terça-feira, 20 de maio de 2014

FILOSOFIA DA CIÊNCIA: THOMAS KUHN E O HISTORICISMO NA ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS

O presente texto é uma produção realizada a partir de um fichamento das atividades propostas na disciplina “Filosofia da Ciência” do Curso de Licenciatura em Filosofia, que realizo pela Universidade Federal de Lavras, em 20 de maio de 2014.



Os aspectos que caracterizam a prática da ciência normal e sua relação com o paradigma: 

"Diferentemente de Popper, Kuhn propõe que uma adequada compreensão da ciência não possa ser dada exclusivamente pela consideração de seus aspectos lógicos, mas tem de inclui uma consideração de aspectos históricos, sociais, a experiência pessoa do cientista, isso é, o contexto da descoberta é fundamental para compreender o contexto de justificação". 

O filósofo estadunidense Kuhn, em sua obra “A estrutura das revoluções científicas” (1978), demonstrou-se contra a tese positivista segundo a qual a pesquisa científica se desenvolvia sempre de forma sistemática, racionalizada, ordenada e linear. Para ele, e diferentemente de Popper, ocorrem rupturas ditas como revolucionárias, isto é, mudanças bruscas e radicais, em razão de fatores psicológicos e sociológicos que influenciam, de forma significativa, tais revoluções do processo na pesquisa científica.

Nesse contexto, Kuhn compreende o paradigma uma “realização cientifica universalmente reconhecida que, durante algum tempo, fornece problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes desse paradigma em ciência” (PORTELLA, p. 2). 

Assim, integram um paradigma teorias, instrumentos, conceitos e métodos de investigação. É o paradigma que define e regula todo o trabalho cientifico para determina área de conhecimento, incluindo, para tanto, leis e pressupostos teóricos fundamentais, regras que possam aplicar as leis ao contexto real, bem como para se usar instrumentos científicos, além de conter princípios metafísicos e filosóficos.

Tal paradigma na visão do filósofo passa por fases. A primeira fase atravessada por um paradigma é a “fase da ciência normal”, onde sua aceitação é irrestrita pela comunidade cientifica, já que a mesma responde questões pertinentes à área a qual diz respeito, e por tal razão, é aceito pelos praticantes. No entanto, no decorrer do tempo, algumas questões começam a não serem resolvidas, mas ainda assim passam a serem negligenciadas pelos praticantes, que ainda crêem no paradigma em uso enquanto seu modo de vida, de crença e de patrimônio de conhecimentos, que reluta em ressignificar.

Entretanto, numa segunda fase tida como “fase da ciência revolucionária”, em razão da quantidade de fatos que apontam para as incongruências encontradas no então paradigma aceito, passa-se a buscar por outras teorias que possam apresentar novos conceitos, instrumentais e métodos capazes de explicar as divergências percebidas. É nesse momento que ocorre a revolução científica defendida por Kuhn, quando em meio as crises, novos paradigmas substituem antigos na missão de explicar os fatos verificáveis. Para que um novo paradigma seja aceito é preciso que apresente fundamentação correta e precisa, suficientemente para que consiga aderir novos adeptos e assim criar uma nova comunidade de seguidores. 

Assim, o filósofo Kuhn contribuiu para demonstrar que a objetividade preconizada da pesquisa cientifica é afeta pelo pesquisador, sobretudo em períodos de revoluções cientificas, quando muitas de suas crenças e pesquisas são rejeitadas a partir de novos paradigmas, que propõem a compreensão do contexto em que se encontram tais pesquisas com novas justificativas.

Ressalta-se que para Kuhn, é impossível realizar comparações entre os paradigmas para que se possa concluir sobre superioridade de algum ou de possibilidade de se aproximar da verdade, em razão de sua incomensurabilidade, pois cada paradigma aponta um mundo diferente a partir de pontos de vistas diferentes. 

De igual forma, aponta que as escolhas cientificas são subjetivas porque os critérios são escolhidos a partir de analises subjetivas, uma vez serem vagos, ou porque estes podem entrar em conflito, sendo, portanto, insuficientes para determinar uma escolha objetiva de uma teoria. Questões como ideologia e prestigio interferem nas escolhas, produzindo efeitos psicológicos e sociais na pesquisa.

Portanto, pode-se concluir que para o filosofo o desenvolvimento de uma ciência não ocorre de forma racional a partir da eliminação de teorias falsas à luz de critérios objetivos. Tal desenvolvimento passa por uma sucessão de paradigmas, são escolhidos a partir da combinação entre fatores subjetivos do pesquisador e de critérios tidos como objetivos, pela comunidade científica. 



O paradigma e as novidades científicas: 

O paradigma regula a ciência normal enquanto prática que soluciona quebra-cabeças ao se propor enquanto realização cientifica aceita por uma comunidade de praticantes, que o vê enquanto fornecedor de soluções. Para tanto, utiliza-se de instrumentos, conceitos e métodos de investigação, para definir e regular todo o trabalho cientifico para uma determina área de conhecimento, incluindo, para tanto, leis e pressupostos teóricos fundamentais, bem como regras que possam aplicar leis em casos concretos, a partir de instrumentos científicos e de princípios metafísicos e filosóficos.

Tal propositura do paradigma, onde a ciência soluciona problema, se relaciona com as novidades científicas, a partir do que o filósofo Kuhn vai denominar de “ciência revolucionária”, ou seja, a possibilidade de um paradigma que, ao decorrer tempo se demonstrar insuficiente para solucionar questões que possam ser levantadas, passam a ser substituídos por novos paradigmas. 

A contribuição do filósofo supracitado é relevante por é partir dela que apesquisa cientifica deixa de ser vista como sistêmica, racional, ordenada e linear e passa a se considerar a possibilidade de rupturas bruscas e radicais, tidas como revolucionárias no processo do conhecimento científico.

É a partir de novos paradigmas, apontados sempre com fundamentação correta e precisa, que novos adeptos criam novas comunidades científicas, e levam em consideração além de critérios objetivos aceitos pelos componentes da comunidade formada pela área de conhecimento, outras análises de teor subjetivo dos próprios pesquisadores, isto é, levam em consideração fatores psicológicos e sociais na escolha de critérios no fazer pesquisa.

Assim, pode-se concluir que o conceito de verdade é sempre relativo a um paradigma, ou seja, aquilo que é verdade num paradigma pode não ser noutro.



A relação entre anomalia e descoberta: 

“A despeito de a prática da ciência normal não ser orientada para a novidade em ciência, o próprio desenvolvimento da ciência normal leva ao surgimento de novas anomalias. Algumas mesmas estão presentes já no momento de elaboração de uma teoria". 

O filósofo estadunidense Kuhn, em sua obra “A estrutura das revoluções científicas” (1978), demonstrou-se contra a tese positivista segundo a qual a pesquisa científica se desenvolvia sempre de forma sistemática, racionalizada, ordenada e linear. Para ele, e diferentemente de Popper, ocorrem rupturas tidas como revolucionárias, isto é, mudanças bruscas e radicais, em razão de fatores psicológicos e sociológicos que influenciam, de forma significativa, tais revoluções do processo na pesquisa científica. 

Nesse contexto, Kuhn compreende o paradigma uma “realização cientifica universalmente reconhecida que, durante algum tempo, fornece problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes desse paradigma em ciência” (PORTELLA, p. 2). 

Assim, o filósofo Kuhn contribuiu para demonstrar que a objetividade preconizada da pesquisa cientifica é afetada pelo pesquisador, sobretudo em períodos de revoluções cientificas, quando muitas de suas crenças e pesquisas são rejeitadas a partir de novos paradigmas, que propõem a compreensão do contexto em que se encontram tais pesquisas com novas justificativas. De igual forma, para o filósofo, o desenvolvimento de uma ciência não ocorre de forma racional a partir da eliminação de teorias falsas à luz de critérios objetivos. Tal desenvolvimento passa por uma sucessão de paradigmas, que são escolhidos a partir da combinação entre fatores subjetivos do pesquisador e de critérios tidos como objetivos, pela comunidade científica. 

Nesse processo de sucessão de paradigmas, segundo Kuhn, o que faz com as descobertas não sejam consideradas enquanto fatos isolados, mas sim que devem ser pesquisadas pelo conhecimento cientifico, é justamente a compreensão da existência da anomalia, isto é, que algo não está de acordo com a ciência normal, fazendo com que os cientistas se dediquem ao estudo da área em que tal anomalia surgira, divergindo do paradigma até então existente. 

No entanto, além de serem novos fatos, as anomalias para fazerem os cientistas entenderem que há uma nova forma de se ver o objeto de estudos, devem se dar de forma com que todos os pressupostos teóricos disponíveis não sejam suficientes para que os pesquisadores mantenham o paradigma então estabelecido, pois se isto ocorre, a anomalia inicialmente rejeitada, passa a se estabelecer enquanto ciência normal, provocando, de fato, uma mudança de paradigmas. 

É justamente quando a ciência normal aceita a anomalia produzida que se abre quantitativamente os fenômenos a disposição da análise cientifica, podendo tais cientistas aprofundar seus estudos, a partir de mudanças de crenças e procedimentos, enquanto fruto desta instalação de uma anomalia que provoca a crise e o processo de revolução cientifica proposto pelo filósofo em sua obra. 

Ressalta-se que para que essas novas teorias possam ser estabelecidas a partir da consciência desta anomalia que aponta para descobertas de novos fenômenos científicos, é preciso que tais anomalias possuam consigo promessas inquestionáveis de certeza, como todo paradigma, em seu tempo, precisa ter para se estabelecer.



A noção kuhniana de revolução científica e sua relação com a incomensurabilidade de diferentes paradigmas: 

O século XX foi marcado pela denominada revolução epistemológica, responsável por alterar o modelo vigente de racionalidade que era aceito pela comunidade cientifica à época, sobretudo, em razão do reconhecimento de fenômenos que não seguiam ao principio de incerteza (ou determinismo), bem como em razão do surgimento de teorias novas sobre a física (como a quântica). Por tal razão, o filósofo estadunidense propõe-se então a estudar tais mudanças nas ciências, e concluiu que existem momentos onde posicionamentos científicos são substituídos por outras ideias que são radicalmente novas, inclusive no que se refere aos próprios processos de suas explicações, como por exemplo, do surgimento do heliocentrismo que substituíra o geocentrismo. 

Nesse sentido, Kuhn concebe como revoluções científicas essas mudanças radicais de modelos de visão de mundo, em determinado períodos da história. Essas mudanças são as mudanças de paradigmas, isto é, de conjuntos de conceitos fundamentais, e de procedimentos padronizados, pelos quais a prática cientifica se orienta em determinada época. 

Tais mudanças de paradigmas se dão ao surgirem as anomalias, ou seja, fenômenos que não conseguem serem explicados e aceitos a partir dos padrões que regem os moldes da ciência normal de uma determinada época. O surgimento de tais anomalias produz, em meio às crises e polêmicas, a tida ciência extraordinária, que se propõe a resolver tal anomalia em meio ao confronto de hipóteses para sanar tais fenômenos. 

É nesse contexto que surge a incomensurabilidade dos paradigmas, ou seja, a partir da crise e do conflito entre as teorias da ciência normal, conservadora, com as ciências extraordinárias, inovadoras, existem duas alternativas. A primeira trata da possibilidade de alargar ou reformular o paradigma vigente, de forma que consiga solucionar as anomalias, bem como explicar os dados tidos como novos. A segunda alternativa é desenvolver uma revolução cientifica com o propósito de se impor um novo paradigma explicativo. 

A incomensurabilidade, portanto, se dá a partir do momento em que o novo paradigma se impõe, estabelecendo novas formas de se ver a verdade que seja incompatível ao paradigma anterior.


BIBLIOGRAFIA:

KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1978.

MENDES, Iba. “Anomalia e crise" em Thomas Kuhn. Acessado em 18.05.2014 no site: .

PORTELLA, Cristiano R. R. Ciência e revolução científica: objetividade científica com os homens, pelos homens e apesar dos homens. Acessado em 08.05.2014 no site: .


ACESSE TAMBÉM: 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

FILOSOFIA DA CIÊNCIA: KARL POPPER E O FALSIFICACIONISMO

O presente texto é uma produção realizada a partir de um fichamento das atividades propostas na disciplina “Filosofia da Ciência” do Curso de Licenciatura em Filosofia, que realizo pela Universidade Federal de Lavras, em 19 de maio de 2014.



O indutivismo característico das ciências modernas e a crítica de Popper: a proposição de um novo critério de demarcação

“A Introdução do livro “A estrutura das revoluções científicas”, de Karl Popper, apresenta em linhas gerais o projeto a ser desenvolvido ao longo do livro. Para isso, o ponto de partida é deixar claro contra uma concepção tradicional da ciência herdada da revolução científica do Séc. XVII: o indutivismo como traço fundamental do pensamento científico. 

O indutivismo parte a observação como requisito primário para se construir uma teoria cientifica, necessitando de encontrar outras ocorrências que possam confirmar as hipóteses elaboradas. A teoria é sempre antecedida pela observação. A teoria se dá, portanto, a partir das observações do mundo. A partir disto, por meio das hipóteses, têm-se as generalizações, surgidas a partir da experimentação, que se tornam universalizadas, e, portanto, validas em todos os casos onde ocorrem tais hipóteses. 

Uma das criticas principais sobre tal concepção é justamente a impossível existir observações que sejam puras, uma vez que qualquer investigador sempre se influenciará por diversos instrumentos que venham utilizar, por suas próprias experiências, bem como pelas teorias que já teve contato. Além disto, critica-se que muitos dos objetos nos quais se promove generalizações não podem ser observados. 

O filosofo austríaco Popper criticava o indutivismo com seus critérios de verificação na observação para se afirmar algo como cientifico. Propõe o filosofo outro critério, a falsificabilidade, onde se tem que uma teoria pode ser cientifica a partir do momento em que ela pode ser falsificada. Para tanto, apresenta diversos níveis de falsificabilidade, a partir do nível de conhecimento do mundo por meio da observação do conteúdo empírico. Pelo filósofo, as teorias podem ser falsificadas, onde a partir da dedução das previsões empíricas pelos pressupostos é possível realizar a comparação com o que é observado, podendo também testar por meio de experimentos. 



A relação entre os diferentes níveis de universalidade e o falseamento de uma teoria:

As análises sobre teorias apresentadas por Popper no capítulo III de “A lógica da pesquisa científica” apresentam elementos estruturais de uma teoria científica, como as diferenças entre tipos de universalidades, entre nomes universais e singulares. Esses elementos sustentam a analise de Popper dos diferentes níveis de universalidade de uma teoria.

Karl Popper é um filósofo da ciência austríaco, considerado como um dos mais influentes do século XX por tematizar a ciência. É conhecido pela defesa do falsificacionismo enquanto critério de demarcação entre ciência e não ciência. 

Em sua obra “A lógica da pesquisa científica”, no capítulo III, Popper expõe sistemas teóricas, pelos quais se torna possível auxiliar o processo de captação, racionalização e de domínio, do que se pode conhecer do mundo. 

Partindo da causalidade, explicação, e da dedução das predicações, bem como das premissas da dedução, o filósofo aponta para enunciados universais e singulares para ressaltar uma regra simples que determina que não se abandone a investigação de leis universais e de sistemas teóricos coerentes. Ainda, se propõe a explicar casualmente eventos de todos os tipos possíveis. 

Em sequência, Popper analisa os enunciados universais e os singulares, destacando que há diferença entre os enunciados e as universalidades que estes podem ter, seja de ordem estrita ou numérica. De igual forma, apresenta as diferenças entre os conceitos universais e os singulares, sendo que suas condições se caracterizam como estritamente universais e existenciais.

Na concepção do filósofo, a universalidade não é una. Na realidade, possui uma variedade de níveis, de graus, razão pela qual é possível relacionar esses graus de variedade com a possibilidade da falsidade. Popper propõe que haja uma relação entre os níveis de universalidade e o falseamento de alguma hipótese, e que dessa relação, pode-se existir uma nova hipótese. Explica-se: para ele, os enunciados que apresentam a universalidade de maior nível são os axiomas. Se estes existem, é possível a existência de enunciados com menores níveis, deduzíveis a partir dos axiomas. 


O convencionalismo e as críticas de Popper a ele:

“A formulação popperiana da falseabilidade é construída em parte como resposta aos problemas apresentados pelo convencionalismo. 

O filosofo austríaco Popper criticava o indutivismo com seus critérios de verificação na observação para se afirmar algo como cientifico. Propõe o filosofo outro critério, a falsificabilidade, onde se tem que uma teoria pode ser cientifica a partir do momento em que ela pode ser falsificada. Para tanto, apresenta diversos níveis de falsificabilidade, a partir do nível de conhecimento do mundo por meio da observação do conteúdo empírico. Pelo filósofo, as teorias podem ser falsificadas, onde a partir da dedução das previsões empíricas pelos pressupostos é possível realizar a comparação com o que é observado, podendo também testar por meio de experimentos. 

Popper afirmou: “Eu vejo o convencionalismo como um sistema auto-suficiente e defensável. Não é de supor tenham êxito as tentativas de nele apontar incoerências. Contudo, e apesar disso, considero-o um sistema inaceitável”(p. 87). 

Noutras palavras, o filósofo afirmou que o convencionalismo é uma teoria autossuficiente e, portanto, ineficiente e insuficiente para os homens, a princípio. Isso se dá porque ao não se submeter ao critério de falseabilidade, não consegue avançar, encontrar a realidade. Não produzem o saber, ao contrário, propõe falsas certezas que dão espaços para autoritarismos. A concepção popperiana recusa o convencionalismo e suas práticas que pretendem deixar as teorias menos refutáveis. 

Popper pretendia justamente o contrario, uma vez que na concepção popperiana, 

“... uma lei científica altamente provável, quase vazia de falseadores potenciais (i.e., “sem enunciados básicos com os quais [a teoria] é incompatível”), é uma lei da qual, inevitavelmente, extrair-se-ão poucas inferências observáveis ou, em outras palavras, que pouco contribuirá para nos aproximar mais da verdade inatingível. Enfim, entre maquiar a distância que nos separa da realidade e investigar para descobrir o tamanho desse fosso, Popper recomenda a segunda alternativa, os convencionalistas, a primeira” (FAVERSANI, 1998, p.533)

Assim, o critério da falsificabilidade popperiana enquanto método pode ser visto como convencionalista, porem diferentes dos conversadores ao entender que os enunciados decididos por meio do consenso se apresentam de forma singular, básica, e não de forma universal. De igual forma, tal critério também se difere do falsificacionismo dogmático ao apontar que a verdade das afirmações não podem se comprovar por fatos, mas sim por meio do consenso, em alguns casos.


Popper e o problema das convenções de enunciados em ciência: sua maneira de se relaciona com a garantia de uma objetividade da base empírica.

Karl Popper, em sua obra “A lógica da pesquisa científica”, demonstrava que a validade das inferências não poderia se basear em raciocínios indutivos, nem a ciência em metodologias indutivas, uma vez que a externalidade do mundo não é suficiente para confirmar qualquer teoria que apresente enunciados universais. Tal resposta encontra-se no método hipotético-dedutivo, onde as teorias – enquanto sistemas com premissas que possuem enunciados universais, bem como condições iniciais e hipóteses auxiliares – produzem a dedução de predições, sendo estas últimas passiveis de testes empíricos. Caso sejam positivas, a teoria passa a ser momentaneamente verdadeira, até que um próximo teste o desfaça. Caso negativo, tal teoria é falsa e, portanto, refutável.

Na concepção popperiana, o mundo externo apesar de não poder dizer se as teorias científicas são verdadeiras, pode apontar se elas estão erradas. Não diz que estão corretas porque não há formas de verificação definitivas. Assim, passa a ser no erro que a realidade é alcançada. Quando se depura os erros que se chega à verdade. Não há como saber se a teoria está certa definitivamente, mas há como saber se está errada. 

Nesse contexto, a ciência é dita como o que se tem enquanto convenção. Não se trata de uma descrição naturalista, onde se diz como esta se dá a partir da realidade. Para o convencionalismo popperiano uma teoria é cientifica se apresenta predições testáveis intersubjetivamente por meio de dedução de premissas que compõem tal teoria. 

Apesar de ser possível encontrar a verdade da realidade, por meio da refutação das premissas, depurando os erros, tal refutação não é definitiva para Popper, uma vez que seu caráter é hipotético, bem como suas evidencias encontradas empíricas, baseando-se em teorias que somente podem ser refutadas, mas não verificadas. A refutação é, portanto, uma escolha de aceitação da evidencia empírica produzida por instrumentais desenvolvidos a partir de teorias, as quais a verdade será sempre indeterminável.


BIBLIOGRAFIA:

Faversani, F. Popper, Ciência e História Antiga. In: Síntese Nova Fase, Belo Horizonte, v. 25. N. 83, 1998, p. 527-550.

Popper, K. A Lógica da pesquisa científica. Capítulos IV. São Paulo: Cultrix, 1975.