segunda-feira, 7 de abril de 2014

TEORIA DO CONHECIMENTO – PARTE 1: PLATÃO




O presente texto é uma produção realizada a partir de um fichamento das atividades propostas na disciplina “Teoria do Conhecimento” do Curso de Licenciatura em Filosofia, que realizo pela Universidade Federal de Lavras, em 07 de abril de 2014.


Proposta da disciplina:

“A primazia do conhecimento sobre os demais âmbitos de realização da existência humana, no entanto, está diretamente relacionada com a apropriação do pensamento grego pela tradição subsequente e a paulatina expansão de seu pensamento filosófico-científico, este que procurava, em certa medida, romper com os princípios da narrativa mítica e com uma apropriação discursiva do real por parte do homem que fosse pautada principalmente por entes religiosos. 

A importância concedida à atividade racional e seu resultado, o conhecimento verdadeiro, pode ser vista de modo claro quando nos deparamos com a afirmação de que este é o traço distintivo do próprio homem, aquilo que o difere dos demais seres vivos existentes no mundo. De acordo com esta visão, somos humanos apenas na medida em que conhecemos verdadeiramente as coisas. Homo sapiens: o homem que sabe. Mas o que efetivamente significa conhecer? Como é possível que realizemos esta atividade de modo bem sucedido? Em que repousa a possibilidade de conhecermos de maneira inadequada? Quais são as características constitutivas do homem que o permitem conhecer? O que significa, afinal, verdade? De que modo verdade e conhecimento se relacionam? Estas são algumas questões com as quais devemos nos deparar ao longo desta disciplina de teoria do conhecimento”. (Roberta Cassiano)



A caracterização platônica do conhecimento no Teeteto:

A discussão empreendida no diálogo aporético “Teeteto”, de Platão, sobre o conhecimento e de sua possível definição, se dá com Sócrates indagando seu interlocutor Teeteto, se o ato de aprender não significava se tornar sábio, a qual obteve uma resposta positiva. Posteriormente, Sócrates pergunta-lhe se haveria diferença entre sabedoria e conhecimento, recebendo, novamente, uma resposta afirmativa. A partir disto, Sócrates manifesta à Teeteto sua inquietação com o tema, proponho-lhe uma discussão sobre a definição de conhecimento.

A primeira definição apresentada por Teeteto é que o conhecimento se baseia em coisas particulares. Sócrates o refuta – pois se assim o fosse, teria que ser utilizada tal definição o se tentar definir as coisas particulares – e refaz a pergunta a partir da perspectiva de se definir conhecimento como algo que seja comum a todas as formas de conhecimento, e não somente em casos particulares. Sócrates queria uma compreensão do que seria a essência do conhecimento.

Em sua segunda definição, o interlocutor propõe que conhecimento seja sensação, ou seja, por meio do contato com a coisa, por meio dos sentidos, pode-se conhecê-la. Sócrates refuta-o afirmando que apreensão por meio de sentidos só se produz algo que seja parecido. Caso isto fosse possível, seria necessário aceitar o que Protágoras afirmou, ou seja, que aquilo que parece, é verdadeiro para a pessoa. Sócrates não aceita que conhecimento possa seja a percepção sensorial de algo, uma vez que aquilo que é verdadeiro pode ser conhecido, e não somente percebido pelos sentidos.

Com a continuação do diálogo, Teeteto afirma que o conhecimento não pode ser representado por qualquer opinião, considerando a possibilidade da existência de opinião falsa. Propõe então que o conhecimento seja uma opinião verdadeira, ao posso que Sócrates o refuta ao definir que pensamento seja um discurso produzido pela alma para consigo mesmo, por meio de perguntas e respostas, afirmando-as ou negando-as. A opinião falsa se daria, portanto, quando se confunde duas coisas igualmente existentes, no pensamento. Para solucionar a lide, Sócrates propõe a transformação da dicotomia “saber x não saber” em “ser x não-ser”. Noutras palavras, por meio dessa transformação o filósofo demonstra a diferença entre opinião falsa e em pensar em algo que não existe, uma vez que quando se pensa algo, pensa-se em algo existente, e que quando se pensa em algo não existente, num “não-ser”, não se pensa em nada, ou melhor, não se pensa de maneira alguma.

Após toda a confusão com tal refutação de Sócrates, Teeteto empreende a elaboração do que seja conhecimento e afirma que o mesmo seja a opinião verdadeira acompanhada de explicação racional. Sócrates o refuta novamente afirmando que os elementos primitivos do que venha a ser “explicação racional” não admitem explicação sobre sua existência ou inexistência, uma vez que somente se pode nomeá-los, bem como que o conhecimento (o todo) é formado por elementos diversos, o que demandaria necessariamente conhecer todas essas partes, o que é impossível, razão pela qual não se explica o todo, tornando-o incognoscível.

A discussão é concluída sem que se defina o que seja o conhecimento, porém, sabe-se que o conhecimento não é sensação, nem opinião verdadeira, e nem opinião verdadeira aliada à explicação racional.



Contribuições aristotélicas para a teoria do conhecimento:

1) A divisão dos cinco modos de apreensão da verdade na Ética a Nicômaco: 

a) Ciência (episteme): Trata-se de juízos sobre coisas universais e necessárias, cujas conclusões e demonstrações derivam de primeiros princípios, ou seja, é o estado que permite demonstrar, se ter uma convicção, conhecendo os pontos de partida para se chegar ao conhecimento cientifico.

b) Arte (tekné): Trata-se da capacidade de produção que envolva o reto raciocínio. Relaciona-se com a geração, com a invenção, com as formas de se produzir algo que possa ser ou não ser, tendo o que produz como origem, e não quem a produz. Não diz respeito ao que se gera por necessidade, nem com as que se referem a natureza, uma vez ser uma produção e não um agir.

c) Prudência / Circunvisão (phrónesis): Trata-se da capacidade de raciocinar e agir no que se refere ao que é bom ou mau, diferindo-se da arte, uma vez que esta é excelente ao ser elaborada. Essa capacidade racional de ação em relação ao que é bom ou mau para o homem se dá na busca pelo bom tanto para si como para a vida em geral.

d) Sabedoria (sophia): Trata-se do conhecimento cientifico, da compreensão, e não da ação. É a combinação do pensamento com a ciência, com objetivos elevados. É a forma de conhecimento mais perfeita.

e) Pensamento (nous): Trata-se de onde se parte a ciência, de onde se apreende os princípios. Por meio da indução, apreende-se a verdade universal como evidente a si.



2) Os três primeiros tipos de saber (eidenai): percepção sensível (aisthesis), experiência (empeiría) e arte (techné), com base no Livro I da Metafísica.

A percepção sensível é a possibilidade de se conhecer na medida do possível, mesmo sem o apoio da ciência, é a sensibilidade de se perceber apenas o que se é dado. É dela que surge as outras. Já a experiência é a possibilidade de se conhecer as coisas mais complexas. Tem o sentido amplo, pois possibilita a experiência sensível e a abstrata. Por fim, a arte é a capacidade de produzir, baseado em regras gerais, um conhecimento sólido. É a sabedoria que vai além dos dados, encontram-se as justificativas e as causas.



O que difere conhecimento e opinião verdadeira no pensamento platônico?

Platão, por meio do diálogo aporético em tela, apresenta um diálogo empreendido por Sócrates e seu interlocutor, o matemático Teeteto, com a perspectiva principal da maiêutica, isto é, do conhecimento, objetivando-o concretizá-lo. Numa analogia à uma parteira que se experiente, que se propõe auxiliar mulheres inexperientes na hora do parto, Sócrates auxilia na tentativa de dar luz ao verdadeiro conhecimento para aqueles que tem dificuldades em produzir ideias, e para tanto, desenvolve uma reflexão filosófica com o objetivo de demonstrar as diferenças na dicotomia do falso e do verdadeiro, o que analogamente ao parto, se aplica à dor e o sofrimento seguido da alegria que se tem ao se nascer a criança.

Assim, tem-se que o conhecimento humano pode ser dividido em sensível (opinião verdadeira) ou em conhecimento racional (intelectual), sendo o primeiro particular, mutável, relativo; e o segundo, geral, universal, imutável, absoluto, responsável por contribuir para o sensível, porém, não sendo deste derivado. 

Platão se diferencia de Sócrates porque entendia ser impossível tirar o conceito de universal, imutável, absoluto do conhecimento sensível, que é justamente mutável, particular e relativo. O filósofo entendia que os conceitos se dão de forma a priori, estando no próprio espírito humano, e que são utilizados quando necessários para sustentar os sentidos para compreensão dos conceitos, não para originá-lo, mas sim para que se associá-los sempre que se depare com os sentimentos. 

Assim, em Platão o conhecimento racional é aquele onde se baseia a realidade, possui objeto próprio que são os conceitos, de forma universal e eterna. Já o conhecimento derivado do sensível é mutável, se dá com as coisas particulares, não precedi de ciência, sendo um conhecimento meramente sensível do que seja a verdade, e, portanto, inferior ao conhecimento racional. As ideias são conhecimentos sensíveis que captam somente as aparências, não sabendo o que é de fato a verdade, podendo cometer erros sem que se saiba. 

É o conhecimento racional que possibilita se alcançar o ser e a verdade. É o empírico, a realidade material em que se vive transcendido pelo conhecimento racional. Pela ciência, tal tipo de conhecimento se vincula as causas das coisas, não se satisfaz com meras sombras do que possam ser coisas, como o é o conhecimento sensível. 



BIBLIOGRAFIA:

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996. VI 2-7.

_________. Metafísica. In: Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996. I, 1-2.

PLATÃO, Teeteto. Trad. A. M. Nogueira e M. Boeri. Lisboa: Gulbenkian, 2005. 



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