segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

POR QUE VOCÊ NÃO QUER MAIS IR À IGREJA?

Era um domingo, dia 23 de janeiro de 2011. Hora do almoço. Como de costume – tradicionalíssimo – minha avó, ao agradecer a Deus “as mãos que fizeram aquele alimento”, interpelou também: “que o Edmarcius possa se regenerar e voltar a ser o que era na igreja”. Finalizou sua oração e todos se alimentaram normalmente.

Menos eu. Essa oração – frase no sentido lingüístico e no caso também no religioso – ficou na minha mente, porque no fundo, no fundo, ainda hoje, manifestações deste tipo, causam-me certo incômodo, porque mexe numa das maiores dores que já vivenciei: a dor da alma fruto de experiências religiosas. Porém, como bom neto que sou, preferi me omitir e deixar tal desconforto passar despercebido.

Seis dias depois chegou meu aniversário. Antes me levantar da cama recebi, da minha mãe, meu primeiro presente do dia. ‘Poxa, que legal’ – pensei eu! Antes de abrir o presente, a recomendação que demonstra uma preocupação amorosa de uma mãe por seu filho: ‘não brigue comigo pelo presente, mas quando o vi, lembrei de você e decidi comprá-lo. Leia-o e depois me diga a resposta pra pergunta título do livro’.

Com as vistas embaçadas pelo sono apenas confirmei com a cabeça a resposta positiva, abri o livro, li seu título, sorri e voltei a dormir. E junto com o sono as idéias remeteram-me ao fato ocorrido no domingo e conclui precipitadamente comigo que este poderia ser mais um desconforto que passaria, agora em relação ao presente de aniversário, dado pela minha mãe.

Ledo engano! Acho que se não for o melhor presente de aniversário que já ganhei em minha vida, está entre os melhores. É, sem dúvida alguma, a melhor leitura que poderia ter feito nesses últimos dias, meses e anos - tempo este enquanto a pergunta título do livro se concretizou na minha existência terrena.

“POR QUE VOCÊ NÃO QUER MAIS IR À IGREJA?” (2009, Editora Sextante), escrito por Wayne Jacobsen e Dave Coleman, traduzido no Brasil por André Costa, é a obra em questão. Recomendo a leitura urgente para todos os que abraçaram o cristianismo enquanto opção religiosa para suas vidas.

A estória do livro é uma ficção. Porém, mesmo que haja a recomendação contrária, creio que foi sim baseado historias de vidas reais. Muitas. Milhares espalhadas pelo mundo afora. Todas de vítimas, consciente ou inconscientemente, de um período em suas vidas, onde jogaram “o jogo da igreja”.

Não se trata de uma apologia aos que criticam a igreja, mas sim de uma das melhores produções já realizadas no que diz respeito a (re)flexão – pensar de novo – sobre o papel desta e do significado de sê-la nas vidas das pessoas que se propõem a vivenciar suas experiências de fé neste contexto, e por fim, a possibilidade de ver novas formas de viver a realidade de uma Igreja.

A estória de ficção tem como sua personagem principal, o pastor Jake Colsen, que depois de toda uma vida dedicando-se a Igreja e ao caminho que sempre lhe pareceu o certo, encontra-se diante de uma dolorosa dúvida: como é possível ser cristão há tanto tempo, e ainda assim, se sentir tão vazio?

Porém, observando uma multidão numa praça, Jake depara com João, um homem que fala de Jesus como se o tivesse conhecido e que percebe a realidade de uma forma que desafia a visão tradicional de religião. É com a ajuda desse novo amigo que Jake irá reavaliar os conceitos e crenças que norteavam seu caminho: Levar uma vida cristã significa ter os comportamentos aprovados pelo grupo religioso a que pertencemos?

No decorrer da estória, a cada nova palavra de João, assiste-se ao renascimento de Jake em busca da verdadeira alegria e da liberdade que Cristo veio ao mundo oferecer. Na reconstrução da sua vida, percebemos a ação de Deus, por meio do perdão e do amor.

Pessoas que assim como eu encontram-se feridas em nome de um Cristo pregado por alguma instituição religiosa ou sistema religioso encontram neste livro um bálsamo. É um refrigério saber que, no mundo afora, muitas outras pessoas também passam por este dilema, e encontram a possibilidade de reformular seus pensamentos a respeito do amor de Cristo, da alegria e da liberdade que é a essência de ser um cristão, mesmo afastados de coração de igrejas.

Muitos como eu foram criados em igrejas. No livro registra um dado interessante: 92% das crianças que freqüentam regularmente as escolas dominicais (pra quem não é evangélico não vai entender o ‘evangeliguês’: significa a ‘catequese’ evangélica, grosso modo, comparando-a com o catolicismo), quando deixam a casa dos pais, ou quando crescem, abandonam a igreja.

E abandonam sabe por quê? O livro responde e esta é a resposta a pergunta título do livro. O cristianismo que as igrejas vivem, em sua maioria, é um cristianismo institucional, razão esta que faz com que as pessoas não queiram mais ir às igrejas!

Os autores, em suas ultimas páginas, disponibilizam uma entrevista concedida sobre o conteúdo polêmico do livro. Ao serem inquiridos se procuram por uma igreja perfeita dizem que não espera encontrá-la – a igreja perfeita – neste lado da eternidade, mas sim procuram por pessoas que fazem de Deus sua prioridade. E manifestam incômodo com o ‘cristianismo institucionalizado’ de uma forma perfeita. Veja:

“Boa parte do que chamamos hoje de ‘igreja’ não passa de uma encenação bem planejada, com pouquíssimas ligação efetiva entre os fiéis. Estes são muito mais estimulados a depender cada vez mais do sistema ou de seus lideres do que do próprio Jesus. Gastamos mais energia adaptando nosso comportamento àquilo de que a instituição necessita do que ajudando as pessoas a se transformarem!”.

E continua, até sendo um pouco duros ao retratar, infelizmente, a realidade:

“Cansei de tentar estabelecer uma comunhão com gente que concebe a ‘igreja’ apenas como um lugar onde um grupo passa duas horas por semana expiando a culpa, enquanto vive o restante da semana com as mesmas prioridades mundanas. Cansei daqueles que exaltam as próprias obras piedosas, mas que não demonstram compaixão pelos outros. Cansei de gente insegura que usa o corpo de Cristo como uma extensão de seus egos e que manipula a comunidade para satisfazer as próprias necessidades. Cansei de sermões que contêm mais regras e moralismo do que a liberdade do amor divino e nos quais os relacionamentos ficam em segundo plano perante as demandas da instituição” (pag. 202).

O Cristo que se deve seguir é o Cristo que está no centro da vida das pessoas. É o Cristo que está no centro das atenções das pessoas, que são tão autenticas e se sentem livres para questionar, para duvidar, para discordar somente para continuam a viver a voz do Senhor sem serem acusados de serem rebeldes ou separatistas. O Cristo que se deve seguir é aquele que nos dá a liberdade e o poder de confiar na Sua capacidade de cuidar de nós diariamente.

O Cristo que se deve seguir é o Cristo que não fica preso em regras e modelos moralismos um tanto duvidosos, mas é um Cristo que se manifesta no próximo, na vida dos companheiros com quem partilhamos livremente a vida, seja numa rua, ou num ambiente de trabalho ou de escola.

O Cristo que se deve seguir é o Cristo da comunhão entre as pessoas. Cristo pode estar na manifestação de um relacionamento com um vizinho, um parente, um amigo. E é isto que é ser Igreja, e não uma organização institucional. O Corpo de Cristo é feito – ou deveria ser feito – de pessoas que se relacionam, e não de paredes e de uma hierarquia de lideres de sistemas.

Cristo anda longe do ‘jogo das igrejas’. Cristo anda longe de lugares onde os que ali participam “são meros assistentes passivos colocados a uma distancia segura do chamado líder”.

O que falar dos líderes? Seria cômico se não fosse trágico! Eu já fui um líder dentro do sistema institucional da igreja. Segundo o livro – e eu sou uma prova vivinha disso – são estes, as maiores vítimas do sistema.

“No que fim, todo o sistema humano desumaniza as pessoas a quem procura servir, e a maioria dessas pessoas que o sistema desumaniza são as que pensam que o lideram”.

(...)

“As pessoas que tratam os lideres como se eles possuíssem uma unção especial são as que correm mais riscos de serem enganadas por eles. Parece que as pessoas que são investidas de maior autoridade se esquecem de dizer não aos próprios apetites e desejos. Os lideres acabam muitas vezes servindo a si mesmos, achando que estão servindo aos outros só pelo fato de manterem uma instituição funcionando”.

Suavizam os autores:

“Porém nem todos os que fazem isso se tornam tão fracos. Muitos são servidores autênticos que, apesar de só desejarem ajudar os demais, foram levados a crer que esse é o melhor modo de fazê-lo. O erro do sistema deve sempre ser separado dos corações das pessoas que pertencem a ele (o sistema)” (pag. 111).

É por isto que sou um bom neto, e agora, um bom filho. Brincadeiras à parte, a verdade é que não é fácil viver da mesma forma depois que “um novo amigo João” passa na vida da gente. Na minha, ele teve o nome de José Marcelo. Um amigo (que é pastor) que o amo muito, e que me fez vivenciar e entender em momentos difíceis, mas essenciais como preparatórios para uma nova perspectiva de vida em Cristo, que viver em Cristo é ter alegria, liberdade e amor, uns pelos outros.

Viver em Cristo é ter relacionamentos. Dizia sempre o meu João:
“pessoas precisam de pessoas”. Como isso hoje soa suave aos meus ouvidos! Viver em Cristo é saber que Cristo está no meu próximo, mesmo que ele seja um estranho. É tudo aquilo que a Igreja primitiva viveu nos seus 300 primeiros anos, até que a instituição "tomou conta" do Corpo de Cristo.

Os autores concluem o livro, com algumas orações – agora no sentido lingüístico da palavra. Quero reproduzi-las para também encerrar esta postagem. Com elas respondo a pergunta título e instigo a sua leitura do livro.

“A maior parte das pessoas que encontro e com quem falo, porém, não está fora do sistema por ter perdido a paixão por Jesus ou por Seu povo, e sim porque as congregações tradicionais mais próximas não foram capazes de lhes satisfazer a fome de relacionamento. Estão em busca de expressões autênticas de vida em comunidade e pagam um preço altíssimo por isso. Pode acreditar em mim: todos nós acharíamos mais fácil nos deixar levar pela maré, mas, depois de experimentarmos a comunhão viva entre fieis fervorosos, é impossível nos conformarmos com menos” (pag. 203 e 204).

“Sei que incomoda certas pessoas o fato de eu não tomar meu assento num banco da igreja todo domingo de manhã, mas posso lhe garantir, com absoluta certeza, que meus piores momentos fora da religião institucional são, ainda assim, melhores do que meus melhores dias dentro dela (...) Hoje não precisamos mais ficar falando sobre a Igreja. Precisamos é de gente preparada para viver a realidade dela” (pagina 205).

Viver a realidade dela é viver relacionamentos.

Que tal voltar à Igreja? Veja Cristo em cada pessoa com quem você se relacionar e seja alegre e liberto para viver o amor do Deus Pai.

sábado, 22 de janeiro de 2011

QUAL A GRAFIA CORRETA DA LÍNGUA DOS SURDOS?


Muitas pessoas que estão começando a conviver com pessoas surdas, em associações ou em cursos para aprender a língua da Comunidade Surda Brasileira, se deparam com uma questão eminentemente terminológica: Qual a grafia correta para a Língua utilizada pelas pessoas surdas: seria "LIBRAS" (com todas as letras em maiúsculo) ou "Libras" (com todas as letras em minúsculo, exceto a inicial)?

Antes de mais nada, é importante entender que a sílaba “Lín” da palavra em debate vêm do termo “Língua” e não “Linguagem”, como é muito comum se ouvir falar erroneamente  com a utilização do termo “Linguagem Brasileira de Sinais”. A tradução correta da sigla é “Língua Brasileira de Sinais”.

Explico a diferença. Numa ordem meramente lingüística, compreende-se por “linguagem”,
 um “sistema (elementos ordenados e relacionados entre si) que visa comunicação, a partir de elementos básicos/signos (significante/conceito e significado/forma). Assim, teríamos a linguagem falada, visual, corporal, a língua, etc” (NOVAES, 2008). Neste sentido, linguagem pode ser entendida como “um sistema de comunicação natural ou artifical, humana ou não”. (QUADROS, 2006).

Já a “língua” se dá a partir de palavras/unidades básicas (itens lexicais), consideradas como signos verbais. Trata-se de “um sistema lingüístico de infinitas frases de forma altamente criativa”.

No meu livro “SURDOS: Educação, Direito e Cidadania” (2010), destaco na página 49, a necessidade de percorrer, quando de uma análise lingüística, por um viés de ordem social. Deve-se empreender por uma finalidade social da língua, que segundo BAGNO (2003, p. 19) é possível, pois a utilização da mesma é “um trabalho empreendido conjuntamente pelos falantes toda vez que se põem a interagir”. Nesta perspectiva, somos a língua que falamos e não somente usuários da mesma.

Quanto à questão posta inicialmente, pode-se compreendê-la pela confusão generalizada quando se trata de grafar siglas. Alguns autores entendem que com até três letras, as siglas devem ser grafadas em maiúsculas e com mais de três letras, somente a inicial maiúscula. Nesta perspectiva, temos como exemplo da primeira, a sigla "ABL – Academia Brasileira de Letras", e da segunda, a sigla  "Libras – Língua Brasileira de Sinais".

Recentemente, têm-se utilizado do conceito de siglema, ou seja, nomes abreviativos formados não apenas das letras iniciais das palavras que os compõem mas também de sílabas, adquirindo assim um caráter de palavra” (PIACENTINI, 2006), ou ainda se cada letra não corresponder necessariamente a uma palavra. Um exemplo seria a sigla “Sedese” que significa a “Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social”.

Muitos meios de comunicação têm orientado a grafia das siglas pelo seu tamanho ou pela pronúncia. Em até três letras, em maiúsculas, como em SPC, ONU, CPF. Com quatro letras ou mais, se pronunciáveis, somente a primeira em maiúscula e as demais em minúsculas, como Uerj, Uber, Libras. Se não pronunciáveis, todas em maiúsculas, como INSS, PMDB.

Em relação a língua utilizada pelos surdos brasileiros, existe um entendimento que vem se padronizando. Pode-se orientar por um posicionamento meramente jurídico (o que nem sempre significa correção lingüística e atualização com os avanços lingüísticos, como na utilização errônea até hoje do termo “portador” para se referir às pessoas com deficiência, em alguns textos legais) ou por posicionamentos doutrinários.

CAPOVILLA & RAPHAEL (2001) em seu “Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue: Língua de Sinais Brasileira”, além de analisar a grafia correta do termo, defendem que o real significado da sigla deveria ser “Língua de Sinais Brasileira” e não “Língua Brasileira de Sinais”, como se vê:

“Língua de Sinais Brasileira é preferível a Língua Brasileira de Sinais por uma série imensa de razões. Uma das mais importantes é que Língua de Sinais é uma unidade, que se refere a uma modalidade lingüística quiroarticulatória-visual e não oroarticulatória-auditiva. Assim, há Língua de Sinais Brasileira. porque é a língua de sinais desenvolvida e empregada pela comunidade surda brasileira. Não existe uma Língua Brasileira, de sinais ou falada”.

Não sendo esse o foco da análise, importante ressaltar que os autores acatam a grafia “Libras”.

Numa perspectiva legal, o posicionamento é o mesmo. A Lei Federal n° 10. 436, de 24 de abril de 2002, ao defini-la como “a forma de comunicação e expressão, com o sistema lingüístico de natureza visual-motora, e estrutura gramatical própria”, grafa-a como “Libras – Língua Brasileira de Sinais”.

Assim, pode-se concluir que a grafia correta para referir-se a língua de sinais dos surdos do Brasil é “Libras – Língua Brasileira de Sinais”. Trata-se de um siglema. Libras hoje têm o caráter de uma palavra. Grafa-a dessa forma por ser formada por mais de três letras, todas pronunciáveis e não soletradas, pois se assim o fosse, justificaria a errada grafia LIBRAS.

BIBLIOGRAFIA:

BAGNO, Marcos. A norma oculta: língua & poder na sociedade brasileira / Marcos Bagno. São Paulo: Parábola Editorial, 2003. p. 19.

BRASIL. Lei n° 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providencias. Brasília: Paulo Renato Souza, 2002.

CAPOVILLA, F. C., & RAPHAEL, W. D. Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da Língua de Sinais Brasileira. São Paulo: Edusp, 2001 (dois volumes).

NOVAES, Edmarcius Carvalho. SURDOS: Educação, Direito e Cidadania / Edmarcius Carvalho Novaes. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2010. p. 49.

______. Conceitos Fundamentais de Lingüística e Línguas de Sinais. Trabalho de Conclusão da Disciplina: Seminário de Tópico Variável em Variação e Mudança Lingüística: Variação Lingüística na Libras. Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos. Faculdade de Letras. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2008.

PIACENTINI, Maria Tereza de Queiroz. Siglas. Disponível em: <http://www.kplus.com.br/materia.asp?co=235&rv=Gramatica>. Acesso em 22.01.2011.

QUADROS. Ronice Muller de. Idéias para ensinar português para alunos surdos / Ronice Muller de Quadros. Magali L. P. Schiedt, Brasília: MEC, SEESP, 2006.



COMO CITAR ESSE ARTIGO:
NOVAES, Edmarcius Carvalho. Qual a grafia correta da Língua dos Surdos?. Disponível em http://www.edmarciuscarvalho.blogspot.com em 22 de janeiro de 2011.

* EDMARCIUS CARVALHO NOVAES

Bacharel em Direito pela FADIVALE (2007). Atualmente cursa MBA em Administração Pública e Gestão em Cidades pela UNIDERP (2010), Pós-Graduação em Direito Público pela UNIDERP (2010) e Pós-Graduação em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) pela FAEL (2010). Possui Certificação de Proficiência em Tradução e Interpretação de LIBRAS MEC/UFSC (2006), tendo atuação como Tradutor-Intérprete de Libras desde 1996. Possui disciplina isolada em "Estudos Lingüísticos com ênfase em Variações Lingüística na Língua Brasileira de Sinais" pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Letras da UFMG (2008). Conselheiro Governamental do Conselho Municipal de Assistência Social - CMAS, Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência - CMPD e Conselho Municipal de Transito e Transporte - CMTT, da cidade de Governador Valadares. Gerente da Coordenadoria de Apoio e Assistência à Pessoa com Deficiência da Secretaria Municipal de Assistência Social (CAAD-SMAS) da Prefeitura Municipal de Governador Valadares/MG. Autor do livro "SURDOS: Educação, Direito e Cidadania" publicado pela WAK Editora (2010). Contato: edmarcius@hotmail.com



Sinopse:

A formação de uma sociedade para todos, em que as diferenças são consideradas e respeitadas, passa pela educação de qualidade e acessível a todos, pela existência de direitos reconhecidos e pelo conhecimento das formas corretas para acessar tais garantias, como expressão de cidadania. Este livro resgata a dignidade humana das pessoas surdas ao focar o processo histórico inclusivo deste segmento social por meio do realce à sua diferenciação, sobretudo, linguística e cultural, do estudo de seus direitos elementares: educação, trabalho e saúde, além de analisar detalhadamente estes direitos e os mecanismos jurídicos para efetivá-los, individualmente ou coletivamente.

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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O QUE FAZER EM CASOS DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS E MAUS TRATOS CONTRA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA?


O imortal escritor e dramaturgo George Bernard Shaw (1856 – 1950) proclamou em sua máxima que “o pior pecado contra nosso semelhante não é o de odiá-los, mas de ser indiferentes para com eles”.

Ele tem razão. Existem pessoas que além de odiar o outro pela sua diferença – posicionamento político e/ou religioso, condição sexual e/ou econômica, etnia, idade ou condição física – são indiferentes quando a diferença necessita de, no mínimo, respeito.

Exemplifico. Aconteceu hoje (20 de janeiro de 2011) na cidade de São José dos Campos uma briga entre um delegado e um cadeirante, por um estacionamento em uma vaga pública reservada para pessoas com deficiência.

Conforme a imprensa, o cadeirante Anatole Magalhães Macedo Morandini, advogado, 35 anos, ao flagrar o delegado Damasio Marino estacionado na vaga especial, em frente a um cartório na região central do município, foi tomar satisfação e se tornou vítima numa briga, digamos, esdrúxula.

"Ele [delegado] me chamou de aleijado filho da puta. Eu fiquei enojado, e a única coisa que consegui fazer foi cuspir no carro dele, porque me senti desrespeitado.".

Ainda segundo Morandini, o delegado do 6º Distrito Policial da cidade, além de lhe dar coronhadas, também bateu em seu rosto com a ponta da arma.

"Ele apontou a arma, fez mira. A única coisa que eu fiz foi virar o rosto devido ao trauma que já tenho", contou o advogado, referindo-se ao tiro que levou durante um assalto, aos 17 anos, e que o deixou paraplégico.

O advogado do delegado Marino afirma que seu cliente deu "dois tapas" em Morandini, mas só depois de ser xingado e receber uma cusparada. Para Silva, "esse cadeirante procurou o confronto.". O advogado também negou que Damasio tenha xingado Morandini ao ser repreendido. Segundo Silva, o delegado reagiu após Morandini cuspir em sua cara.

"Ele [delegado] não entendeu o que estava acontecendo. Desceu do carro e o cara veio com a cadeira de rodas para cima dele. [Morandini] cuspiu de novo e o xingou, então ele [delegado] pegou e deu dois tapas no cara."

No fim da tarde, foi noticiado que a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo afastou o delegado de suas funções para que sejam realizadas apurações da responsabilidade funcional por meio da instauração de um procedimento administrativo. A investigação soma-se
ao inquérito já aberto para apurar a suspeita de lesão corporal dolosa, quando há intenção ou se assume o risco de cometer o crime.

Posta a informação, vamos às minhas considerações:

a) Tenho a plena convicção de que não é por uma pessoa ser deficiente que ela tenha direito à regalias, caso cometa algum ato infrator, nem que utilize de sua condição para obter vantagens. Porém, pelo que foi noticiado, este não é o caso em tela.

b) O cadeirante foi cobrar da pessoa que estava estacionado – e poderia ser um professor, médico, político, pedreiro, contador, ou seja, de qualquer profissional que estivesse lá – que saísse da vaga reservada para pessoas que se encontram em sua situação.

c) A vaga é uma garantia legal contemplada pela Resolução n° 304 de 18 de dezembro de 2008 do CONTRAN – Conselho Nacional de Transito, que regulamenta “as vagas de estacionamento destinadas exclusivamente a veículos que transportem pessoas portadoras de deficiência e com dificuldade de locomoção.” 

d) Tratava-se, portanto, de um direito que foi solicitado. Ao ouvir a sentença pejorativa: “aleijado filho da puta”, perdeu o controle, e imobilizado em razão de sua situação, cuspiu no carro do agressor, como forma de manifestação. A utilização de arma e até a realização de sangramento no deficiente precisa ser apurada pelas autoridades, principalmente por meio de testemunhas ou filmagens, caso existam na região.

e) É necessário que sejam apuradas as responsabilidades do delegado, pois a possível utilização da sua posição profissional, pode configurar o crime administrativo de abuso de poder, uma vez que, utilizando-se de uma prerrogativa legal que lhe foi concedida, utilizou-se de sua posição para a defesa de interesses não públicos.

f) Um delegado como qualquer outra AUTORIDADE PÚBLICA, deveria pensar duas vezes antes de fazê-lo. Impossível acreditar que o mesmo não processou mentalmente sua ilegalidade ao estacionar na vaga especifica.

g) Impossível acreditar que o mesmo não sentiu, no mínimo, vergonha na cara, ao ser cobrado pelo cadeirante, que saísse de sua vaga.

h) Triste é ver uma AUTORIDADE PÚBLICA achar que é superior aos demais e em razão disto, reagir como o fez. Aleijada é a mentalidade deste sujeito que se diz delegado. Ela é atrofiada em meio ao que está no lugar onde deveriam estar o conhecimento jurídico e humano que precisaria já ter adquirido para chegar onde está, enquanto agente público.

Enfim, e não pecando pela generalização, é triste constatar que muitas pessoas não estão preparadas para ter o poder a sua disposição. Confundem a finalidade PÚBLICA do deter o poder, para a obtenção de outros fins que não aquela.

Sábio é o conhecimento popular: “Quer conhecer alguém, lhe dê o poder!"

Espero que este delegado aprenda a respeitar seu próximo. Aprenda a além de guardar seu ódio incumbido por “aleijados”, a respeitar a condição do outro.

Se não for pelo “o outro” puramente, que seja pelo menos em respeito a sua categoria. Deprimente saber que ainda existem pessoas assim.



Aproveito para informar às pessoas com deficiência que são vítimas de violações de direitos ou de maus tratos que procurem por um desses serviços que podem lhe auxiliar:

a) Policia Militar pelo telefone 191. Preste queixa. Registre os fatos.

b) Disque Direitos Humanos pelo telefone 181. Denuncie casos de violações de direitos e/ou de maus tratos contra pessoas com deficiência. A denúncia pode ser anônima e será devidamente investigada.

c) Delegacia da Policia Civil ou, caso exista em sua cidade, a Delegacia Especializada ao Atendimento de Pessoas com Deficiência e Idosos (normalmente atuam especificamente para ambos os públicos). Procure conhecer a organização da Policia Civil de sua cidade e como auxiliar em casos de violações de direitos e de maus tratos.

d) O CREAS – Centro de Referência Especializado em Assistência Social de seu município. Se não houver o serviço de recebimento de denúncias de maus tratos contra deficientes, encaminhará para o órgão responsável pelo serviço. Se você não souber onde fica a(s) unidade(s) do CREAS de seu município, procure pelo CRAS – Centro de Referencia em Assistência Social, no seu bairro ou no mais próximo de sua residência. Nos CRAS, profissionais chamados Assistentes Sociais poderão lhe orientar melhor.

e) Procure pela Secretaria, Gerência, Coordenadoria ou Departamento de Apoio à Pessoas com Deficiência. Independentemente da estrutura/nome que apresente, este é o órgão responsável por políticas públicas para pessoas com deficiência do seu município. Caso exista, pode auxiliá-lo com serviços desde a orientação de direitos até encaminhamento para a rede de atendimento, com apoio psicológico, jurídico ou com outras finalidades. Informe-se em seu município sobre a existência deste órgão.

f) Caso a violação de direitos ou maus tratos tenha ocorrido em algum órgão público, você pode procurar pelo serviço de Ouvidoria do Município, do Estado ou da União, dependendo da hierarquia do órgão onde ocorrera a violação de direito ou maus tratos. Você tem direito a receber a informação do servidor público que cometeu essa violação ou que lhe maltratou. Junte esta confirmação com os dados do órgão onde os fatos ocorreram.


Manifeste-se. Isto vai além de DENUNCIAR. Trata-se de um DIREITO. É o respeito a você e à cidadania de todas as pessoas com deficiência.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

UM SOCO NO ESTÔMAGO


Um soco no estômago. É isso que acabei de tomar. Explico-me! Há poucos minutos acabou de passar, na Rede Globo de Televisão, o filme brasileiro “Ultima Parada 174”, do cineastra Bruno Barreto. É a arte representando a história real de um jovem chamado “Sandro” que paralisou o Brasil há alguns anos atrás com o seqüestro de ônibus da linha 174, na cidade do Rio de Janeiro.

Apesar de antigo (de 2008), somente hoje tive a oportunidade de assistir a obra. E que puta obra! O foco do filme foi contar a história de vida daquele protagonista do episódio. Uma criança que tem a sua mãe morta para sustento do tráfico, o abandono do restante da família, a vida nas ruas e envolvimento com as drogas e a prostituição, o amadurecimento na rede do tráfico e seu fim trágico. Episódio este que culminou na morte de uma das seqüestradas – na época foi divulgado que se tratava de uma professora –, e da morte do seqüestrador, aliás, muito mal explicada, dentro da viatura.

“Ultima Parada 174” me doeu no estômago. Justamente na hora em que estava jantando minha batata doce que tanto queria comer o dia inteiro! Foi-se totalmente o saber do doce e vieram as indagações sobre o contexto em que vivemos com o paladar da amargura que senti.

Como pode no Brasil haver tanta desgraça? Quantas políticas públicas sociais são inoperantes? Quantos Sandro’s estão morrendo hodiernamente frutos de histórias de vidas desgraçadas, no sentido literal da palavra?

Me dói muito ver que a política de urbanização no Brasil é uma merda. As favelas são o foco dos traficantes e muitos que ali estão acabam como fruto de seus contextos. São Sandros que não tem apoio de uma atuação política forte que combata de fato a violência e as drogas.


Me dói muito ver que a política de igualdade racial no Brasil ainda é um conto da carochinha. É como tampar os olhos com a penheira para não constatar que a maioria da população que vive na miséria brasileira não é negra! Que igualdade e liberdade existem, meu Deus, nessa terra onde os negros deixaram de ser escravos de colonos para serem escravos do tráfico e da violência? Até que ponto vão se preocupar somente com ações afirmativas com cotas para negros em universidades, se a maioria deles não sai nem do ensino primário, isto quando a vida consegue chegar lá?

Me dói muito ver que a política de amparo à pessoa em situação de rua neste Brasil é uma vergonha! Que as ONGs tentam e não estão preparadas para fazer o que é papel do Estado. E a cena em que a voluntaria chega na Candelária para fornecer um sopão e leva consigo uma emissora de televisão? E depois da chacina levar uma turma de meninos para onde? Dentro de uma favela, numa boca de fumo! E pra piorar a situação, produzir um material para divulgar o serviço? E o Estado? Inoperante em berço esplêndido!

Me dói muito ver que milhares de crianças estão nas ruas jogadas à pedagogia mais pragmática que existe: a do mundo das drogas e do tráfico. Que muitas destas crianças são vitimas da violência. Que muitos Sandros estão neste meio porque viram suas famílias se desmoronarem depois da brutalidade do crime! Que os programas de amparo a infância e a adolescência são balelas jurídicas.

Me dói muito ver que mulheres vendem seus corpos porque não tem outra alternativa ou não processaram mentalmente que podem deixar de fazer o que faziam quando moravam nas ruas, para ter em troca o dinheiro com que sustentavam seus vícios. E que essas mulheres são também, em sua maioria, mulheres negras! Até quando o imaginário de que mulher só presta “pro que se faz deitado” irá continuar nesse Brasil? Falta muito ainda para a política da mulher ser, de fato, concretizada nos ideais dos movimentos feministas.

Me dói muito ver que o papel das instituições religiosas está muito longe de ser o que deveria ser. Que os pastores querem, no fundo, no fundo, os dízimos de seus seguidores, pra aumentar seus barraquinhos. Ultimamente o barraquinho pode ser eufemismo: um carro 0 km, empresas, mansões, viagens, jóias, redes de televisão, etc. E o Cristo que dizem carregar é inoperante diante da força do tráfico e da violência enraizada.

Me dói muito ver que as instituições de recolhimento como a FEBEM tem em suas paredes “aqui se constrói o conhecimento da cidadania”, mas na prática se constrói o amadurecimento do pensamento do tráfico e da vida nas drogas. E que aquilo é uma barbaridade administrativa. É a colônia de férias das prisões. Que não chega ao seu objetivo: dar cidadania a alguém!

Me dói muito ver que estamos inseguros nas ruas. Que as políticas de segurança públicas fazem o mesmo que os líderes religiosos: vendem ilusões de prosperidade. Enquanto estes vendem a idéia aos seus alienados mentalmente de um futuro melhor por meio da “fé irracional” no que dizem visando, na realidade, seus suados míseros salários mínimos, aqueles vendem a ilusão da segurança. Segurança, no linguajar do filme: o cacete! A professora seqüestrada dentro do ônibus, coitada, foi vítima da inoperância da polícia. Os policiais que deviam ter morrido pra aprender a trabalhar direito. Onde já se viu o que fizeram? E pra piorar a situação: matam o seqüestrador a caminho da delegacia. Cadê a porra dos Direitos Humanos?

Mas sabe de uma coisa? A professora tinha que morrer mesmo! Quem disse que vida de professora vale a pena nesse Brasil? Se traficantes que matam mães de Sandros existem por aí para sustentar seus vícios, se Sandros crescem sem estrutura familiar e conceitos básicos, se pastores vendem a “alma pro diabo” em busca do seu dizimo de cada dia, se meninas negras (e brancas em menor quantidade também) se transformam em mulheres do prazer, se policiais se matam nas academias e atrofiam os cérebros para passarem nos concursos   visando somente seus excelentes salários como os são ultimamente, é porque a educação, é talvez, a pior desgraça de todas essas. Tudo o que o filme retratou representa um modelo de educação ultrapassada, colonial, retrógrada, que ainda existe neste Brasil. Uma educação que não acompanha seu tempo e seus temas, suas desgraças, percalços.

Que dor no estômago sinto que atormenta até meu cérebro, a ponto de vomitar tudo isto aqui já as 01:20 da madrugada. Dor por saber que ainda estamos muito longes de efetivar as políticas sociais nessa terra brasileira. Dói por saber que os políticos não entendem (ou pouco se importam com isso) que todas as desgraças que acontecem são frutos da má política social.

É vital pra continuidade da espécie humana que se pare tudo e dê prioridade à isto. Não dá mais pra se ter política pra sustentar burgueses engravatados e as engomadas em seus escritórios ministeriais. E que estes fiquem espertos, porque podem também ser vítimas deste sistema inacreditável, como foi, numa cena do filme, a assaltada no trânsito pelo seqüestrador Sandro, e pagarem com suas próprias vidas. Talvez aí alguém resolvam fazer algo.

Sandros mil estão sendo vítimas de si mesmos, de suas historias de vida. Transformam-se em Alessandros e morrem com o nome de “filhos de puta” conclamados pela sociedade após o impacto da mídia globalizada que tudo vê e nada faz pra mudar, se não contribui com a pobreza intelectual com os "BBBs" das vidas. Esquecem, os que gritam, que a pobre da ‘puta’, coitada, já tava morta, pelo tráfico!

Precisamos reorganizar nossas idéias para prosseguir fazendo cada um a sua parte nessa complexa e imensurável roda-gigante, onde o sistema do tráfico e da violência reflete a fraqueza das políticas sociais. É hora de repensá-las e de nos repensarmos enquanto passageiros desse ônibus, antes que chegue a nossa ÚLTIMA PARADA 174.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

OS ESPAÇOS DIGITAIS E A ACESSIBILIDADE À INFORMAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA


Estudiosos da área da acessibilidade para pessoas com deficiência comungam do entendimento de ser esta um resultado de um processo dinâmico, associado, sobretudo, ao desenvolvimento tecnológico e da sociedade em geral.

A Lei Federal n° 10.098, de 19 de dezembro de 2000, conceitua acessibilidade como “a possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações e dos sistemas e meios de comunicação por pessoa portadora de deficiência ou mobilidade reduzida”.

Pode-se analisar a acessibilidade a partir do espaço onde esta será desenvolvida: num espaço físico ou num espaço digital.

A acessibilidade arquitetônica e urbanística dos espaços físicos tem, durante as últimas décadas, alcançando resultados positivos, em razão da efetivação das legislações existentes e dos movimentos sociais que, quase sempre via judicial, conseguem com que as administrações públicas realizem tais obras de acessibilidade.

Atualmente, e com o avanço das conquistas, os movimentos pró-acessibilidade caminham para que também ocorram avanços neste outro espaço, o digital.

O espaço digital é distinto do espaço tridimensional (3D). Passa dos arquivos, dos livros, dos filmes, da musica, embora penetre neste.

São propriedades intrínsecas do espaço digital, segundo De Las Heras (2000):

a) densidade: porém não sofre saturação, sempre há possibilidade de aumentar a capacidade de armazenamento de informações.

b) ubiqüidade: a mesma informação está em lugares distintos;

c) deslocação: é possível se deslocar de um espaço para outro, através de um endereço URL.

d) hipertextualidade: há uma nova geometria, sem necessidade de paginas, e com a fixação da atenção no que está escrito pode-se abrir novas conexões.

Numa análise social, Echeverria (2001) propõe o uso do termo “terceiro entorno (E3)”.

Trata-se de um novo espaço-tempo onde os seres humanos se desenvolvem, tanto no sentido individual, como comunitário, lingüístico, por meio das tecnologias de informação e comunicações (TIC). O termo E1 equivaleria para o entorno rural, à sociedade agrícola. O E2 ao entorno urbano, com a sociedade industrial.

O autor trabalha sete tipos de construtoras do E3:

a) o telefone;
b) a televisão – rádiotelevisão;
c) o dinheiro eletrônico;
d) redes telemáticas – internet;
e) tecnologias multimídia – CD-ROM, DVDs;
f) videojogos;
g) tecnologias de realidade virtual.

De Las Heras (2000) salienta que neste espaço-tempo permite-se não apenas a reprodução do que se faz no espaço tridimensional, mas também a criação do “novo”, daquilo que ainda não foi possível se fazer no espaço tridimensional.

Uma das possibilidades de criar o novo é o desenvolvimento da acessibilidade à informação. O maior obstáculo ao acesso à informação é fazer com que os princípios de acessibilidade sejam observados nos espaços digitais, o espaço da informática e das comunicações.

Na Internet, por exemplo, para ser acessível, são necessárias ações no aspecto financeiro e também em seu formato, sua mídia. Países mais avançados no processo de informatização da sociedade têm adequado seus sítios web para que sejam acessíveis.

A W3C – World Wide Web Consortium, Comitê Internacional que atua como gestor de diretivas para internet, com atuação internacional, tem esforçado para que ocorram ações de acessibilidade no espaço digital, recomenda a adoção de dois princípios para a construção de páginas web:

a) apresentação da informação por mais de uma maneira: se for em áudio, que apresente também a versão em texto; se for uma imagem, que seja descrita.

b) produzir conteúdo compreensível e navegável: com um estilo simples, para que dificuldades com o idioma ou com o contexto em que é apresentada, não ocorram.

A existência de web sítios acessíveis está entre as exigências de igualdades de condições, conduzidas pelos movimentos de pessoas com deficiência. A não-observância pode ser considerada uma discriminação feita a uma quantidade imensurável de milhares de usuários, sobretudo se considerada aos usuários de sítios web.

O espaço digital acessível é aquele que torna disponível ao usuário, de forma autônoma, toda a informação que for franqueável (por código de acesso ou liberada para todos os usuários), independentemente de suas limitações físicas, sem que haja prejuízos quanto ao conteúdo da informação, por meio da apresentação da informação de formas múltiplas (seja com redundância ou com sistemas automáticos de transcrição de mídias por meio de ajudas técnicas – sistemas de leitura de tela, de reconhecimento da fala, simuladores de teclados), para que maximizem as habilidades dos usuários com deficiência.

Romañach (2002) conceitua em três níveis os obstáculos para a acessibilidade digital:

a) degrau 1: possibilidade de acionar os terminais de acesso à informação como telefones, computadores, baixas de auto-atendimento bancários, quiosques virtuais, etc.

b) degrau 2: possibilidade de interagir com os elementos da interface humano-máquina como menus de seleção, botões lógicos, sistemas de validação, etc.

c) degrau 3: possibilidade de aceder os conteúdos que são disponibilizados nos terminais, sejam informações financeiras, lúdica, geral, vídeos, imagens, áudios, etc.

A extensão do ser humano, por meios de instrumentos, evidenciada às pessoas com deficiência, se dá por meio de ajudas técnicas.

Segundo a Organização Internacional de Normalização, em sua ISSO 9999, pode-se entender como ajuda técnica “qualquer produto, instrumento, equipamento ou sistema técnico utilizado por uma pessoa com limitações oriundas de deficiência, fabricado especificamente ou disponível no mercado, criado para prevenir, compensar, mitigar ou neutralizar a deficiência, incapacidade ou menus valia dessa pessoa”.

Mazzoni e Torres (2001) categorizam as ajudas técnicas informáticas.

Na educação, encontram sistemas de ajuda para:

a) trabalhar com o computador.
b) aprendizagem: para desenvolvimento da família, aprender e desenvolver línguas de sinais, sobre Braille, fixar condutas esperadas, etc.
c) comunicar por meio do computador: utilizando linguagens verbais ou não-verbais.

No âmbito mais geral, para:

a) sistemas para mobilidade
b) sistemas para controle do entorno: como acender e apagar as luzes, abrir portas, acionar aparelhos domésticos.

Se para algumas pessoas as ajudas técnicas atuam como complemento, para outras, são imprescindíveis, uma vez que é por meio delas que seus intelectos conseguem se expressar e conseguem comunicar com o mundo.

É importante ter sempre em mente que nem tudo que é divulgado na forma digital vai ser recebido pelo usuário, se não foi pensado no aspecto da acessibilidade. A redundância é obtida quando se cuida para que haja um equivalente textual para os conteúdos divulgados por meio de imagens ou sons, ou seja, deve-se combinar o uso do som com o uso do texto e as imagens. Estas, quando usadas, sejam em forma estática ou dinâmica, devem ter um correspondente textual.

Atualmente existem ajudas técnicas que permitem transformar o texto escrito digitalizado em som, e a possibilidade de captar textos falados e transformá-los em texto escrito digitalizado, porém as imagens, sejam estáticas ou em movimento, necessitam de descrição para se obter um equivalente textual para as mesmas.

TORRES (2002) apresenta sugestões de adequações de acessibilidade em bibliotecas para pessoas com limitações com a audição, a visão e motricidade. Diz respeito às ajudas técnicas a serem adquiridas pelas bibliotecas, como requisitos mínimos, que devem ser solicitados aos desenvolvedores dos sistemas de informação e documentação:

a) Adequações de acessibilidade para usuários com limitações associadas à motricidade:

- independência do uso do mouse, como dispositivo apontador;
- independência do uso do teclado, com teclado via software;
- independência do uso simultâneo de varias teclas;
- flexibilidade no tempo de resposta, na interação com o sistema.

b) Adequações de acessibilidade para usuários com limitações associadas à audição:

- materiais audiovisuais devem ser legendados, tanto com legendas em texto como em Libras;
- opções para controle do volume;
- acesso visual à informação sonora;
- serviços para a transcrição em texto de documentos digitais orais.

c) Adequações de acessibilidade para usuários com limitações associadas à visão:

- ampliação da imagem e modificação dos efeitos de contraste na tela;
- independência do uso do mouse como apontador, com um uso maior do teclado;
- uso de software (Dosvox e Virtual Vision) para a leitura de tela, ao qual está associado sintetizador de voz;
- opção para o acesso sonoro à informação;
- opções para o acesso à informação em Braille, seja na forma de texto impresso, seja por intermédio do periférico linha Braille.

Pessoas que dispõem do acesso à Internet e a computadores, quando procuram informações, transitam, sobretudo, em espaços digitais. Caso ofereçam acessibilidade a todos, respeitando capacidades e limitações, estes podem ser um espaço mais socialmente inclusivo. Tal realidade se concretizará, caso faça uso combinado de ajudas técnicas com conteúdos digitais acessíveis.


BIBLIOGRAFIA:

DE LAS HERAS, A R. Las propriedades del espacio digital. In: CONGRESO IBEROLATINOAMERICANO DE INFORMATICA EDUCATIVA ESPECIAL, 2. 2000: Córdoba. Anais... Córdoba : 2000. 1 CD-ROM.

ECHEVERRIA, Javier. Impacto social y lingüístico de las nuevas tecnologias de la información y las comunicaciones. In: TROIS espaces linguistiques face aux défis de la mondialisation. Paris: 2001.

ROMAÑACH, Javier. Sociedad de la informacióm para todos. Disponível em: http://ww.sidar.org/docus/sit.doc. Acesso em: 12 jul 2002.

TORRES, Elisabeth Fátima et al. A acessibilidade à informação no espaço digital. Ci. Inf., Brasília, v. 31. n. 3, p.83-91, set/dez. 2002.


COMO CITAR ESTE ARTIGO:

NOVAES, Edmarcius Carvalho. Os espaços digitais e a acessibilidade à informação para pessoas com deficiência. Disponível em: http://www.edmarciuscarvalho.blogspot.com em 04 de janeiro de 2011.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

DESEJOS PARA 2011



Nunca fui de fazer planos para o ano que se inicia. Na realidade, sempre tenho metas a curto, médio e longo prazo. Cultivo na mente muitos planos, projetos e idéias a desenvolver. São tantas que até as perco, de vez em quando.

Mas este ano eu resolvi parar alguns minutos e, considerando o ano de 2011 elencar 11 desejos específicos para o período que se inicia. Não sei se em seu final, ao reler o que hoje escrevo, obterei sucesso ao somá-los.

Pode ser que até lá meu contexto já tenha tanto se alterado, que estes desejos também tenham sofrido alterações. Mas é o que hoje, nos primeiros dias do ano, desejo. Terei os 365 dias pela frente para concretizá-los. Trata-se de desejos pessoais e coletivos. A ordem abaixo apresentada é aleatória. Bom será se todos se concretizarem:


01) VIVER NUM BRASIL MAIS IGUALITÁRIO: 


Desejo que o Brasil avance neste novo ano que se inicia. Que a primeira presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, possa fazer com que as conquistas de direitos sociais alcançadas pelo ex-presidente Lula se fortaleçam, com um caráter técnico e com responsabilidade. Espero que Governo Dilma que ora se inicia, se dedique às ações sociais, aos direitos humanos e aos das minorias, à liberdade de expressão, ao fortalecimento do mercado de trabalho. Espero que a educação seja valorizada. Que este governo reconheça a profissão do mestre, dando-lhe, de fato, um salário digno. Que a violência se transforme em ações sociais, que a inclusão dos excluídos, de fato ocorra, porém reconhecendo as diversidades existentes entre estes. Espero que Dilma, presidenta que mereceu minha confiança, meu voto e envolvimento político, entre na história deste país não somente por ser a primeira mulher a assumir essa função pública, mas por ter fortalecido o crescimento do nosso país e por ter realizado o que muitos ainda até hoje não conseguiram.


02) CONTINUAR ESCREVENDO: 



Pretendo neste novo ano publicar mais. Tenho percebido que quanto mais escrevo, mais aprendo. Pretendo detalhar um esqueleto que já fiz sobre Acessibilidade Comunicativa, uma perspectiva sócio-lingüística e jurídica, em formato de livro.


03) AVANÇAR NOS ESTUDOS:


Pretendo concluir minhas duas pós e o MBA e avançar rumo ao mestrado. Hoje sei que realmente não estava preparado em 2008 quando tentei. Este é um dos meus maiores desejos para este ano. Com ele, outras vitórias virão.


04) ME PERMITIR A UMA NOVA EXPERIÊNCIA DE VIVÊNCIA NUMA COMUNIDADE DE FÉ:
 


Acho que as experiências negativas tem o seu tempo e sua importância na vida de qualquer pessoa. Não posso me fechar a viver relacionamentos tendo por base a união congregacional em razão de outras experiências vividas. É lógico que a intensidade e abertura ao envolvimento serão regradas, racionais. 


05) VIAJAR PARA CONHECER CIDADES NOVAS E O EXTERIOR: 

Quero muito viajar mais este ano. Conhecer lugares novos com uma boa companhia. E se possível a Europa. Um dos meus sonhos. 


06) CUIDAR DA MINHA SAUDE:



Em 2010 no primeiro semestre estava praticando natação e fazendo muito exercício físico e por isso, muito bem de saúde. O ritmo acelerado do segundo semestre me fez abdicar disto. Este ano de 2011, vou dar prioridade a minha saúde e à prática esportiva.


07) E DO MEU CORAÇÃO:

Mais do que  cuidar do corpo, cuidar do coração. É dele que procedem as forças para tudo, até para exercitar o corpo. Não vou mais me cobrar pelas derrotas por ter me entregado a quem não estava a altura. Continuarei na filosofia da sábia Ana Carolina: “Vou deixar a rua me levar, ver a cidade se acender...”. E se um sábio novo amor aparecer no caminho, trazendo paz ao meu coração, tudo pode acontecer.


08) COMPRAR UM CARRO:

Preciso urgentemente disto. Chega de moto, principalmente em dias chuvosos. Quase não tenho desejos materiais, exceto este, ultimamente.


09) QUALIDADE NA VIDA: 


Quero ler mais sobre tudo, conhecer culturas e pensamentos diversos. Poder ir mais ao cinema, nem que seja sozinho. Me emocionar mais. Divertir mais. Abraçar mais. Valorizar mais as pessoas da minha família. Não me cobrar muito pelos erros, somente aprender com eles o que possam me ensinar.


10) SER MAIS SELETO NAS AMIZADES, PORÉM SINCERO E DEDICADO:

Tenho percebido que preciso e posso ser mais seleto nas amizades. A seletividade traz benefícios: ter poucos amigos, porém verdadeiros, pode nos dar a certeza de que os sentimentos são sinceros, os interesses são desinteressados. Poder sair mais com meus amigos, passear juntos, rir juntos, chorar juntos. Qualidade é a palavra de ordem.


11) ME ENVOLVER NUMA AÇÃO SOCIAL: 


Quero ter a experiência de me envolver em alguma ação social. Já tenho em mente um possível público. A escolha se deve à experiências vividas. Quero ser útil, de forma voluntária, em prol de alguém. Ajudar com meu singelo conhecimento, com minha modesta disponibilidade. Esse grupo é vitima de estigmas e precisa de pessoas que vistam a camisa e que os ame, incondicionalmente.



Já comecei o ano trabalhando muito e gosto muito disto tudo. Pretendo continuar assim em 2011.

Além do trabalho, desejo essencialmente em 2011: Paz, saúde e amor.

Paz para ter saúde e amor.


Saúde para ter paz e amor.


Amor para ter paz e saúde.

Que 2011 seja significativo!