobre ele, discuta com seus colegas de curso porque o conceito de ser surdo é comumente associado à pessoa “inferior”, “anormal” ou “deficiente”.

Resposta:
A pessoa surda é comumente denominada como inferior, anormal porque quem assim o vê e produz esse tipo de discurso de representação social, está alicerçado numa vista ouvintista. 

É a partir da ótica de um ser ouvinte, que se considera melhor, superior ao ser surdo. Não o considera como ser um diferente, com uma cultura e identidade formada diferenciada, em razão de uma modalidade de comunicação/língua espaço-visual.
 

A utilização da comunicação gestual ainda é, por muitas vezes, vistas com maus olhos. É uma prática etnocêntrica no sentido de se considerar superior ao outro porque sua língua - e no caso, a modalidade desta - é diferente da outra.
 

Além disto, os registros históricos confirmam que muitos entendiam que as pessoas com deficiência (segmento social onde as pessoas surdas estão inseridas) assim o eram em razão de pecados, destes próprios em outras vidas e/ou de seus pais, castigos divino.
 

A exclusão destes seres ditos como inferiores, anormais se deu - e os resquícios existentes hodiernos - tendo como fonte de discriminação a diferenciação lingüística.

Destarte, pode-se concluir que todas as práticas que assim consideram as pessoas surdas são etnocêntricas, com base num ouvintismo que se eleva como cultura a ser respeita e seguida, em detrimento de qualquer outra diferença.


Disciplina 03: Bilingüismo

Pergunta: Qual a língua natural dos surdos? E a língua materna? Por que se afirma que a língua natural dos surdos deveria ser considerada sua língua materna? Em que casos isso não ocorre?

Resposta:
A língua natural dos surdos é a Língua de Sinais do país onde ele vive, se for no Brasil, a Língua Brasileira de Sinais - Libras. 

A língua materna do surdo é aquela que é utilizada pelo contexto onde ele está inserido. Na maior parte das vezes, os surdos nascem em famílias de ouvintes, que desconhecem a existência ou não fazem uso da Língua de Sinais, o que faz com esse individuo surdo seja estimulado a vivenciar a oralização. Nesta perspectiva, a sua língua materna será a língua oral do país onde ele vive, no caso do Brasil, a Língua Portuguesa, língua de seus pais, de sua família.

Pode-se afirmar que a língua natural dos surdos deveria ser a sua língua materna, uma vez que se busca a disseminação, o estímulo ao conhecimento e ao uso da Língua de Sinais pelas pessoas ouvintes que convivem com pessoas surdas. Aquelas, ao conhecerem e fazerem uso da Língua de Sinais, quando da interação com estas, promoveriam que, de fato, a língua natural dos surdos fosse também, para esse contato linguístico, sua língua materna.
 

Isso não ocorre quando a família ou desconhece a existência da Língua de Sinais, ou quando não a usam, ou ainda quando se posicionam por uma perspectiva de vida onde a oralização é estimulada em detrimento da Língua de Sinais, o que fará com que ocorra a existência dessa diferença, para a vida do surdo, entre sua língua natural (a de sinais) e a sua língua materna - a oral.


Disciplina 04: Metodologias e Adaptações Curriculares

Pergunta: “As discussões curriculares que acompanham as políticas da educação Inclusiva no Brasil, orientam para uma reflexão dos processos escolares na perspectiva de transformar a escola.” Nessa perspectiva, o currículo é percebido como território político e como construção social? Justifique a sua resposta.

Resposta:
Sim. A educação inclusiva precisa ser flexível, que se concretize ao se atentar para as individualidades de cada aluno, seja este discente com ou sem deficiência. Já não se pensa como ideal uma escola rígida em seus currículos, meramente metódicos, afastados da realidade dos discentes, formal, tradicional. 

Essa necessidade de um novo olhar para a educação faz parte de uma construção social, de um novo currículo que está intrinsecamente ligada a este momento histórico onde a diversidade encontra guarita legal e educacional, onde a sociedade e as relações se estabelecem com o conhecimento do outro e com o respeito, sobretudo, de suas peculariedades.
 

É também este novo currículo um território político que está inteiramente comprometido com uma proposta de eliminação da heterogeneidade, que valorize as diferenças culturais que compõem a realidade educacional, que necessita de amplificação, tendo ligação estreita com o conhecimento e com a cultura, que se enfatiza como prática cultural de real significação para alunos sejam eles com ou sem necessidades educacionais especiais.


Disciplina 05: Básico de Língua de Sinais

Pergunta: Analisando o aprendizado que tivemos neste módulo Básico de Libras como seria o programa perfeito e eficaz de inclusão de pessoas surdas nas escolas regulares? Disserte sobre essa questão, citando exemplos práticos.

Resposta:
A proposta ideal seria do movimento que defende a inclusão, onde a escola deve se adaptar ao aluno especial desde o início de sua escolarização, assumindo um compromisso real de inclusão. Nesse processo, a pedagogia adotada é a da igualdade dentro da diversidade. Para a sua implementação, o modelo proposto é alumbrado no caleidoscópio, onde cada peça é importante para creditar a beleza e a riqueza da diversidade cultural. Nesse escola, deve-se especializar para buscar soluções visando à conservação desse aluno no espaço da sala de aula regular, levando-o a obter resultados satisfatórios em sua atuação acadêmica e social.

O contrário dessa proposta é a educação integradora, onde a escola é organizada para acolher a todos, abrangendo as pessoas com necessidades especiais. Com sustentáculo na Declaração de Salamanca, essa proposta visa a educação para todos. Não obstante, tal proposta tem encontrado oposição  uma vez que nela subjaz a criação de que é a criança quem deve se agregar à escola, devendo ser introduzida em um ambiente educacional o mesmo proibitivo possível. Assim, é a criança que deve se mostrar com conveniência para conseguir se posto na categoria regular, o que remete às formas tradicionais da educação especial.

As pessoas surdas, numa proposta de educação que defende a inclusão, tendo sua diferenciação linguística reconhecida pelos profissionais, tendo o apoio técnico e humano necessário para tal, pode obter um aprendizado satisfatório.



Disciplina 06: Intermediário de Libras

Pergunta:
Na LIBRAS, as gírias são uma parte muito interessante do discurso pois nele que se manifesta o universo metafórico da língua, no qual os sinais são "manipulados" de forma a seduzir, enganar, disfarçar, determinar. O que mais fascina na LIBRAS são os artifícios usados pelos surdos para escapar dos olhos dos demais membros do grupo, em momentos em que necessitam falar mensagens subliminares, ou secretas, a algum interlocutor. Pela visualidade que é inerente à sinalização, inúmeros sinais "discretos" são criados, reduzindo-se o espaço da sinalização ou o ponto de articulação.

Analise essa afirmação, pesquise a respeito das gírias em LIBRAS e registre o resultado de seus estudos para essa avaliação dissertativa.

Resposta:
A gíria é um fenômeno da linguagem, utilizada por certos grupos. Manifesta-se sob uma forma diferente da convencional para designar outras palavras com o intuito de fazer humor ou segredo, para aproximar pessoas ou para marcar um registro informal de comunicação.

Em relação aos surdos isso ocorre por meio da alteração do significante, mudança da categoria gramatical e criação de metáforas e metonímias que acabam expressando sua visão de mundo, refletindo ironia, agressividade ou apenas o humor.
 

Na Libras, são utilizados artifícios para escapar dos olhos dos demais membros do grupo. Pela visualidade inerente à sinalização, muitos sinais 'discretos' são criados, reduzindo-se o espaço de sinalização ou ponto de articulação, sendo comum que modifique-se os sinais usados convencionalmente. Outros sinais são intraduzíveis isoladamente, pois uma forma pode indicar inúmeros sentidos a depender do contexto.

No Blog Deficiente (http://fezago.blogspot.com/2010/10/girias-na-lingua-dos-sinais-dos-surdos.html), há uma postagem sobre o assunto que apresenta imagens/figuras exemplificativas, como: 007, 006, levar o cano, amarelo, peixe, tomada, esquentado, e outros.
 

Sueli Fernandes (lingüista, assessora técnico-pedagógica do Departamento de Educação Especial da Secretaria de Estado da Educação do Paraná e colaboradora do projeto Libras é Legal), em publicação na Revista Língua, afirma que:
 

"a riqueza da Libras repousa justamente nesses elementos que chamaríamos extralingüísticos nas línguas faladas, mas que constituem a estrutura gramatical, semântica e discursiva da língua de sinais: movimentos de sobrancelhas, jogo de olhares, menear de ombros e de cabeça, "balanço" ao sinalizar, leveza ou ênfase no movimento, duração do olhar ou do movimento no ar, maior ou menor amplitude do espaço de sinalização. Ou seja, um universo quase desconhecido para aqueles que ainda não experimentaram constituir sentidos com palavras-imagens".



Disciplina 07: Avançado de Libras

Pergunta: Analise a importância da disciplina “Avançado da Língua Brasileira de Sinais” para um conhecimento lingüístico e aponte seus benefícios. Justifique com argumentos e exemplos para ilustrar sua resposta.

Resposta: A disciplina é de suma importância para o desenvolvimento do conhecimento lingüístico uma vez que proporciona ao discente o conhecimento acerca da estrutura gramatical da Libras, nos aspectos fonológico, morfológico, sintático e semântico-pragmático, bem como a análise dos classificadores (conceituação, aplicabilidade, tipos), e ainda noções sobre o role play, o processo anafórico e a construção ideária. Finaliza com dicas sobre literatura surda, historias infantis para surdos, oficinas literárias, e discute a educação especial no contexto da pessoa surda (desde a fase do oralismo ao bilinguismo, a discussão da inclusão, o implante coclear, a surdocegueira) e finaliza com o planejamento para alunos ouvintes e alunos surdos.

Na abordagem dos aspectos tivemos o exemplo da pergunta: "Quantos anos você tem?" que em Libras seria "Idade Você - (expressão facial de interrogação)". Os classificadores, na abordagem dos seus tipos tivemos os exemplos com as letras V (para pessoas), B (para forma e tamanhos dos seres - tipos de objetos), C (objetos cilindricos e grossos), com as bochechas (para coisas grandes e grossas), dentre outros. Ainda exemplos de expressões faciais (pensativo, raiva, estranheza) e corporais (zangado, tristeza). Na parte da literatura surda fora expostas obras indicativas como as Revistas da FENEIS, Estudos Surdos de Ronice Muller. As historias infantis indicou-se "O Chapeuzinho Vermelho", "Branca de Neve e os Sete Anões", dentre outros. E para finalizar a entrevista com a Professora Rosani Suzin, que discutiu brilhantemente a Educação Especial e suas perspectivas para a surdez e a Libras. No planejamento de aula para inclusão a análise com a historia da Cinderela Surda.



Disciplina 08: Orientação para Produção Acadêmica EDI

Pergunta: A monografia, segundo Severino (1980), é o tipo de trabalho cientifico em que se "reduz sua abordagem a um único assunto, a um único problema, com um tratamento bem especificado". (SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Cortez, 1980).

Leia o material de apoio e pesquise outros materiais, construa um conceito de monografia e explique porque é importante um aluno de Pós-Graduação produzir e apresentar um trabalho monográfico ao final de seu curso.

Resposta:

Conceito de Monografia: Consiste em uma atividade de natureza científica, desenvolvido pelo pós-graduando a respeito de tema relação à especialização, sendo acompanhado de orientador. O TCC - Trabalho de Conclusão de Curso (monografia) figura como requisito obrigatório à conclusão de Curso de Pós-Graduação e atende a resolução n° 01/07 CNE/CES que normatiza o oferecimento para os Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu.

Importância para um aluno de Pós-Graduação: Por consistir em todo um processo milimetricamente planejado e desempenhado por partes, para sua fluidez, clareza, e obtenção de uma satisfatória conceituação por parte do orientador/professor regente, sua importância reside, sobretudo, para a relevante contribuição no campo científico brasileiro, que é a finalidade máxima do trabalho monográfico. Muito mais do que a pretensa obtenção do diploma, o trabalho monográfico tem sua significância ligada à proposição científica maior do aluno, enquanto futuro profissional atuante no mercado de trabalho. Deve, portanto, sintetizar a capacidade, a perspicácia, a autonomia, a técnica, o conhecimento obtidos pelo aluno ao longo do seu processo de formação acadêmica na pós-graduação.

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