domingo, 26 de setembro de 2010

26 DE SETEMBRO - DIA NACIONAL DOS SURDOS: AVANÇOS E DESAFIOS


No dia 26 de setembro é comemorado, pela comunidade formada por pessoas surdas do Brasil, o Dia Nacional do Surdo. A data se deve a inauguração da primeira escola para surdos no país, neste dia no ano de 1857, com o nome de Instituto Nacional de Surdos Mudos do Rio de Janeiro, hoje INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos.

Atualmente, a data especial serve para comemoração das vitórias deste segmento social, que nos últimos 15 anos foram muitas. Destaco como a principal, o reconhecimento legal da Língua Brasileira de Sinais – Libras, por meio da Lei n°10.436, de 24 de abril de 2002 e de sua regulamentação pelo Decreto n° 5.626, de 22 de dezembro de 2005, ratificando a diferenciação lingüística desta comunidade e em razão disto, direitos específicos, como por exemplo, o atendimento por meio de profissionais que dominam tal língua, a criação do curso de graduação de Letras-Libras e a aplicação de exames nacionais de proficiência em instrução e interpretação/tradução, para certificação e reconhecimento profissional dos que já dominavam o uso da língua de sinais.

A proposta de inclusão de pessoas surdas na rede regular de ensino hoje se dá com o acompanhamento de profissionais tradutores-intérpretes de Libras. Mesmo que haja posicionamentos contrários, os quais endosso – entendo que a educação básica das pessoas surdas deve se ocorrer num espaço próprio e não integrativo com pessoas ouvintes – a possibilidade do ajuda técnica destes profissionais é uma Política Pública no sentido de reconhecer a existência de uma diferenciação lingüística. É a garantia do direito a educação a partir de uma realidade diferenciada existente, e desta forma, reconhecida.

Outro destaque é a inclusão destas pessoas no mercado de trabalho, por meio da Lei n° 8.213/91 que garante uma porcentagem de vagas em empresas com determinado números de funcionários para pessoas com deficiência. As pessoas surdas são as preferidas pelas empresas que necessitam cumprir esta legislação. Além de significar a não penalização com multas por descumprimento, tais empresas entendem que incluir nos seus quadros de funcionários pessoas surdas é mais fácil do que pessoas de outras categorias de deficiência, como os físicos, sobretudo cadeirantes. Na verdade, a inclusão destas pessoas surdas faz com que a rotina das empresas se altere somente linguisticamente. É um profissional que utiliza de outra língua para se comunicar. Nada que um curso de capacitação de funcionários – isto para uma empresa que entende o real sentido de responsabilidade social – não resolva. Se a contratação fosse de um deficiente físico, por exemplo, cadeirante, seriam necessárias adaptações, sobretudo, de caráter arquitetônico, o que demanda toda uma articulação que envolve custos elevados. Esta é uma questão que precisa ser mais bem discutida, para que todo o segmento da pessoa com deficiência seja beneficiado, de forma isonômica.

Para os concursos públicos, a comunidade surda foi contemplada recentemente por uma resolução do CONADE – Conselho Nacional de Direitos das Pessoas com Deficiência, a de n° 1, que traça normas de acessibilidade comunicativa para a realização de concursos públicos, como aplicação das provas por meio de equipamento midiático com o conteúdo interpretado em Libras. Um avanço que fará enorme diferença para o nível de aprovações em concursos públicos por pessoas surdas. Se você tiver interesse em ler a resolução, acesse: 
http://edmarciuscarvalho.blogspot.com/2010/08/pessoas-surdas-conade-edita.html

Todas essas ações, na realidade, visam garantir a autonomia produtiva para essas pessoas surdas, na perspectiva de que não vivam com a quantia até então recebida pela concessão do beneficio socioassistencial BPC – Beneficio de Prestação Continuada, operacionalizado pela Previdência Social. Este mesmo, recentemente passou por alterações significativas, que podem beneficiar pessoas surdas que já tiveram a solicitação indeferida. A partir de agora, a análise para a concessão do BPC passa a ser médica e socioassistencial, pois os candidatos a perceberem tal benefício precisam passar por perícia médica e também por Assistente Social. Outro significativo avanço, já que o mercado de trabalho, mesmo com todas essas possibilidades, é muito competitivo.

Na área da saúde, o decreto regulamentar da Lei de Libras garante em seu artigo 25 o atendimento por profissionais da saúde que utilizam da língua de sinais. O Ministério da Saúde, em relação às pessoas surdas vem desenvolvendo um trabalho de caráter preventivo e de diagnóstico após o nascimento. A Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva, instituída pela Portaria n° 2703/GM, de 28 de dezembro de 2004, garante o atendimento integral, com ações de atenção básica (prevenção e identificação precoce de problemas auditivos) e de média e alta complexidade (triagem, diagnóstico, tratamento clinico e reabilitação com fornecimento de aparelhos auditivos e terapia fonoaudiológica).

Mesmo que haja críticas sobre um possível etnocentrismo clínico na política da saúde, o Brasil é referência nas ações de diagnóstico e reabilitação auditiva. É necessário o envolvimento político dos atores sociais para que sejam também desenvolvidas ações na área da saúde para pessoas surdas que não desejam a realização de procedimentos clínicos visando à recuperação da audição. Ações de adaptação de materiais de orientação sobre direitos e atenções da área da saúde, em Língua Brasileira de Sinais, são necessárias. A disponibilização de orientações em Libras, sobretudo de direitos sexuais que garantam a prática sexual sadia das pessoas surdas é essencial, considerando o alto índice de pessoas surdas diagnosticadas como portadoras de doenças sexualmente transmissíveis, por exemplo, o que ocorre por falta de conhecimento, já que as orientações passadas para a população não são adaptadas em Libras.

Se avanços ocorreram, as pessoas surdas ainda encontram alguns desafios. Encará-los e posicionar favoráveis em relação a estes, irá garantir-lhes novos direitos de inclusão social e bem estar social. Dentre vários, destaco:


a) a necessidade de apoiar o reconhecimento profissional do tradutor-intérprete de Libras e o fortalecimento da categoria profissional:


É necessário que a profissão de tradutor-intérprete de Libras seja reconhecida, direitos trabalhistas garantidos, como carga horária semanal específica, base salarial, condições de trabalho, adicionais específicos, dentre outros. A categoria destes profissionais reconhecida e valorizada garantirá melhores serviços prestados para as pessoas surdas. O uso da Língua Brasileira de Sinais será mais bem disseminado e de forma técnica. O fim de auxílios assistencialistas acontecerá e as pessoas surdas serão, de forma plena, atendidas quanto aos direitos de comunicação e expressão especifica, de forma técnica.

(Leia mais a respeito em "Lei regulamenta profissão de tradutor e interprete de Libras com vetos", publicado no dia  9 de outubro de 2010. Texto atualizado em 26/09/2012).




b) maior envolvimento com as discussões da agenda política de inclusão das pessoas com deficiência.

A atuação conjunta para a conquista de direitos de todo um segmento produz melhor efeitos do que a realização de ações separadas. O segmento da pessoa com deficiência possui inúmeras especificidades, entretanto, é necessário que as pessoas surdas atuem coadunando com os interesses de toda essa coletividade, porque, quando da luta de direitos específicos, todo um segmento atuará para que a especificidade de determinada categoria seja reconhecida. A maior prova disto é a aprovação da Resolução n° 1 do CONADE acima citada que regulamenta benefícios específicos para a comunidade surda. A atuação em conjunto produz melhores efeitos do que atuação a parte.


c) conhecer os espaços públicos de controle social e participar ativamente destes.

É preciso que as pessoas surdas se envolvam nas questões que precisam ser discutidas. Políticas Públicas precisam ser enfrentadas pela sociedade a partir de espaços de controle social existentes, como os Conselhos Municipais, Estaduais e Nacionais. É necessário que as pessoas surdas sejam atuantes ativos dos Conselhos de Pessoas com Deficiência de todas as instâncias, assim como de outros. É necessária atuação, enquanto cidadãos, de pessoas surdas em Conselhos de debatam temáticas como educação, trabalho e geração de renda, saúde, organização urbana, dentre outros.


d) lutar favoravelmente por uma política educacional que garanta na prática a existência de escolas especiais para pessoas surdas na educação básica, porém não com caráter complementar / contraturno.

Escolas especiais são espaços próprios para que pessoas surdas possam adquirir sua língua maternal: Libras. É necessária a análise do papel da escola: educar ou socializar. A inclusão de pessoas surda na escola precisa, a meu ver, reconhecer de fato a diferenciação lingüística. Não há como se formar uma identidade onde a língua materna não é a referencial. As escolas especiais para surdos ou classes específicas para surdos têm a sua importância na historia da educação de pessoas surdas, com seus efeitos, positivos.

É necessário que as pessoas surdas ou seus responsáveis possam optar qual modelo de educação desejam ter ou dar aos seus filhos surdos: educação especial em escolas especiais para surdos ou inserção na rede regular de ensino, onde esse aluno surdo será educado na Língua Portuguesa, e em razão disto, ser penalizado por atendimento em contra-turno, uma vez que o turno normal não atendeu as necessidades educacionais do aluno surdo, apenas lhe serviu para socializar.


e) defender o cumprimento da Norma da ABNT 15290 de 2005 que garante a acessibilidade comunicativa na televisão.

É necessária a luta para o cumprimento desta regulamentação. A acessibilidade comunicativa nos programas de televisão, além do uso de closed caption, deve acontecer com o uso de interpretação em Língua Brasileira de Sinais de todos os programas. Isso produzirá na sociedade o interesse pela língua, pela comunidade surda, com efeitos positivos para a popularização desse segundo idioma brasileiro e para a concessão de outros direitos para as pessoas surdas.


f) fortalecimento das associações de surdos como entidades representativas para a garantia de direitos das pessoas surdas, sobretudo, judicialmente.
As associações de pessoas surdas podem, dependendo de seus estatutos, representarem as pessoas surdas em questões judiciais. Todos estes direitos, quando não conseguidos amigavelmente, por meio do diálogo e de procedimentos administrativos, precisam ser garantidos judicialmente. Ações coletivas é o caminho para isto. As associações de pessoas surdas, juridicamente assessoradas, podem atuar no pólo ativo destas ações, que produzirão efeitos judiciais a favor das pessoas surdas. Assim, é necessário que as associações de surdos possuam também outro caráter, não apenas de conhecimento da língua dos surdos, de discussões internas, atividades esportivas, dentre outras, todas importantes, entretanto, é necessário avançar.

26 de setembro: Dia Nacional dos Surdos. Uma data para se comemorar, também para avaliar, para que outros avanços aconteçam. Feliz Dia dos Surdos!


LEIA TAMBÉM:

1. Reflexões acerca da Identidade Cultural Surda.


2. Artigo Publicado na Revista da Feneis: "Garantias Legais das Pessoas Surdas - Conquistas e Desafios"

3. Reflexões acerca da Identidade Cultural Surda: Um olhar sobre o processo de ensino-aprendizagem do outro

4. Tirando dúvidas sobre Libras - Língua Brasileira de Sinais.

5. Participação em Documentário: Acessibilidade Comunicativa na Televisão para Pessoas Surdas.

6. Qual a grafia correta da Língua dos Surdos?.

7. Os Espaços Digitais e a Acessibilidade à Informação para Pessoas com Deficiência

8. Artigo Publicado na Revista Profissão Mestre - Educação de Surdos

9. Pessoas Surdas: CONADE edita recomendação que altera tratamento em concursos públicos



COMO CITAR ESTE ARTIGO:

NOVAES, Edmarcius Carvalho. "26 DE SETEMBRO - DIA NACIONAL DOS SURDOS: Avanços e Desafios". Disponível em http://www.edmarciuscarvalho.blogspot.com/ em 26 de setembro de 2010.



Recomendo a leitura do meu livro SURDOS: Educação, Direito e Cidadania, publicado pela WAK Editora.

Sinopse:

A formação de uma sociedade para todos, em que as diferenças são consideradas e respeitadas, passa pela educação de qualidade e acessível a todos, pela existência de direitos reconhecidos e pelo conhecimento das formas corretas para acessar tais garantias, como expressão de cidadania. Este livro resgata a dignidade humana das pessoas surdas ao focar o processo histórico inclusivo deste segmento social por meio do realce à sua diferenciação, sobretudo, linguística e cultural, do estudo de seus direitos elementares: educação, trabalho e saúde, além de analisar detalhadamente estes direitos e os mecanismos jurídicos para efetivá-los, individualmente ou coletivamente.

Acesse:
http://www.wakeditora.com.br/mostrar_livro/mostrar_livro.php?livro=5848

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

E DEUS RESOLVEU CONVERSAR ...

Foto tirada em Belo Horizonte, no dia 21 de julho de 2010.

A morte, mesmo que anunciada, assusta. Ela tem o poder de parar toda nossa rotina e nos fazer chorar, lembrar de momentos em que fomos felizes e das conversas que dedicamos com alguém que gostamos e que já se foi. Esse mesmo alguém que a morte resolveu vitimar.

A morte é cretina, ordinária. Ela vem com tudo e não há nada que a faça parar. Nem ela e seus efeitos. Continuar a vida depois de sua passagem demanda de tempo e de apoio – dos que ficaram, da fé transcendental e das crenças religiosas sobre o pós-morte, do trabalho para ocupar a mente, e do tempo.

Sua vítima mais próxima de mim foi atingida na ultima quarta. Tia Lora. Para quem não conhece minha historia de vida, não sabe o significado desta tia. Explico. Em 2008 na seqüência de um entendimento de estilo de vida até então vivido, fui para a cidade de Belo Horizonte cursar Teologia. Esse era o contexto em que me via e cursar essa faculdade seria o ápice de uma trajetória. O verbo foi conjugado no tempo certo: seria. Em razão de vários acontecimentos, vi-me desamparado por todos que prometeram apoio. Tia Lora apareceu para mim como um anjo, que mesmo passando por dificuldades físicas em razão de um doloroso tratamento quimioterápico, abriu sua casa e me acolheu literalmente. Vivi o ano de 2008 dependendo quase que exclusivamente dela. Comer, beber, ter um teto, ou seja, o básico me foi dado por ela. Gratuitamente. Generosamente. Não media esforços para que eu passasse por aquele período da minha vida, no meu tempo.

Pensando agora nos fatos, resgatando as memórias de nossas várias conversas, entendo que ela sabia desde o inicio que aquele não seria o meu caminho. Sabia que aquele período seria o período mais crítico da minha vida, porém o mais importante para eu me definir, me posicionar diante das dificuldades e diversidade da vida, me conhecer enquanto ser, humano, profissional, criatura, sexual e religiosamente. Nunca se posicionou claramente a este respeito, assim ensinou-me que algumas coisas não precisam ser ditas, apenas entendidas e respeitadas.

Deu-me outros ensinamentos, conselhos – valiosos e agora saudosos – sobre o bem viver. Sobre o que é ser cristão. Sobre a importância de estarmos bem com o Cristo e não com a instituição religiosa e suas mazelas. Quando esse período se concluiu e entendi que realmente ele fora importante, porém que o certo seria necessariamente recomeçar, agora de forma mais racional e pragmático, Tia Lora foi novamente um anjo. Mesmo tendo sua situação de saúde piorando e já construído em mim um amparo para seu tratamento, em momento algum se posicionou diferente. Novamente se adaptou e seguiu sua vida, agora sem a ‘obrigação’ que escolheu ter de cuidar de mim.

Com Tia Lora pude vivenciar a dificuldade que as pessoas portadoras de doença oncológica passam. Foram dez meses freqüentando quase semanalmente os hospitais Mario Pena e o Luxemburgo na cidade de Belo Horizonte, passando horas e mais horas dentro dos lotados ônibus do transporte público e mais horas e horas de quimioterapia. Presenciei desmaios, dias bons em que ela não aparentava estar doente e dias difíceis, onde a dor já era sentida e ficar deitada e dormindo era o melhor a se fazer. Presenciei a crença durante todo esse tempo no Deus em que cria. Nunca o sentimento de que aquela doença seria penalização por pecados. Alias, para mim, Tia Lora, não tinha pecados, e se o câncer fosse penalização, precisaria reavaliar as características de Deus. Mas prefiro entender que Deus só concede aquilo que suportarmos. E sabe? É verdade. Ela suportou aquela maldita doença até o fim, bravamente.

Vi também o carinho de uma mãe por seus quatro filhos e seus netos. A preocupação em deixá-los amparados após sua partida. A preocupação com o inventário. A preocupação com o bem estar e a saúde de seus filhos, mesmo estes, às vezes – e como é normal – atarefados em seus trabalhos, não podendo estar muito presentes ao seu redor.

Para mim, Tia Lora, representou o que havia de bom durante todo aquele período. Foi o sinônimo de que nas maiores provações, Ele manda anjos para cuidar de nós. Tia Lora foi mais que uma mãe e um pai emprestado, foi um anjo. O quanto cresci, aprendi, evolui durante esse ano em que convivi com ela! Nossas conversas sobre os mais diversos assuntos, sempre com seus conselhos, de quem já tinha vivido o bastante para saber aconselhar o melhor para mim, sempre me acompanharão. Sua demonstração de afeto mesmo calada e sem contatos físicos me fez ver que se pode amar sem ser pegajoso. Sua força de vontade de viver, atravessando de cabeça erguida e corajosamente, todo seu tratamento quimioterápico, lutando contra a morte até o ultimo momento. São ensinamentos que ficam neste momento.

Hoje, quase dois anos depois desse período doloroso em que vivi, onde sonhos foram exterminados pela crueldade da realidade encontrada, onde paradigmas religiosos me foram furtados pelo o que há de mais podre atrás das cortinas das organizações religiosas, onde a necessidade de se conhecer e se definir enquanto às crenças e orientações se fez e se realizou, posso olhar para trás e ver que evolui. Fez-me bem. Porém não posso e não devo nunca, em momento algum, esquecer do maior ensinamento que tive: o amor, o apoio, nos maiores momentos de dificuldades em que passamos na vida, vem de onde menos esperávamos. Vem dos anjos. Hoje eu sei. Vivenciei. Anjos existem. Tia Lora foi um deles. Pena que Deus gostou tanto das conversas que ouviu e dos conselhos de sua criatura que resolveu chamá-la para conversar. Tia Lora essa hora, descansada das dores terminais, está com certeza com o Pai. Sua missão de ser anjo na vida de todos que com ela conviveu se concretizou.

Ficam os ensinamentos, os conselhos, as reflexões a se fazer sobre o que é importante, e principalmente, o exemplo de vida, e a certeza de que ganhei um anjo, agora do outro lado da vida. Descanse em paz, Tia Lora!

domingo, 19 de setembro de 2010

TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO – TICs PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA



TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO – TICs
Conjunto de meios de tratamento, armazenamento e transmissão da informação, em função da união da informática, da telecomunicação e do audiovisual.

Superação de uma sociedade industrial para uma sociedade da informação, em rede, baseada na tecnologia (CASTELLS, 2002).

Há a transformação do mundo, sem fronteiras, sem delimitação de territórios. Precisa-se desconstruir e reconstruir conceitos.

A internet é o coração de um novo paradigma sociotécnico, que constitui na realidade a base material de nossas vidas e de nossas formas de relação, de trabalho e de comunicação. (CASTELLS, 2003).

Sec. XV Johann Gutenerg criou a impressora. Século XX criaram os computadores e em poucos anos a rede mundial que os conecta.

Tecnologia x corpo: O corpo determina a identidade e as formas de socialização. No ciberespaço essa identidade é ambígua, uma vez que não se podem ter certezas. Há novas formas de sociabilidade. Nele, o corpo se torna um detalhe. É um hipercorpo: hibrido e mundializado por conexões de corpos pelas redes digitais (PIERRE LÉVY, 1996).

No ciberespaço, os princípios de exclusão social são diminuídos e transgredidos.

Inclusão: “sociedade começa a perceber a existência de pessoas portadoras de deficiência e a se organizar, para acolhê-las, e de outro, as próprias pessoas com deficiência começam a se mostrar, a reivindicar seus espaços, a exercer seu papel de cidadãs”. (GIL, 2002).

Inclusão digital não é somente dar acesso ao computador, é ter a possibilidade de compreender o sistema com o qual opera. Exclusão digital não é somente não ter acesso a bens eletrônicos, mas continuar incapaz de pensar, criar e organizar novas formas de produção e distribuição de informação (conhecimentos simbólicos e materiais).

ACESSIBILIDADE:

Acesso de qualquer pessoa, incluindo as pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida, ao meio físico da sociedade, ao transporte e à comunicação, garantindo sua segurança e autonomia.

A pessoa com deficiência é incluída na era digital a partir da tecnologia assistiva;

TECNOLOGIA ASSISTIVA

São recursos para a autonomia e inclusão sociodigital de pessoas com deficiências. É toda e qualquer ferramenta ou recurso utilizado com a finalidade de proporcionar uma maior independência e autonomia à pessoa com deficiência.

Também é chamada de ajuda técnica (qualquer produto, instrumento, estratégia, serviço e prática utilizados por pessoas com deficiência e pessoas idosas, especialmente produzidas ou geralmente disponíveis para prevenir, compensar, aliviar ou neutralizar uma deficiência, incapacidade ou desvantagem e melhorar a autonomia e a qualidade de vida dos indivíduos).

MEIOS:

Utilizam-se as Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs como tecnologia assistiva quando o próprio computador é a ajuda técnica para atingir um determinado objetivo. Por exemplo a utilização do computador como caderno eletrônico por quem não consegue escrever no caderno de papel.

Utilizam-se as Tecnologias de Informação e Comunicação por meio de tecnologia assistiva quando o objetivo final desejado é a utilização do próprio computador, para o que são necessárias determinadas ajudas técnicas que permitam ou facilitem esta tarefa. Por exemplo, as adaptações de teclado, de mouse, softwares, etc.

FINALIDADES:


a) Recurso para desenvolver as potencialidades cognitivas
b) Proporcionar auto-estima e autonomia para pessoas com necessidades especiais

ACESSIBIILIDADE - Três noções:

A) Usuários – nenhum obstáculo deve ser imposto ao individuo face às suas capacidades sensoriais e funcionais

b) Situação – o sistema é acessível e utilizável em diversas situações, independentemente do software, comunicações e equipamentos

c) Ambiente – significa que o acesso não é condicionado pelo ambiente físico envolvente, exterior ou interior.

Principais dificuldades de pessoas cegas no uso da internet:

a) Obter informações apresentadas visualmente
b) Interagir usando um dispositivo diferente do teclado
c) Distinguir rapidamente os links num documento
d) Navegar através de conceitos espaciais
e) Distinguir entre outros sons uma voz produzida por síntese

AREAS DE UTILIZAÇOES DAS TICs – SANTAROSA (1997)
01) Como Sistemas Auxiliares ou Prótese para a Comunicação
O uso dessas tecnologias pode ser a única forma em que pessoas com deficiência possam vir a se comunicar e serem inseridas na sociedade.
Exemplo – tetraplégico escrevendo e digitando com uso de próteses para utilizar o teclado.

02) Como Controle do Ambiente

Possibilita pessoa com deficiência física comandar de forma remota, aparelhos domésticos, fechar e abrir portas, apagar a luz, ou seja, consiga ser mais independente nas atividades cotidianas.

03) Como Meio de Inserção no Mundo do Trabalho Profissional
Pessoas com grave comprometimento motor podem tornar-se cidadãs ativas e produtivas, em vários casos garantindo seu sustento, por meio do uso de TICs.

04) Como Ferramentas ou Ambientes de Aprendizagem
Obs. – Não precisam ser utilizadas isoladamente, muitas vezes essas áreas se relacionam entre si.

Exemplos – tela sensível ao toque ou ao sopro, detector de ruídos, mouse alavancado à parte do corpo que possui movimento voluntario para pessoas com paralisia cerebral, qualquer que seja seu grau de comprometimento motor.

"O que define o destino da pessoa, em ultima instância, não é a deficiência em si, mas suas conseqüências sociais" – Vygotsky.
Para ele, existem dois tipos de deficiência

01) PRIMÁRIA – lesões orgânicas, lesões cerebrais, malformações orgânicas, alterações cromossômicas.

02) SECUNDÁRIA – refere-se ao desenvolvimento destes indivíduos a partir de suas relações sociais ou interações com os objetos físico-sociais.

Assim, uma deficiência primária pode converter-se, ou não, numa secundária.

CLASSIFICAÇÃO DAS ADAPTAÇÕES – PROGRAMA INFOESP – INFORMATICA, EDUCAÇÃO E NECESSIDADES ESPECIAIS – OBRAS SOCIAIS IRMA DULCE – SALVADOR

01) Adaptações físicas ou órteses
Aparelhos ou adaptações fixadas e utilizadas no corpo do usuário e que falicitem a interação com o computador.

Exemplos
a) Capacete com ponteira
b) Pulseira de pesos

02) Adaptações de hardware
Aparelhos ou adaptações presentes nos componentes físicos do computador, nos periféricos, ou mesmo, quando os próprios periféricos, em suas concepções e construção, são especiais e adaptados.

Exemplos
a) Mascara de teclado
b) Teclado adaptado
c) Switch mouse

03) Tecnologia a serviço de portadores de deficiência

Exemplos:
a) Telefone para surdos
b) Olho virtual para cegos
c) Roupas específicas para deficientes físicos
d) Software especiais de acessibilidades – Kit Saci II. Eugénio, o gênio das palavras. Comunique. MicroFênix v 2.0. DOSVOX (para cegos). Virtual Vision. Jaws. AMPLISOFT.

PESSOAS SURDAS E SIGNWRITING:

As línguas de sinais atendem às necessidades de comunicação entre os surdos. Contudo quando se trata da necessidade de comunicação através da escrita os surdos têm de recorrer à escrita na língua da sociedade falante em que vivem, porque somente as línguas sonoras têm formas estabelecidas de escrita. (COSTA, 1996).

O SignWriting é um sistema de representação gráfica das línguas de sinais que permite, através de símbolos visuais representar as configurações das mãos, seus movimentos, as expressões faciais e os deslocamentos corporais. Esse sistema tem um caráter gráfico-esquemático intuitivo que funciona como um sistema de escrita alfabética, em que as unidades básicas representam unidades gestuais fundamentais, suas propriedades e relações.

Os símbolos do alfabeto SignWriting são internacionais, e podem ser usados para escrever diferentes linguagens sinalizadas tais como a Língua Americana de Sinais, Língua Francesa de Sinais, ou LIBRAS.

Possui três estruturas básicas:
a) Posição da mão
b) Movimentos
c) Contato

Possui ainda símbolos para expressões faciais, pontos de articulação, entre outros. Diversas iniciativas estão sendo desenvolvidas para difundir as línguas de sinais, inclusive através do desenvolvimento de software, como forma de apoiar a inclusão digital e social dessas pessoas surdas, porém, uma das dificuldades encontradas para o cumprimento desse objetivo ocorre no momento de se registrar as línguas de sinais na forma escrita e, por isso, existem poucos ambientes que as utilizam como idioma principal em suas funcionalidades e interfaces.

Software que utilizam da SignWriting

a) SIGNSIM – tradutor da LS para língua oral escrita e vice-versa que efetua as particularidades da estrutura das LS.
b) Visualizador em 3D – seqüência de estados para o sinal começar. Chat que possibilita a comunicação em língua oral e em língua de sinais, via escrita em SignWriting.
c) Rybená Player – Acessibilidade web que traduz textos em português para LIBRAS.
d) Dicionário LIBRAS Ilustrado
e) Swedit
f) Sign WebMessage
g) Redes Sociais – a socialização entre deficientes, e destes com não deficientes, suscita questões acerca da possibilidade de manipulação de identidades, da formação de comunidades, suspensão do estigma e da coexistência do deficiente no ciberespaço e no espaço físico.
OBSERVAÇÃO:
Este texto é um resumo que eu produzi com o material de aula da disciplina Tecnologias Educacionais Inclusivas - Nucleo Comum: Educação e Inclusão, da Pós-Graduação em LINGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS da Faculdade Educacional da Lapa / EADCON. 2010. Produzido em 18/09/2010.

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

NOVAES, Edmarcius Carvalho. "Tecnologias de Informação e Comunicação - TICs para Pessoas com Deficiência". Disponível em http://www.edmarciuscarvalho.blogspot.com/ em 18 de setembro de 2010.