sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

QUEM INVENTOU O AMOR?


Ah o coração! O coração tem suas manias pra lá de esquisitas. Ele gosta de aprontar pro lado da gente, fazendo com que fiquemos paralisados diante de um sentimento que brota do nada, porém com uma força arrebatadora, que inquieta a mente, a alma e o corpo. Quem disse pra esse ser que ele tem o direito de mexer tão profundamente assim comigo, se ele é apenas mais um, dentre vários? Quem lhe autorizou fazer com que eu me desfaça de comportamentos ditos como normais e me deixe levar pela força de uma grande paixão? Quem permitiu que ele fizesse com que eu – e pior, novamente – me apaixonasse por alguém que não consegue compreender a dimensão do que sinto, aqui por dentro?


Amar deveria ser sinergético. A vida seria bem mais fácil e bem mais feliz se, no momento em que gostando de alguém, e declarando isso, esse alguém começasse a gostar também da gente. Mas o coração tem dessas coisas! Ele é mestre em aprontar com a gente. É sarcástico. Leviano. Imoral. Inescrupuloso. Ele arrebata nossos sentimentos e aponta justamente em direção a quem não tem – pelo menos, a princípio – condições mínimas de correspondê-los à altura. Sua vilania encontra-se justamente nisso: fazer com que o amor se misture com doses de sofrimentos.


Tenho chegado a conclusão de que amar é sofrer. Pode até ser que não, e que existam por aí amores que não carreguem consigo partículas de dor. Se existem – e tomara que exista – eu ainda não fui agraciado. Como diz a canção, o meu coração ainda é papel. E daqueles fininhos, frágeis, que por qualquer ventania já se rasga, entregando-se a um objetivo, porém, têm-se perdido no meio do caminho.  Mas pensando bem, o amor deve precisar mesmo do sofrimento para que ele possa se confirmar ou extirpar. Se mesmo com o sofrimento, há uma entrega mútua completa, esse sentimento é verdadeiro, e sua correspondência pelo outro é arrebatadora. Agora, se o sofrimento de amar, e/ou as circunstâncias de quando esse amor se concretiza, impede-o de prosseguir, é porque, novamente, não foi amor, foi um ato de inquietação de um coração que resolvera novamente brincar.


Enquanto isso, pergunto-me: o que fazer? Acho que nada, somente deixar o tempo passar para que esse gostoso sentir que carrego comigo, possa se dissipar. Mas os sentimentos, mesmo que mínimos, permanecerão. Fica o gosto do beijo não provado, do abraço não dado, do cheiro não sentido, no sexo não vivido, da cumplicidade não construída, da lealdade não comprovada, da história em comum não desenvolvida.


Ficará também a certeza de que o amor -
 nome que por ora escolho para denominar o que sinto e que é inexplicável - é um sentimento caro, puro, sincero, frágil, bonito demais para ser barateado, simplificado, implorado. Não se sucateia o amor. E muito menos não se mendiga sua correspondência. Se o coração alheio não está pronto, não se encontra dentro de circunstâncias que entende como mínimas favoráveis para correspondê-lo com dignidade, é hora de ressignificar.


Ressignificar o amor é ter a certeza de que se há algo ou alguém errado nesse amor não vivido, isto não está em mim e, muito menos, em meus sentimentos verdadeiros. O erro está na medida desse sentimento e na não preparação do outro em perceber a preciosidade que se tem à sua disposição. Está no abraço não dado, no beijo não roubado, no carinho rejeitado, na cumplicidade não aceita. Está na tristeza e, talvez nos traumas, já vivenciados no coração alheio. E essa é a tarefa de ressignificar o que se sente. É se preparar para que a dor agora sentida, pelo amor desprezado, não me impeça de um novo começar, de um novo gostar, de um novo sentir. Ainda mais maduro. Mais certo do que se quer e de sua intensidade, verdade e cumplicidade exigidas pela vivenciá-lo.


Quem inventou o amor e o depositou nas mãos do carrasco coração não sabia que vivê-lo é talvez a maior das experiências que o ser humano pode ter. Vivê-lo em sua inteireza, dando e recebendo, doando-se e sendo correspondido, é dom que poucas almas em suas existências, de fato, conseguem vivenciar.


O que fazer com o sentimento que carrego comigo, sofrendo com as mexidas das mãos desse coração bandido que o segura? O primeiro passo: declarar-se, já fora feito. Agora, resta-me somente esperar por você e por mim mesmo! Por você para que tenha, dentro de tanta apatia, a sensibilidade necessária de notar a unicidade do que carrego comigo a seu dispor. E por mim para que o amar a você não transcenda o amar a mim mesmo, ao amor próprio. E amando a mim mesmo, consiga ressignificar sua existência para mim, sua talvez inaptidão para vivenciar tão rico sentimento que carrego comigo mesmo, e assim eu consiga guardá-lo novamente, até que, quem sabe um dia, o dom de amar e ser amado, em sua totalidade, seja concedido, pelos céus e pelo sarcástico coração, a esse pobre coração sofredor, seja com você, ou não.


Quem inventou o amor, explique-me, por favor!