sábado, 16 de junho de 2012

REFLEXÕES ACERCA DA IDENTIDADE CULTURAL SURDA: UM OLHAR SOBRE O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DO OUTRO


Material da apresentação de palestra proferida no II Congresso Virtual de Psicologia, Saúde e Educação no Brasil - II CVPSE, realizado nos dias 19 e 20 de maio de 2012. Evento promovido pelo Instituto de Psicologia Ser e Crescer e pelo Programa de Mestrado em Cognição e Linguagem da Universidade Estadual Norte Fluminense de Campos dos Goytacazes - RJ.


RESUMO:

As atuais práticas discursivas sobre o processo de ensino-aprendizagem das pessoas surdas passa pela obrigatoriedade da inclusão destas no sistema de ensino regular. A importância de se compreender a conformação da identidade destes sujeitos, sobretudo na perspectiva cultural, determinará a eficácia do processo de formação de sujeitos protagonistas de suas vivências, a partir da visão de mundo diferenciada linguisticamente, em razão do uso da Libras – Língua Brasileira de Sinais. Refletir sobre a tipologia das identidades dos sujeitos surdos é lançar um novo olhar sobre o processo de ensino-aprendizagem deste outro.


APRESENTAÇÃO:

“Quero entender o que dizem. Estou enjoada de ser prisioneira desse silêncio que eles não procuram romper. Esforço-me o tempo todo, eles não muito. Os ouvintes não se esforçam. Queria que se esforçassem”. (LABOURIT, 1994, p. 39)


O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre as tipologias das identidades dos sujeitos surdos e seus impactos para o processo de ensino-aprendizagem. Para tanto, utiliza-se como método a compreensão do processo de formação da identidade dos sujeitos surdos, sobretudo na perspectiva cultural.

As práticas discursivas de inclusão da Pessoa Surda passam pelo Oralismo (onde a língua oral é defendida como instrumento de integração social) ou pelo Bilinguismo (onde o aprendizado da língua oral e da língua de sinais, reconhecendo o surdo na sua diferença e especificidade).

A legislação brasileira tem a inclusão dessas pessoas em escolares regulares. Nesse contexto, o papel da escola é de socializar, defrontar num mesmo território uma gama de diferenças, na perspectiva de trocas de experiências. Ao contrário, a proposta de individualização (Educação Bilíngue) entende que o processo educacional que reconhece a diferenciação linguística da pessoa surda, em detrimento de todos os demais componentes do segmento com deficiência que fazem uso da língua pátria, desenvolve-se de forma específica, com a aprendizagem e o fortalecimento da aquisição da Libras como a primeira língua, e da Língua Portuguesa como segunda língua.

A identidade é uma construção contínua, que “pode frequentemente ser transformada ou estar em movimento, e que empurra o sujeito em diferentes posições” (PERLIN, 1998). Ela está em constante descoberta e necessita se afirmar cultural quando um sujeito se espelha em outro semelhante, sempre havendo essa necessidade da figura do outro igual. Já a cultura (POCHE, 1989) visa uma construção de forma permanente. Seu escopo é determinar as especificidades existentes que estabelecem as fronteiras identificatórias entre o próprio sujeito e outro e a conquista do reconhecimento dos demais membros do grupo social ao qual pertence.

A formação da identidade da pessoa surda não passa exclusivamente no desenvolvimento da linguagem, não depende só da audição, mas da oportunidade deste sujeito se comunicar de forma adequada. É possível que uma criança surda tenha o mesmo aprendizado que uma criança ouvinte (SKLIAR, 1998), desde que tenha contato com a Libras, o mais rápido possível. Esse contato possibilita a formação de Identidades Surdas, que podem, segundo PERLIN (1998), ser classificada em flutuantes, híbridas, embaçadas, de transição, diáspora, intermediária.

Pode-se concluir que conhecer as diversidades identitárias das Pessoas Surdas é perceber que sua formação educacional demanda reconhecer a Língua Brasileira de Sinais, como mecanismo de comunicação e de formação de uma cultura própria, que dê sentido ao discurso de inclusão educacional, bem como proporcione ao Outro Surdo os mecanismos de autoconhecimento enquanto diversidade identitária e de protagonismo na sociedade a qual está inserido.


BIBLIOGRAFIA:

LABOURIT, E. O voo da gaivota. São Paulo: Best Seller, 1994.

NOVAES, Edmarcius Carvalho. Reflexões acerca da Identidade Cultural Surda. Disponível em: http://edmarciuscarvalho.blogspot.com/2011/03/reflexoes-acerca-da-identidade-cultural.html em 02 de março de 2011. Acesso em 19 de abril de 2012.

PERLIN, G. T. T. Identidades surdas. In: SKLIAR, C. (Org.). A surdez: um olhar sobre as diferen­ças. Porto Alegre: Mediação, 1998.

POCHE, B. A construção social da língua. In: VERMES G.; BOUTET, J. (Org.). Multilinguismo. Campinas: Editora da Unicamp, 1989.

SKLIAR, C. Um olhar sobre o nosso olhar acerca da surdez e das diferenças. In: ______. (Org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998.




COMO CITAR ESTE ARTIGO:

NOVAES, Edmarcius Carvalho. Reflexões acerca da Identidade Cultural Surda: Um olhar sobre o processo de ensino-aprendizagem do outro. Disponível em: <http://edmarciuscarvalho.blogspot.com.br/2012/06/reflexoes-acerca-da-identidade-cultural.html> em 16 de junho de 2012.

sábado, 9 de junho de 2012

HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA – A METAFÍSICA DE ARISTÓTELES






Aristóteles, filósofo grego que viveu entre 384 a 322 a.C, era discípulo de Platão. Para este, a ética e a política tinham leis próprias e as ciências eram classificadas em: a) teoréticas (contemplativas, teóricas); b) fabricadas/produzidas (aporéticas, onde o resultado difere-se do agente) e; c) práticas (a própria ética e a política), não havendo uma superioridade uma com a outra, sendo ciências distintas, porém, nas ciências produtivas e as práticas há a contingência, ou seja, elas se realizam na medida do possível e não do necessário, como no caso das ciências teoréticas.

A finalidade da ética na concepção aristotélica era o bem do homem, a felicidade e as virtudes morais. Para tanto, existem três modos de viver a vida: a) a vida agradável (dos prazeres); b) a vida política (ética e política) e; c) a vida contemplativa (teórica, filosofa). Somente os homens livres podem, na concepção de Aristóteles, ter a vida política e contemplativa. Ser livre é ocupar-se com o Belo e é ser prudente – agindo segundo o justo meio.

A racionalidade para Aristóteles não está na contemplação ao mundo metafísico (como em Platão), mas sim no hábito, na experiência, no tempo. Para aprofundar sobre Aristóteles e a sua concepção sobre a relação entre teoria e prática, clique aqui.



METAFÍSICA – TEMA E FORMA DE INVESTIGAÇÃO: 


1. Motivações humanas pelo saber e para onde tenderia esse processo, desde os fundamentos: percepção, faculdades e modos de saber.

2. Revelar o que é essa ciência elevada com o objeto mais elevado, que seria a própria fundamentação do real.

3. Declara que haveria essa investigação do ser enquanto ser, que através do discurso revela o lugar desse ser, chamado de substância.

4. Qual seria a causa do ser, a causa da substância.


UNIDADE 1 – A ORIGEM DA METAFÍSICA E A CIÊNCIA METAFÍSICA: 

A Metafísica é o desejo pelo saber e a busca pela sabedoria.

Para tanto, o ser humano utiliza-se de três faculdades. Pela percepção e memória, o ser humano estrutura e tem acesso ao mundo. A razão é uma possibilidade onde o ser humano tem outra faculdade além da percepção (acesso) e memória (reter). A razão proporciona a reflexão, o raciocínio. Entre a razão, a memória e a percepção há uma interdependência.

A partir da existência dessas faculdades, há a possibilidade de compreender os três tipos de saberes, que são: 

a) experiência:
no sentido da empiria. Não se trata apenas de uma possibilidade humana. No caso humano, há a repetição.

b) arte:
no sentido amplo, de técnica, é um conhecimento voltado à produção, uma atividade cujo fim está fora dessa produção. Ex: artesão e sua produção. Difere-se da visão, você consegue falar o que viu antes de acabar de ver. Para Aristóteles a medicina é arte, após o tratamento há recuperação e o fim da ação, é um tipo de produção.

A
arte difere-se da experiência, porque na arte já se sabe o porquê do procedimento, o experiente não tem essa noção do porquê, esse aspecto teórico. E por isso, a arte pode ser ensinada.

c) ciência: é um saber teórico voltado para si mesmo. Por exemplo, a matemática.

Há uma
hierarquia do saber (sabedoria – sophia, sapiência), onde a experiência é a base da pirâmide, a arte é o meio da pirâmide, com suas situações produtivas, e a ciência é a parte superior da pirâmide, com seu caráter abstrato, ou seja, sem a produção de algo. Essas três partes levam à sabedoria. Há, portanto, uma interdependência de todas essas partes para que haja a sophia, a sabedoria.

Há uma hierarquia de saberes, uma vez que a ciência é um conhecimento de causa e porque, sem estar voltado à produção, como a arte, pois se volta ao autoconhecimento.

A sabedoria é a busca das causas e porquês, ou princípios primeiros. Seria a máxima ciência, pois busca o primordial, o objeto mais elevado. É uma ciência, tem objeto, mas é a mais elevada das ciências, envolvida com o ser, a busca da causa e do por que da realidade.






UNIDADE 2 – ARISTÓTELES E SEUS ANTECESSORES: 

A investigação parte da busca pelo fundamento da realidade, do problema do ser.

Aristóteles e seus antecessores: o filósofo investiga ideias antecessoras, com método demonstrativo, organizando-as, pois não as fizeram com passos mais explícitos e organizados. Aristóteles coloca as bases dessa ciência que investiga as causas e os princípios primeiros, que seria a sabedoria, sendo esta a que estar no topo das ciências, uma vez que busca as causas e os princípios primeiros e não pensa na produção, como faz a arte.

Quais as naturezas dessas causas? Para isso é necessária a revisão da ideia a partir de antecessores.

As quatro causas – a partir do modelo explicativo científico, proposto por Aristóteles:


Causa Material – substância e essência
O mármore da estátua
Causa Formal – matéria e substrato
A forma do Deus Apolo, na mente do artesão
Causa Eficiente – o movimento
O artesão que trabalha na matéria
Causa Final – o fim e o bem
O embelezar um templo em homenagem ao deus Apolo.


A volta aos antecessores é para se ter uma melhor percepção dessa ciência e a forma desse objeto. Porém, Aristóteles percebeu que seus antecessores (pré-socráticos e Platão), não tinham noção dessa ciência específica de busca da causa do ser, nem a dimensão desse tipo de investigação, nem do que seria de fato esse objeto.

Os pré-socráticos e a causa material: buscavam o que seria o objeto da sophia, o ser. Na busca pelo o que seria o fundamento, eles pararam no que seria a causa material. Por exemplo, Tales de Mileto, para quem o fundamento último seria a água. Ele observou que a água dá a vida e que sem água o corpo desidrata. Tudo parte e volta à água, sendo esta o limite último, o fundamento e a causa dessa da realidade.

Outros dizem que eram os quatro elementos (ar, fogo, terra e água). Já outros perceberam que se necessitava da causa eficiente. Além disso, era uma investigação no campo da phýsis, dentro da própria natureza, ligada muito à física.

Aristóteles na própria física afirma que pode se observar na natureza, mas é preciso investigar nos próprios seres que se movimentam. Há uma investigação anterior ao movimento, que sai do campo da phýsis para se investigar o ser, errando igualmente aos pré-socráticos que ficam presos à natureza para explicar esse fundamento da realidade.

Platão teria investigado o ser a partir da Teoria das Ideias ou das Formas, onde a realidade não está nas coisas que percebemos, mas sim na ideia, na forma, sendo isso o que fundamenta a verdade, com o caráter divino. Aristóteles entende que o posicionamento de Platão é um avanço, pois não fica só na causa material, indo às formas, mas considera que não de forma adequada. Aristóteles não vê as formas com caráter divino e sim com características desse mundo. Não nega a noção de forma, mas só não concorda com a maneira que Platão a trata.

A conclusão é que os pré-socráticos e Platão não avançaram no número de causas, limitando-se às causas materiais e forma. Percebeu que ninguém avançou no numero de causas, não sendo possível chegar a uma boa conclusão, bem como que todas as explicações dadas se enquadrariam nas quatro causas que o próprio Aristóteles apresentou, nos livros da Física.


UNIDADE 3 – ARISTÓTELES E PLATÃO E A CIÊNCIA DO SER ENQUANTO SER 

A discussão parte tendo a metafísica como a investigação superior, que é a sabedoria.

Nesse ponto, busca-se a declaração acerca da ciência metafísica e do seu objeto, onde as causas e os princípios primeiros estão no livro alfa e a análise do ser enquanto ser no livro gama. As causas e os princípios primeiros é o campo de investigação limitado ao campo da phýsis, pela ciência da natureza.

“Existe uma ciência que considera o ser enquanto ser e as propriedades que lhe competem enquanto tal. Ela não se identifica com nenhuma das ciências particulares: de fato, nenhuma das outras ciências considera universalmente o ser enquanto ser, mas, delimitando uma parte dele, cada um estuda as características dessa parte. Assim o fazem, por exemplo, as matemáticas”. (Metafísica, Livro Gama (IV), 1).

A metafísica é uma ciência distinta, cujo objeto é o ser enquanto ser, sendo uma investigação não particular. Exemplo: a matemática e a física tratam parte do ser. A metafísica busca a definição da realidade, daquilo que há.

Busca-se a prioridade absoluta do ser, a fisionomia do ser, a dimensão abstrata. A realidade se exibe por si só, ser. 

A análise do ser enquanto ser analisa o lugar (lógico) do ser e sua causa (substância). O ser tem a primazia, pois são os entes que se atrelam a essa coisa. É a ciência do ser enquanto ser e suas propriedades. Essa ciência tem sua prioridade em três aspectos: ontológico, epistemológico e lógico. A partir da categoria da substância o ser se revelaria em sua substância, essência. 

Para entender qual o significado e a primazia do ser enquanto ser, fazendo com que as coisas sejam o que são, há três possibilidades de se analisar:

1. Ontológico: Busca-se o que é esse fundamento da realidade e o discurso voltado a esse. O que faz com que as coisas sejam o que são. Analisa se há algo físico, real, que o apoie. Por exemplo: “Sócrates anda”, onde Sócrates é o sujeito e ‘andar’ é o que sustenta a figura de Sócrates, pois para que ande, Sócrates precisa existir.

Assim, para que as coisas (os predicados) existam, algo precisa existir. O ser precisa existir para que algo atrele a ele e venha realmente a existir.

2. Epistemológico: Busca-se o conhecimento, os limites e a natureza do conhecimento, associado com a ciência. Para que haja algo, precisa-se do fundamento da realidade. Essa ciência ‘sabedoria’ trata do ser, que é o seu objeto. Se a ciência primeira existe, para que determinadas coisas dependem desse ser, outras formas de conhecer precisam do ser existir para que possam tratar desse tema, partindo da ciência primeira. O ser traz consigo essa primazia epistemológica do conhecimento para se conhecer os limites e a natureza do conhecimento.

3. Lógico: Busca-se o ser enquanto realidade do ponto discursivo. É o tema da realidade e do pensamento da realidade. É lógico, pois parte do ponto de vista do discurso ou daquilo que seria a forma do pensamento. Quando se articula para dizer algo do mundo, visa-se esse discurso da realidade, do fundamento. Para ter pensamento depende-se da realidade. O pensamento humano se dá na forma de discurso, dependendo da realidade existir, do ser existir. O ser tem prioridade no desenvolvimento do pensamento e do discurso.

Ontológico
Ponto de vista da realidade
Epistemológico
Ponto de vista do conhecimento
Lógico
Ponto de vista do pensamento e do discurso


Assim, conclui-se que o ser tem prioridade no ponto de vista da realidade, do conhecimento a respeito do mundo e do próprio pensamento e do discurso sobre os fatos do mundo.

O ser e as categorias:

Ser e discurso – Para delinear o lugar lógico do ser, usa-se um discurso proposicional, sobre as informações do mundo. Há o sujeito e para ele atribuem-se certas qualidades, acidentes ou predicações. Se não há ser, não há discurso sobre o mundo.

As categorias, ou predicações, são formas de dizer o ser de várias maneiras no discurso. Não há uma lista exata de predicações. 

A substância é a categoria primeira, pois parece que ser o ente primeiro, onde o ser se revelaria. Não se preocupa com acidentes (qualidades, acidentes, tempo), pois busca a definição do ente, a essência da coisa. É a exibição direta do sujeito. Um referencial lógico desse ser.



UNIDADE 4 – SUBSTÂNCIA, MATÉRIA, FORMA E CAUSA:

O problema da substância: Para compreender a substância, na concepção aristotélica, não há uma resposta definitiva, somente um esboço, pois algumas partes do Livro Z são difíceis e obscuras.


“O ser tem muitos significados (...). De fato, o ser significa de um lado, essência e algo determinado, de outro, qualidade e quantidade e cada uma das outras categorias. Mesmo sendo dito em tantos significados, é evidente que o primeiro dos significados do ser é a essência, que indica a substância (De fato, quando perguntamos a qualidade de alguma coisa, dizemos que é boa ou má, mas não que tem três côvados ou que é homem; ao contrário, quando perguntamos qual é sua essência, não dizemos que é branca ou quente ou que tem três côvados, mas que é um homem ou é um Deus). Todas as outras coisas são ditas ser, enquanto algumas são quantidade do ser no primeiro significado <ou seja, de ser> outras são qualidades dele, outras são afecções dele, outras, enfim, alguma outra determinação desse tipo” (Met Z (VII) 1, 1028 a1-a20).



A partir do discurso (relação intrínseca com ser) delineia-se, numa perspectiva lógica, o conceito, a natureza da substância. 

As categorias são coisas que se associam à algo. O ser (a substância, ou a essência de uma coisa) é esse algo, o receptáculo dessas atribuições.

Quando se fala de atributos e qualidades, “um homem ou um deus”, não se fala da natureza da substância, são somente pistas. São duas coisas determinadas que possam expressar a substância, o que faz com que eles ganhem caráter de substância, sem que possam de imediato dizer que o homem é uma substância.

Aristóteles faz a busca daquilo que expressa melhor a substância, retornando a busca pela causa do ser, o ponto de ancoragem da realidade e ponto de apoio do discurso, conhecimento, ciência e verdade.

A busca é pelo que é dotado de certa independência, numa perspectiva lógica, onde esse sujeito pode receber diversas qualificações/predicações, mas ele mesmo não é atribuído a outro sujeito, outra coisa.


Duas características para delinear a substância:


a) Função de permitir o conhecimento ou manter a inteligibilidade da coisa;

b) Função de manter num mesmo pacote a definição, a identidade, a independência da coisa, além de ser o fundamento da realidade e do discurso: ou seja, não ser atribuído a outro, mas ter a independência do ponto de vista ontológico, de ser não ser atribuído a mais nada, pelo contrário, as outras coisas dependem dele.

O desafio é associar as características com a definição do ser. 


Como se definir o ser? Quais os candidatos definem a substância ou a causa do ser? 


Por exemplo: Sócrates é composto de matéria (individuo) e forma (de ser humano). Mas onde está a essência do individuo? A explicação é conforme o modelo de causa, podendo ser:

1. Matéria: Parece responder ao que é independe a uma substancia. Uma matéria não pode ser predicação a outra. O inconveniente: a princípio é algo não determinado, e por isso não abarca intelectualmente, não promove o conhecimento.

2. Composto forma / material: Há uma independência quanto à matéria e há conhecimento já que a forma é definida. O inconveniente: trata-se de um complexo. O candidato a ser deve ser uma fonte primordial e não um composto.

3. Universais / Gêneros: É algo que permite conhecimento, são definidos. Exemplo: Os seres humanos. O inconveniente: não tem independência, pois os gêneros podem ser atribuídos às coisas. Exemplo: ‘ser humano’ pode ser atribuído à Sócrates. Busca-se o contrário: o que faz com que o ser não seja atribuído a alguma coisa.

Assim, parece que o melhor candidato é:

4. Forma: A matéria pode se alterar sem perder a unidade. Isso por causa da forma. Não é a universalidade (universais/gêneros) que faz isso. Só a forma. 

Assim, há o enigma aristotélico, onde se entende a forma como substância, podendo se manter a unidade, mesmo com acidentes (que não fazem parte da essência), definindo o ser.

A dificuldade de definir essa forma como a causa do ser são os atributos. Seria fonte de realidade, mantendo a individualidade, e fonte de conhecimento: definindo o individuo.

Com essas abstrações, chega-se a um tipo de universal que Aristóteles nega, mas ele parece não demonstrar no VII uma resposta para diferenciar às formas e universais.

Exemplo: Sócrates é ser humano. Sócrates é individuo, e ser humano a forma, porém essa forma pode ser compartilhada com outros indivíduos, o que parece tornar um tipo de universal.

Assim, não há resposta exata sobre a substância.



CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Onde estaria a resposta?

O individuo tem um núcleo (a essência) com atributos diversos que comporiam sua forma, a causa do ser e tem uma periferia de acidentes transitórios durante a existência desse ser. Esse núcleo, essa essência parece também ser atribuída a outros indivíduos. 

O individuo tem uma essência, essa essência tem um caráter de universal, mas há acidentes que contribuem para o individuo e a matéria também contribui para a definição do individuo, mesmo que a matéria não seja/faça parte da essência desse individuo, mesmo sendo transitória, não contribuindo para a essência, pois estamos no mundo sublunar, onde as coisas tem matéria, nascem e perecem, e ao longo da natureza, há a transmissão de formas.

As formas definiriam as coisas e permitiriam ciência. Apenas no caso dos seres supra-sensíveis estes teriam uma forma pura. Não tendo resposta definida que a forma seria a substancia em absoluto, pode-se tomar que a forma seria a causa primordial para definir o ser, e essa é a orientação.


BIBLIOGRAFIA:

ARISTÓTELES, Metafísica. Ensaio introdutório, tradução, sumário e comentário. 3 volumes, por REALE, G. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

CHAUÍ, M. Introdução à História da Filosofia. Vol. 1: Dos Pré-Socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

LEAR, J. Aristóteles: o desejo de entender. Trad. Lygia Araújo Watanabe. São Paulo: Discurso Editorial, 2006.

SOUZA, A. C. F. História da Filosofia Antiga II: Guia de Estudos. Lavras: UFLA, 2012.


OBSERVAÇÃO:
Este texto é um resumo que produzi com o material de aula de disciplina “História da Filosofia Antiga II” da Graduação em Licenciatura para Filosofia da UFLA – Universidade Federal de Lavras EaD Campus Governador Valadares, produzido em 09/06/2012.



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